Do resgate das vozes silenciadas ao cosmopolitismo decolonial
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v29i65.61354.ptPalavras-chave:
Cosmopolitismo Decolonial, Gramática Decolonial, (Des)pertença, Resistência, ReparaçõesResumo
O surgimento da literatura portuguesa de autoria afrodescendente na segunda década do século XX constitui um marco na literatura portuguesa pós-colonial e a sua receção indica que tem ganho cada vez mais reconhecimento público. Mais recente é a visibilidade da literatura produzida pela diáspora brasileira indígena em Portugal. Tanto uma como a outra tem sido, na sua esmagadora maioria, de autoria de mulheres. Partindo de teorias decoloniais, o presente artigo explora Memórias Aparições Arritmias (2021), de Yara Nakahanda Monteiro, e Ixé Ygara voltando pra’Y’Kûá (2021), de Ellen Lima, para argumentar que: (1) em ambas as escritas, encontramos sentimentos semelhantes de (des)pertença; (2) e que a escrita se enquadra numa práxis decolonial que desconstrói os assombramentos do imaginário colonial e imperial que ainda persistem. A autoria brasileira indígena confere densidade temporal a uma modernidade colonial em língua portuguesa e expande as discussões que têm sido desenvolvidas em torno das implicações da escrita portuguesa afrodescendente. Sugere-se a possibilidade de pensar um cosmopolitismo decolonial que permita maneiras pluriversais de pensar o mundo em língua portuguesa e defende-se que, em última análise, a escrita portuguesa afrodescendente e brasileira indígena produzida em Portugal permitem pensar até que ponto a literatura pode contribuir para uma discussão sobre reparações.
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