Ver e ser visto: política e territorialidade no Noroeste Amazônico
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a65342Palavras-chave:
Nadëb, Etnologia, Noroeste Amazônico, Gestão Territorial e Ambiental, Política Indígena.Resumo
Este artigo é uma contribuição ao debate a respeito da política indígena em torno dos direitos à terra, das ameaças e dos conflitos históricos que a permeiam. Para isso, o texto apresenta e analisa dados etnográficos de uma pesquisa realizada entre 2016 e 2023 junto ao povo Nadëb do Alto Uneiuxi, que habita tradicionalmente o Noroeste Amazônico brasileiro, no interflúvio dos rios Negro e Japurá (afluente do Solimões). Os Nadëb, ainda pouco conhecidos na literatura especializada, são caracterizados pela alta mobilidade espacial. O argumento se baseia em minha observação e participação em processos contemporâneos de manejo de recursos, autogestão do território e salvaguarda cultural, nos quais os indígenas estão envolvidos desde 2017. Ao descrever algumas etapas desses trabalhos, teço considerações sobre a socioespacialidade indígena levando em conta sua ligação com alguns acontecimentos históricos na região e, neste caminho, explicito aspectos da cosmopolítica do rio Uneiuxi. Proponho, ainda, algumas reflexões sobre o discurso indígena direcionado ao Estado e a outros atores quando estão em jogo seus direitos constitucionais relacionados à terra e as ameaças com as quais devem lidar. Finalmente, reflito sobre as alianças estabelecidas com não indígenas e algumas traduções que são construídas nesse processo para caracterizar o que atualmente meus interlocutores chamam de nadëb hëëj n’aa, “terra Nadëb”.
Downloads
Referências
ALBERT, Bruce; RAMOS, Alcida (org.). Pacificando o Branco: Cosmologias do contato no Norte Amazônico. São Paulo: Editora UNESP: Imprensa Oficial, 2002.
ANDRELLO, Geraldo. Iauaretê: transformações sociais e cotidiano no rio Uaupés (alto rio Negro / Amazonas). 2004. Tese (Doutorado em Antropologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.
CANÇADO, Wellington; MARQUEZ, Renata. Índice de miopia. In: FIRMINO, Rodrigo; BRUNO, Fernanda; KANASHIRO, Marta (org.). Vigilância, Segurança e Controle Social na América Latina. Curitiba: Editora Sulina, 2010. p. 538-564.
CAYÓN, Luis. Planos de vida e Manejo do mundo. Cosmopolítica do desenvolvimento indígena na Amazônia colombiana. Interethnic@: Revista de Estudos em Relações Interétnicas, Brasília, v. 18, n. 1, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.26512/interethnica.v18i1.15371. Acesso em: 19 jun. 2025.
CUNHA, Manuela Carneiro da. Por uma história indígena e do indigenismo. In: CUNHA, Manuela Carneiro da. Cultura com aspas. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 125-131.
EMPERAIRE, Laure; PERONI, Nivaldo. Traditional Management of Agrobiodiversity in Brazil: A Case Study of Manioc. Human Ecology, [s. l.], v. 35, p. 761–68, 2007.
EPPS, Patience; BOLAÑOS, Katherine. Reconsidering the Makú Language Family of Northwest Amazonia. International Journal of American Linguistics, Chicago, v. 83, n. 3, p. 467-509, 2017. Disponível em: https://www.journals.uchicago.edu/doi/epdf/10.1086/691586. Acesso em: 19 jun. 2025.
FAULHABER, Priscila. O lago dos espelhos: um estudo antropológico das concepções de fronteira a partir do movimento dos índios em Tefé/AM. 1992. Tese (Doutorado em Antropologia) – Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1992.
FEDERAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DO RIO NEGRO. Plano de gestão Indígena do Alto e Médio Rio Negro: PGTA Wasu. São Gabriel da Cachoeira: FOIRN, 2021.
FEDERAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS DO RIO NEGRO. Plano de gestão territorial e ambiental: Terra Indígena Uneiuxi. São Gabriel da Cachoeira: FOIRN, 2024.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública - 2022. São Paulo: FBSP, 2022.
FUNDAÇÃO NACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS. Projeto Integrado de Proteção e às Populações e Terras Indígenas da Amazônia Legal. Coletânea de Documentos da Terra Indígena Uneiuxi, 2010.
GOW, Peter. Of Mixed Blood: Kinship and History in Peruvian Amazonia. Oxford: Clarendon Press, 1991.
GOW, Peter. Ex-cocama: identidades em transformação na Amazônia peruana. Mana, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 57-79, 2003.
HUGH-JONES, Stephen. Escrita nas pedras, escrita no papel: (Noroeste da Amazônia). In: FAUSTO, Carlos; SEVERI, Carlos (org.). Palavras em imagens: Escritas, corpos e memórias. Marseille: OpenEdition Press, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.4000/books.oep.1274. Acesso em: 23 jun. 2025.
INGOLD, Tim. Lines – a brief history. Abingdon: Routledge, 2007.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Sistema agrícola tradicional do Rio Negro. Brasília: IPHAN 2019.
KOPENAWA, Davi; ALBERT, Bruce. A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
LÉVI-STRAUSS, Claude. História de Lince. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
LOPES, Nian Pissolati. Nomes da Transformação: Os Nadëb e os outros no Alto Uneiuxi. 2023. Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1983. Disponível em: http://objdig.ufrj.br/72/teses/949690.pdf. Acesso em: 23 jun. 2025.
MACHADO, Lia Osório. Limites e Fronteiras: da Alta Diplomacia aos Circuitos da Ilegalidade. Revista Território, Rio de Janeiro, ano V, n. 8, p. 7-23, 2000.
MEIRA, Márcio. A persistência do Aviamento: Colonialismo e história indígena no Noroeste Amazônico. São Carlos: EdUFScar, 2018.
MONTEIRO, Lirian Ribeiro; MCCALLUM, Cecília Anne. A noção de “bem viver” Hupd’äh em seu território. Mundo Amazônico, v. 4, p. 31-56, 2013. Disponível em: https://revistas.unal.edu.co/index.php/imanimundo/article/view/34838/0. Acesso em: 19 jun. 2025.
PINEDA, Roberto. Historia Oral y Proceso Esclavista en el Caqueta. Bogotá: Fundación de Investigaciones Arqueológicas Nacionales.1985.
PORRO, Antonio. O povo das águas: ensaios de etno-história amazônica. Petrópolis: Vozes, 1995.
POZZOBON, Jorge. Isolamento e endogamia: observações sobre a organização social dos índios Maku. 1983. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1983.
REID, Howard. Some aspects of movement, growth and change among the Hupdu Maku indians of Brazil. 1979. Tese (PhD em Antropologia) – University of Cambridge, Cambridge, 1979.
SANTOS-GRANERO, Fernando. Writing history into the landscape: space, myth, and ritual in contemporary Amazônia. American Ethnologist, [s. l.], v. 25, n. 2, p. 128-148, 1998.
SOUZA, Márcio. Amazônia Indígena. Rio de Janeiro: Record, 2015.
SWEET, David Graham. A rich realm of nature destroyed: the middle Amazon Valley, 1640-1750. Madison: University of Wisconsin, 1974.
TASTEVIN, Constant. Os Makú do Japurá. In: FAULHABER, Priscila; MONSERRAT, Ruth. Tastevin e a etnografia indígena. Coletânea de traduções de textos produzidos em Tefé (AM). Rio de Janeiro: Museu do Índio: FUNAI, 2014. [1923]. p. 79-89
TAUSSIG, Michael. Shamanism, colonialism, and the wild man: a study in terror and healing. Chicago: University of Chicago Press, 1986.
VIDAL, Silvia. Reconstrucción de los procesos de etnogénesis y de la reproducción social entre los Baré de Río Negro (Siglos XVI-XVIII). 1993. Tese (Doutorado em Antropologia) – Centro de Estudios Avanzados, Instituto Venezolano de Investigaciones Cientificas, Caracas, 1993.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. O medo dos outros. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 54, n. 2, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2011.39650. Acesso em: 19 jun. 2025.
ZANOTTI, Laura. Radical Territories in the Brazilian Amazon: The Kayapó’s Fight for Just Livelihoods. Tucson: The University of Arizona Press, 2016.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Nian Pissolati Lopes

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
O conteúdo da revista Antropolítica, em sua totalidade, está licenciado sob uma Licença Creative Commons de atribuição CC-BY (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt).
De acordo com a licença os seguintes direitos são concedidos:
- Compartilhar – copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato;
- Adaptar – remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial;
- O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
De acordo com os termos seguintes:
- Atribuição – Você deve informar o crédito adequado, fornecer um link para a licença e indicar se alterações foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer maneira razoável, mas de modo algo que sugira que o licenciante o apoia ou aprova seu uso;
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.