Chamada para submissão de artigos em dossiê (37ª ed., jul.-dez. 2022)

2022-02-16

História da saúde na América Latina (séculos XVI-XXI): instituições, sujeitos, debates e práticas.

Natália Ceolin (Universidad de Salamanca, Espanha)

Rhaiane Leal (Casa de Oswaldo Cruz, Brasil)

Não é novidade para historiadores que as conexões estabelecidas entre países da América Latina não se dão apenas pela proximidade territorial. A cultura política, passados baseados na experiência colonial, processos de independências, governos populistas e contextos ditatoriais são alguns dos pontos de interseção estabelecidos pela historiografia e pelas próprias dinâmicas que se desenrolaram. 

Durante a pandemia de Covid-19, essas aproximações se viram evidenciadas no debate acadêmico e na mídia em geral. É verdade que, as medidas tomadas por estes países divergiram de maneira significativa entre si e tiveram suas próprias realidades locais tomadas em consideração para a atuação governamental no combate ao Coronavírus. Contudo, um fator similar que vem chamando atenção dos cientistas sociais e historiadores é a maneira que as desigualdades sociais da região foram reveladas e acentuadas neste contexto. Consequência essa que o pesquisador Cueto (2020) atribui às políticas neoliberais no trato à saúde pública. 

Em relação à saúde na América Latina, o campo de pesquisa histórica passou por importantes renovações. As interrogações acerca do caráter local da produção de ciência médica afetaram a posição das, até então dominante, ciências ocidentais (Werner, Zimmermann, 2003) e abriram caminho para conhecer outras realidades da medicina. Cueto e Silva (2020) consideram que existem quatro perspectivas sobre a historiografia da saúde na América, são elas: “universalismo”, “recepção”, “redes internacionais” e o “giro global”. Recentes produções historiográficas, influenciadas principalmente pelas duas últimas perspectivas, percebem a América Latina a partir de suas complexas dinâmicas e de seu protagonismo na produção de conhecimento e práticas médicas. Vale destacar o trabalho de abordagem global de Steven Palmer (2015) e o trabalho sobre a Teoria da Circulação de Kapil Raj (2007) que superaram as categorias de “centro” e “periferia” e dinamizaram as fronteiras nacionais. Assim como, romperam com interpretações difusionistas que consideravam a região como altamente dependente dos saberes europeus, representadas pelo trabalho The spread of western science de George Basalla publicado na revista Science em 1967.

Dessa forma, outras práticas, saberes e sujeitos foram percebidos como temas de estudo para a História da Saúde. Dentre eles, os conhecimentos indígenas sobre uso de ervas medicinais, terapias homeopáticas, iniciativas não formais de assistência à saúde (Porter, 1999) e outros ofícios vinculados à cura, como os de barbeiros, enfermeiros, sangradores e religiosos. Consideramos que essa mudança de perspectiva científica em relação à América Latina, faz parte do advento desses novos objetos e problemas de pesquisa da historiografia. 

Tendo em conta a pluralidade do campo, o dossiê História da Saúde na América Latina séculos XVI-XXI abre chamada para discentes nacionais e internacionais interessados pelas diversas possibilidades de estudos sobre o tema a contribuírem com suas pesquisas. Destacamos aqui a possibilidade de estudos locais, regionais, nacionais, comparativos ou globais. Para se pensar as instituições, sujeitos, debates e práticas da saúde, o recorte temporal foi definido entre os séculos XVI e XXI, desde a conquista das Américas até o tempo presente. 

Estamos cientes que, por conta da pandemia que estamos vivendo, as investigações históricas se viram impactadas de diversas formas. De maneira prática, muitas pesquisas foram paralisadas porque arquivos e bibliotecas tiveram suas portas fechadas devido a crise sanitária. Ao mesmo tempo, se pôde observar certo aumento no interesse por parte tanto de historiadores quanto da sociedade civil pelos estudos sobre saúde em perspectiva histórica. Visto que, como bem evidencia o célebre trabalho de Rosenberg (1992), o enfrentamento de uma doença ou epidemia é uma oportunidade para compreender os problemas estruturais, políticos e econômicos. 

Prazo para submissão: 30 de abril de 2022 (23h59min, horário de Brasília, UTC/GMT -03:00)