Ser pesquisadora, ser testemunha: dilemas e potencialidades do fazer etnográfico em contextos de violência e criminalização
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a64185Palavras-chave:
Etnografia, Violência, Testemunho, Reflexividade, Corporalidade.Resumo
Neste artigo, tecemos um diálogo entre cinco etnógrafas que realizam pesquisas em contextos de violência, precariedade, criminalização e encarceramento. Partimos do pressuposto de que essas características não só tensionam as experiências e os cotidianos daquelas/es com quem interagimos, mas impactam e informam nossos campos e práticas de pesquisa, adquirindo uma dimensão produtiva. Com base na descrição de quatro cenas e de um relato de entrevista – marcadas por lugares, interlocutores e condições distintas –, expomos suas articulações por meio de três vetores analíticos, separados entre si como recursos heurísticos: a pesquisa como o testemunho, a reflexividade sobre o fazer etnográfico e a corporalidade das pesquisadoras. Conduzidas por esses eixos temáticos, realizamos um debate propositivo sobre dilemas e potencialidades epistemológicos, metodológicos e políticos de etnografar em contextos de violência e criminalização. Considerá-los na dimensão produtiva significa entender como o que nos é testemunhado se relaciona a nossas posições em campo e ao modo como nos comunicamos e nos fazemos entender em relação às expectativas e pressupostos que se relacionam a essas posições. O artigo demonstra como ser pesquisadora e testemunha da violência pode trazer dimensões produtivas tanto no âmbito da pesquisa científica quanto nos engajamentos e lutas cotidianas com interlocutores/as que vivenciam e reagem às situações de violência.
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