Mulheres lésbicas, inseminação caseira e maternidade: a escolha como resistência
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a63714Palavras-chave:
Inseminação Caseira, Maternidade, Mulheres Lésbicas, Escolha, Autonomia.Resumo
O artigo discute a inseminação caseira entre mulheres lésbicas, focando no conceito de “escolha” como exercício de poder e resistência em contextos minoritários. A metodologia empregada envolveu entrevistas de manejo cartográfico com nove mães lésbicas de classe média baixa que optaram pela inseminação caseira. Os resultados destacam que a escolha pelo método de inseminação caseira foi fortemente influenciada pela questão financeira e pelo desejo de manter o controle sobre o processo reprodutivo. Ademais, o método permitiu que essas mulheres mantivessem certa privacidade e autonomia, escolhendo os doadores de forma direta e mantendo ou não contato com eles, podendo optar. Observou-se que a inseminação caseira se configura também como uma forma de resistência às normas tradicionais de reprodução. Este método permite que mulheres lésbicas exerçam maior controle e tomem decisões que refletem seus valores pessoais e de família, apesar das complexidades e desafios legais e sociais que podem surgir, mesmo em um momento em que a maternidade lésbica é mais palatável socialmente. Embora a inseminação caseira emerja como um método significativo para muitas mulheres que buscam a maternidade dentro de relacionamentos lésbicos, proporcionando uma opção viável que alinha desejos pessoais com possibilidades práticas, ainda está submetida a decisões judiciais que apontam para a fragilidade dos laços legais e um certo desdém em relação a famílias constituídas por casais de mulheres.
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