Cidade acessível: igualdade e singularidade da deficiência visual
Resumo
A maior parte das discussões acerca das deficiências (motoras e sensoriais) tende a tomar uma de duas direções. A primeira delas se refere às políticas de inclusão que, focadas no direito das pessoas com deficiência, enfatizam a igualdade entre deficientes e não deficientes. A segunda direção vai em sentido oposto e destaca a diferença. Sob tal perspectiva, na maioria das vezes a deficiência é vista como um déficit, um empecilho, desconsiderando o que ela tem de potência de recriar a subjetividade, de aprender e conhecer, de se relacionar e habitar a cidade. Numa orientação mais interessante, a pessoa com deficiência é vista como portadora de necessidades especiais. No campo da deficiência visual, estudos cognitivos apontam para as particularidades do cego, atentando também para suas potencialidades. A diferença cognitiva entre cegos e videntes diz respeito ao modo como eles se movimentam e sua percepção do espaço, o que tem conseqüências para a locomoção na cidade. A especificidade da pessoa com deficiência visual se dá não como efeito de uma falta de competência cognitiva espacial, mas como decorrente da ausência de dados perceptivos provenientes do ambiente. Para os videntes, o que permite se locomover no espaço de maneira organizada é a relação entre movimentos realizados e as progressivas mudanças de distância e direção entre os objetos e si mesmo. Para os deficientes visuais não há um fluxo visual contínuo, mas um significativo embasamento em outros sentidos, como tato, audição e propriocepção. Numa cidade feita prioritariamente para os que enxergam surgem diversas dificuldades para os cegos. Dessa forma, o projeto teve como objetivo investigar três situações do cotidiano: pegar um ônibus, atravessar uma rua e desviar de um orelhão. Visou-se observar de que maneira essas situações se dão, que dificuldades podem surgir e quais os dispositivos e estratégias criadas. As observações foram feitas nos arredores do Instituto Benjamin Constant e do Campus da Praia Vermelha da UFRJ. Foram também realizadas entrevistas-passeio com os próprios deficientes visuais. Ao final, foi realizada uma discussão sobre de que forma a acessibilidade ocorre nos contextos investigados, considerando tanto a situação da cidade quanto a do usuário deficiente visual. Concluiu-se que os direitos são para todos, mas para que a igualdade seja alcançada é preciso criar condições que atendam as singularidades do deficiente.Downloads
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