Ser pesquisadora, ser testemunha: dilemas e potencialidades do fazer etnográfico em contextos de violência e criminalização

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a64185

Palavras-chave:

Etnografia, Violência, Testemunho, Reflexividade, Corporalidade.

Resumo

Neste artigo, tecemos um diálogo entre cinco etnógrafas que realizam pesquisas em contextos de violência, precariedade, criminalização e encarceramento. Partimos do pressuposto de que essas características não só tensionam as experiências e os cotidianos daquelas/es com quem interagimos, mas impactam e informam nossos campos e práticas de pesquisa, adquirindo uma dimensão produtiva. Com base na descrição de quatro cenas e de um relato de entrevista – marcadas por lugares, interlocutores e condições distintas –, expomos suas articulações por meio de três vetores analíticos, separados entre si como recursos heurísticos: a pesquisa como o testemunho, a reflexividade sobre o fazer etnográfico e a corporalidade das pesquisadoras. Conduzidas por esses eixos temáticos, realizamos um debate propositivo sobre dilemas e potencialidades epistemológicos, metodológicos e políticos de etnografar em contextos de violência e criminalização. Considerá-los na dimensão produtiva significa entender como o que nos é testemunhado se relaciona a nossas posições em campo e ao modo como nos comunicamos e nos fazemos entender em relação às expectativas e pressupostos que se relacionam a essas posições. O artigo demonstra como ser pesquisadora e testemunha da violência pode trazer dimensões produtivas tanto no âmbito da pesquisa científica quanto nos engajamentos e lutas cotidianas com interlocutores/as que vivenciam e reagem às situações de violência.

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Biografia do Autor

Ada Rízia Barbosa de Carvalho, Universidade de São Paulo

Doutoranda em Sociologia pela Universidade de São Paulo.

Isabela Vianna Pinho, Universidade Federal de São Carlos

Doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal de São Carlos.

Marcelli Cipriani, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Juliana Torres y Plá Trevas, Universidade Federal de Pernambuco

Doutora em Sociologia pela Universidade Federal Pernambuco.

Alana Barros Santos , Universidade Estadual de Campinas

Doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas.

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Publicado

2025-04-01

Como Citar

Carvalho, A. R. B. de, Pinho, I. V., Cipriani, M. ., Plá Trevas, J. T. y, & Santos , A. B. (2025). Ser pesquisadora, ser testemunha: dilemas e potencialidades do fazer etnográfico em contextos de violência e criminalização. Antropolítica - Revista Contemporânea De Antropologia, 57(1). https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a64185

Edição

Seção

Dossiê Temático