Translinguagem, educação (não) inclusiva e políticas linguísticas: reflexões sobre o ensino de inglês no Brasil a partir da perspectiva de duas alunas surdas
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v30i66.63033.ptPalavras-chave:
Ensino de língua inglesa, Políticas linguísticas, Educação inclusiva, Translinguagem, SurdosResumo
Discussões e estudos sobre aquisição de línguas adicionais têm ganhado considerável visibilidade na agenda acadêmica e nos espaços educacionais. Contudo, a realidade brasileira ainda impõe dificuldades ao processo de ensino-aprendizagem de línguas adicionais por estudantes surdos. Nesse sentido, este artigo tem como objetivo analisar as concepções de duas alunas surdas matriculadas em escolas públicas do Recife, Pernambuco, sobre o ensino de inglês para surdos. Para tanto, baseamos nossas discussões em Calvet (2007), Wei (2017), Barbosa, Freire e Medeiros (2018), Souza (2021), Almeida (2021, 2023) e Almeida e Moraes (2024), entre outros. Com o intuito de compreender significados, motivos, crenças e valores relacionados à aquisição da língua inglesa por alunos surdos do ensino fundamental e médio, esta pesquisa é descritiva qualitativa, segundo Triviños (1987). Os resultados apontam para o fato de que ainda há um longo caminho a percorrer para a construção de um sistema educacional que seja, de fato, inclusivo - tanto no sentido das políticas linguísticas e educacionais como das praxeologias -, e que os espaços educacionais devem oferecer acesso e permanência para alunos com deficiência, além de atendimento educacional especializado para complementar ou suplementar a assistência escolar quando necessário.
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