O chapéu de Beckett

Autores

  • Helena Martins PUC-Rio

Palavras-chave:

Beckett. Linguagem. Metáfora. Perspectivismo

Resumo

Este texto encontra na escrita de Samuel Beckett ocasião para pensar a linguagem, o sentido, a metáfora. Concentra-se na tensão entre o resoluto empenho do escritor em afastar-se de toda lingua­gem figurada e sua igualmente decidida disposição para a provocação simbólica: seus textos não cessam de convidar a leituras figurativas, ainda que somente para escapulir a elas, frustrá-las, suspendê-las sistematicamente. Não raro, essa estratégia é tomada como sinal de um radical ce­ticismo linguístico: Beckett estaria evidenciando a ausência de qualquer hors-text, revelando o caráter, em última instância, autorreferente da linguagem. Busca-se aqui uma outra maneira de reclamar o legado do escritor, um ângulo sob o qual a linguagem possa emergir mais radical­mente dissociada da referência, porque afastada até mesmo da autorreferência. Assim orientado, o trabalho enfoca um importante dispositivo beckettiano de provocação simbólica, a saber, a ênfase recorrente dada a certos objetos. Privilegia-se a insistência de Beckett no chapéu. Mostra-se que suas provocações figurativas em torno desse objeto nos dão oportunidade para ver a relação entre as palavras e as coisas, e entre o literal e o metafórico, de uma forma que apresenta afinidades surpreendentes com o perspectivismo, assim como elaborado pelo antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, em suas reflexões acerca do pensamento e da vida dos povos ameríndios.

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Biografia do Autor

Helena Martins, PUC-Rio

Doutora em Linguística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, é pro­fessora e pesquisadora do Departamento de Letras da PUC-Rio. Interessada nas conexões entre os estudos da linguagem, a filosofia e a literatura, tem publicado artigos e capítulos de livro sobre temas que incluem a metáfora, a tradução, o ceticismo linguístico, o pensamento de Wittgenstein e de Stanley Cavell, e as literaturas de Beckett e Guimarães Rosa. Trabalha eventualmente também como tradutora, sobretudo na área de filosofia (títulos traduzidos incluem A vida do espírito, de Hannah Arendt, e os dicionários Wittgenstein e Descartes, da Coleção Blackwell de Dicionários Filosóficos).

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Publicado

2009-06-30

Como Citar

Martins, H. (2009). O chapéu de Beckett. Gragoatá, 14(26). Recuperado de https://periodicos.uff.br/gragoata/article/view/33128