A "conquista" de Anhanguera: situação de fronteira na Metrópole de São Paulo
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2010.1i28.a41579Keywords:
cidade de São Paulo, fronteira, periferia, conflito fundiário, movimentos sociais de moradia,Abstract
Durante a década de 1990, o distrito de Anhanguera, localizado no extremo noroeste do município de São Paulo, apresentou crescimento populacional muito superior ao apresentado no mesmo período para toda a cidade. Pesquisa de campo realizada na região, durante o início dos anos 2000, tomando como referência a história de vida dos moradores dos loteamentos clandestinos recém-implantados, revelou particularidades na forma daquela ocupação que desafiaram as categorias comumente utilizadas para pensar a dinâmica intraurbana das metrópoles brasileiras, sobretudo a dicotomia centro-periferia que, como procuro demonstrar, terminou por encobrir o conflito fundiário que em Anhanguera teve papel determinante, embora permanecesse à sombra das práticas correntes das anistias periódicas promovidas pelo poder público. Foi no processo de produzir espaço urbano, transformando a terra ainda rural do distrito de Anhanguera em terra urbana, passível de ser incorporada ao circuito do mercado imobiliário, que a população que para lá migrou deparou-se com a situação de fronteira, caracterizada pela situação de liminaridade da condição humana, pois, expulsa das possibilidades de apropriação no campo, também se viu expulsa das possibilidades de apropriação da cidade. Ao traçar a trajetória de vida dos moradores que “conquistaram” Anhanguera é que o pesquisador se vê desafiado a superar as dicotomias centro-periferia, mas também disciplinares, pois entende que o processo de expulsão é único e avança expropriando no campo e também na cidade, não restando às suas vítimas senão reproduzir a vida na fronteira do tempo suspenso entre dois mundos.
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