Os pactos narcísicos da Academia: subalternidades, exclusões e violências
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a64387Palavras-chave:
Ensino superior, Violências institucionais, Desigualdades, Interseccionalidade, Subalternidades.Resumo
O presente artigo apresenta dois relatos de pesquisa sobre como o pacto narcísico da academia invisibiliza a produção teórica dos corpos subalternizados no ambiente acadêmico e de como reiteram violências que são ao mesmo tempo sentidas e pesquisadas. Ao situar a criação da universidade e os referenciais teórico-epistemológicos que a constitui, apresenta duas experiências de pesquisas distintas: um relato autoetnográfico e análise de narrativas midiáticas. Por meio da interpretação dos marcadores sociais da diferença e a partir de uma perspectiva interseccional, são apresentadas as diferentes estratégias de luta por reconhecimento, proteção e autopreservação de grupos subalternizados diante das dificuldades enfrentadas por eles, e pelos próprios pesquisadores, ao relatarem situações de violência sofridas no meio acadêmico. Ao problematizar sobre o pacto narcísico da branquitude proposto por Cida Bento, discorre-se sobre como os diferentes pactos narcísicos da academia, históricos e contemporâneos, modelam e regulam as relações de poder e produção intelectual na universidade, garantindo a perpetuação de privilégios e visibilidade, através de diversas formas de controle institucional, valendo-se de violência, exclusão e silenciamentos como mecanismos de controle e regulação das relações estabelecidas e, em contraposição, a urgência de romper com a invisibilidade e dar voz e reconhecimento aos excluídos e subalternos, garantindo e respeitando a sua subjetividade, a sua posicionalidade e o agenciamento que acionam para garantirem a sua sobrevivência e a de suas pesquisas nesse meio.
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