Concerto de Feras: a Vocalização do Devir-Animal em A Confissão da Leoa (2012), de Mia Couto, e O Som do Rugido da Onça (2021), de Micheliny Verunschk

Autores

Palavras-chave:

Literatura Comparada, A confissão da leoa, O som do rugido da onça, Animalidade, Devir-animal

Resumo

Com base no conceito de devir-animal, elaborado por Gilles Deleuze e Félix Guattari (1997), buscamos, neste trabalho, desenvolver um exercício de crítica comparatista entre os romances contemporâneos A confissão da leoa (2012), do moçambicano Mia Couto, e O som do rugido da onça (2021), da escritora brasileira Micheliny Verunschk. Em comum, os dois textos empreendem a recuperação de temáticas e procedimentos mobilizados no conto “Meu tio o Iauaretê” (2001 [1961]), de João Guimarães Rosa. Semelhante ao contágio vivenciado pelo onceiro da narrativa roseana, que de matador de onças passa a defensor desses felinos,
irmanando-se a esses animais, as duas narrativas em análise representam um movimento em
direção a subjetividades não humanas experienciadas por suas personagens. Historicamente, o pensamento ocidental desenvolveu diversos mecanismos ideológicos para efetuar a separação entre o Homo sapiens e os outros viventes animais. A isso, atrela-se o processo de desumanização dos sujeitos colonizados, uma das ferramentas manipuladas pelo projeto imperialista. Como contraponto a essas perspectivas, Mia Couto e Micheliny Verunschk incorporam, em seus textos, discursos que possibilitam a abertura para outras perspectivas sobre a vida. Nos romances, verifica-se o tensionamento das fronteiras interespecíficas, uma vez que, por vias ficcionais, se efetiva o cruzamento dos limites entre o humano e o não humano. Para Mariamar e Iñe-e, protagonistas dos romances, o encontro com as figuras da onça e da leoa, grandes predadores dos dois continentes que ambientam as narrativas, possibilita o acesso a uma animalidade silenciada pelos dispositivos de opressão.

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Biografia do Autor

Júlio César de Araújo Cadó, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Júlio César de Araújo Cadó é graduado em Letras - Língua Portuguesa (licenciatura) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Atualmente, é mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem (PPgEL), na área de Literatura Comparada, também pela UFRN, desenvolvendo pesquisa sobre a presença dos animais e das formas da animalidade na obra de João Cabral de Melo Neto. Sobre o poeta pernambucano, publicou, recentemente, os artigos “Roca das horas: o trem e o rio como imagens do tempo na poesia de João Cabral de Melo Neto” e “Habitar o poema: personagens e cenas de uma Espanha cabralina”. Seus interesses de pesquisa estão relacionados aos estudos das literaturas de língua portuguesa e das literaturas africanas, em diálogo com os campos da Ecocrítica e dos Estudos Animais. 

Juliane Vargas Welter , Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Juliane Vargas Welter é professora de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Mestra e Doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pesquisando as relações entre a literatura e a ditadura militar brasileira, seus interesses de pesquisas atuais se centram especialmente nos estudos sobre literatura brasileira contemporânea e suas articulações com as categorias memória e esquecimento. Assim, no momento, coordena projeto de pesquisa intitulado “Narrar é resistir?: literatura brasileira contemporânea e memória, uma análise preliminar”.  Entre suas publicações mais recentes destacam-se os artigos "Traumas, memórias e dramas familiares: aspectos da literatura contemporânea escrita por mulheres" e "Fantasmas do passado, dilemas do presente".

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Publicado

2023-06-01

Como Citar

Cadó, J. C. de A., & Welter , J. V. . (2023). Concerto de Feras: a Vocalização do Devir-Animal em A Confissão da Leoa (2012), de Mia Couto, e O Som do Rugido da Onça (2021), de Micheliny Verunschk. Gragoatá, 28(61), e56312. Recuperado de https://periodicos.uff.br/gragoata/article/view/56312