A desinformação como prática política em contexto de crises climáticas: entre a profusão conceitual e a polarização nas redes sociais

Resumen

A circulação de informações falsas é com frequência abordada por meio de diversas categorias, como desinformação, fake news, pós-verdade e boato. Na Comunicação Social, tem-se consolidado a perspectiva da desordem informacional. Já outras disciplinas, como Linguística, Filosofi a e Saúde Coletiva, terminologias como fake news, infodemia e pós-verdade são recorrentes. Tal diversidade conceitual reflete a complexidade de um cenário marcado pela transformação do ecossistema informacional, pela crise do discurso especializado e pela intensificação da polarização política. As perguntas que mobilizam este trabalho são: como essa diversidade conceitual se expressa na conversação em plataformas de redes sociais? A discussão pública não-especializada tem acompanhado o debate acadêmico. Assim, este trabalho traça paralelos entre os conceitos de desinformação formulados na prática científica e a conversação nas redes sociais. Primeiramente, mapeia os consensos e dissensos na literatura acadêmica, a partir de uma revisão sistemática de textos indexados pela SciELO entre 2016 e 2024. Depois, testa como esses consensos e dissensos foram mobilizados a partir de um corpus de mais de 5 mil postagens multiplataforma (extraídas do X, Instagram e Facebook) que abordam os embates sobre o que era considerado desinformação ou não durante as inundações do Rio Grande do Sul em 2024. Por fim, avalia como as categorias são usadas para defender ou atacar pontos de vista políticos, mostrando como a legitimação dos conceitos de desinformação e informação são hoje dependentes do processo de disputa política.