O Teleférico do Morro da Providência nas tramas das políticas de memória, patrimônio e imagem da favela no Rio de Janeiro
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a65651Palavras-chave:
Memória, Renovação urbana, Marketing urbano, Patrimônio cultural, Favela.Resumo
Partindo de uma etnografia do teleférico do Morro da Providência, esse artigo aborda as disputas por narrativas, imagens e memórias que surgem com a inserção das favelas nas políticas de marketing urbano do planejamento estratégico. A infraestrutura, construída nesta que é conhecida como a primeira favela do Brasil, fez parte do projeto de urbanização proposto pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro em 2009 que endossava a Providência como Patrimônio Cultural prevendo a construção de um Centro Histórico e Cultural e um circuito de visitação turística atrelado à política de renovação da zona portuária central. Proposto no contexto do Plano Estratégico da Cidade 2009-2012, que preparava o “Rio Olímpico” para recepção dos megaeventos, o projeto tinha o objetivo de tornar a Providência um exemplo de “ex-favela” transformando-a em bairro histórico, mas para isso executou diversas remoções na comunidade. Seguindo a trajetória do teleférico, esse trabalho reconstitui a genealogia da dinâmica de patrimonialização e turistificação da favela, desde o Museu a Céu Aberto nos anos 2000 até o projeto do teleférico nos anos 2010, seu abandono pós-2016 e recente retomada, refletindo sobre a tensão entre os projetos de turismo e militarização que permeiam a forma como as favelas vem sendo inseridas na política urbana municipal e aborda como espaços, narrativas, imagens e imaginários sobre o Morro da Providência estão sendo disputados por múltiplos atores.
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