“Eu tenho a fama de ser um pouco transgressora!”: perspectivas interseccionais de enfermeiras negras

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/resa2024.v17.a58932

Palavras-chave:

psicologia social, divisão sociossexual e racial do trabalho, interseccionalidade, decolonialidade

Resumo

Este estudo utilizou o referencial teórico-metodológico dos feminismos interseccionais, concebendo a necessidade de problematizar as discriminações e opressões de gênero, raça, classe, formação profissional e outras, como fenômenos do campo da psicologia social. O objetivo deste trabalho foi analisar a percepção de enfermeiras que se autodeclaram negras com relação às hierarquias de saberes e poderes no trabalho de cuidado na saúde. Foram entrevistadas sete profissionais de enfermagem que atuam/atuaram em unidades hospitalares do SUS do Estado do Rio de Janeiro desde março de 2020 até o momento da realização do campo. Os resultados foram divididos em duas categorias analíticas: 1. “O Médico é o semideus!” e o “Doutor sem doutorado!”; 2. Hierarquias de saberes-poderes e relações raciais na saúde. Os resultados mostraram que, segundo a percepção das mesmas, a categoria médica ainda exerce uma hegemonia discursiva, principalmente em hospitais gerais e hospitais psiquiátricos. As enfermeiras que exercem posição de chefia/liderança relataram experiências de discriminação ligada a gênero, raça, classe profissional entre outras, e que reagem a estas por meio de uma postura de confrontação e combate às estruturas racistas e sexistas. A pesquisa mostrou a necessidade de se problematizar a divisão sociossexual e racial do trabalho na saúde e suas implicações, de reconhecer o protagonismo das mulheres negras nas pesquisas, e também a importância da atuação destas mulheres no cuidado em saúde no SUS.

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Biografia do Autor

Paolla Pinheiro Mathias, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Psicóloga Hospitalar com formação no Programa de Residência Multiprofissional do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - HUCFF (2024); Mestre em Psicologia Social, pelo Programa de Pós Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - PPGPS UERJ (2022); Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca - ENSP /FIOCRUZ (2019), Psicóloga Especialista em Saúde da Mulher pelo Programa de Residência Multiprofissional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) no Instituto de Atenção a Saúde São Francisco de Assis- HESFA UFRJ (2019). Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2017). Tem experiência na área de Psicologia, atuando nas áreas : Psicologia da Saúde, Saúde Coletiva no âmbito do SUS, Psicologia Hospitalar, Violência doméstica e intrafamiliar e Relações Raciais; Atualmente Psicóloga Clínica de orientação da terapia cognitivo-comportamental, comprometida com uma clínica afrocentrada.Possui interesse nas áreas : Saúde da Mulher, Psicologia Hospitalar, Violências Interseccionais, Saúde da População Negra, Gênero e Processos de Subjetivação; Estudos Feministas Interseccionais; Políticas e Programas de Saúde no âmbito do SUS.

Amana Rocha Mattos, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Amana Mattos é professora associada do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), e professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social (PPGPS/Uerj). Possui Graduação em Psicologia (2003), Mestrado em Psicologia (2006) e Doutorado em Psicologia (2011) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fez Estágio Doutoral no Exterior pela CAPES, na Rutgers University, EUA, e Pós-Doutorado na Universidade do Porto (2018). Coordena o DEGENERA - Núcleo de Pesquisa e Desconstrução de Gêneros/UERJ. É pesquisadora Procientista da Uerj e Jovem Cientista do Nosso Estado (FAPERJ). Desde 2023, é Senior Research Fellow in Education na School of Environment Education and Development, em The University of Manchester, UK. Editora chefe da revista Estudos e Pesquisas em Psicologia de 2020 até o presente momento. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Social, principalmente nos seguintes temas: estudos de gênero e sexualidade; teorias feministas interseccionais; subjetivação política; estudos da infância e juventude.

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Publicado

2024-04-22

Como Citar

Mathias, P. P., & Mattos, A. R. (2024). “Eu tenho a fama de ser um pouco transgressora!”: perspectivas interseccionais de enfermeiras negras. Ensino, Saude E Ambiente, 17, Publicado em 22/04/2024. https://doi.org/10.22409/resa2024.v17.a58932

Edição

Seção

Dossiê Interseccionalidades