Chamada para submissão de artigos em dossiê (38ª ed., jan.-jun. 2023)

2022-05-22

Os usos do passado na escrita da história

Ana Elisa Arêdes (Universidade do Porto)

Mareana Mathias (UFRJ)

No presente, discursos produzidos por projetos estéticos e culturais e por programas políticos e institucionais continuam a buscar na(s) narrativa(s) histórica(s) respostas que produzem coesão social e que identificam o presente no passado e vice-versa. No entanto, essa prática não é inédita, recente ou restrita às dinâmicas que observamos na contemporaneidade. Na história do Brasil, os exemplos mais ilustres repousam nas diversas tentativas institucionais de criação de identidade(s) para o país pautadas em uma escrita da história nacional e que servisse a modelos de organização político-social, como o modelo monárquico, quando o Brasil se tornou independente (COSTA, 2019; GUIMARÃES, 2007); e o modelo republicano federativo com diversas especificidades relacionadas aos projetos políticos após a proclamação da república (GERTZ, 2017; ZAMORANO, 2017).

Recorrer ao “passado” para buscar respostas a demandas do presente e fixar premissas argumentativas que encaixam o “passado” em projetos e programas delineados são operações que pertencem à(s) escrita(s) da história em diversos contextos e sociedades. Usando essas operações, movimentos políticos e estéticos, assim como práticas de patrimonialização e de construção de acervos arquivísticos e projetos institucionais e políticos elaboram narrativas que buscam nos acontecimentos a singularidade de um(ns) grupo(s) e a continuidade do passado no presente. Essas narrativas agrupam e transformam “fatos” em enredo e disseminam-se, de diversas formas e em distintos grupos sociais, competindo pelo status de verdadeira (FOUCAULT, 1996; HARTOG, 2011).

Concorrentes, aliadas ou independentes, as narrativas participam de disputas de representação de poder e usam diversos artifícios de legitimação, internos e externos ao discurso (CHARTIER, 2014; CHARBEL & AZEVEDO, 2008). Por sua vez, esses dispositivos de legitimação podem, por exemplo, servir-se da elaboração de objetos culturais – como textos escritos, iconográficos, musicais e audiovisuais – ou da significação daqueles já existentes; da organização de espaços físicos; e da fixação de modelos de conduta social.

No campo historiográfico, os trabalhos que analisam disputas narrativas e usos do passado articulam diversas áreas e perspectivas, bem como contribuem para a discussão e o refinamento de categorias analíticas. A relevância do debate sobre as disputas narrativas e os usos do passado repousa não somente na centralidade do tema para a epistemologia da História, como também na importância do tema para as sociedades atuais, que vivenciam constantes crises e intensos fluxos de informação. Neste caso, podemos elencar como exemplo os debates sobre a elaboração de museus e exposições sobre a escravidão atlântica (ARAUJO, 2021).

Com essas questões em vista, a Revista Cantareira abre chamada de artigos para o dossiê temático “Os usos do passado na escrita da história” e, assim, convida pesquisadores, graduandos e pós-graduandos a apresentarem artigos inéditos que analisam disputas e usos do passado a serviço de projetos estéticos e culturais e/ou programas políticos e institucionais. Interessa a esse dossiê reunir trabalhos desenvolvidos em diversas áreas da historiografia que abordem questões sobre a construção e os usos de narrativas sobre acontecimentos e períodos históricos determinados.

Aos que tiverem interesse em apresentar os seus artigos para a edição, as informações referentes às normas para publicação estão disponíveis no link: https://drive.google.com/file/d/1UhPq30g0fXOrK3amnTj_coUyTM1AkNfy/view. As contribuições devem ser enviadas, exclusivamente, via sistema OJS. Os artigos serão submetidos ao processo de avaliação pelos pares (https://periodicos.uff.br/cantareira/about) e, aqueles que forem aprovados, serão publicados na edição 2023/1.

Prazo para submissão: 30 de setembro de 2022 (23h59min, horário de Brasília, UTC/GMT -03:00)