Paisagem com mulher e mar ao fundo: como esquecer os fluxos e refluxos das ondas?
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v26i55.47650Resumen
Partindo do princípio de que “a história e a arte ensinam que a revolta costuma nascer do luto e se propaga num turbilhão que mistura lamentos pessoais e coletivos, o próximo e o distante, numa extraordinária emoção coletiva”, Georges Didi-Huberman, filósofo e historiador da arte, no artigo “Ondas, torrentes e barricadas”, publicado na Revista Serrote do Instituto Moreira Salles, nos mostra como as sublevações ou insurreições políticas (“potências” ou “ondas”), de modo gradativo e imperceptível, tornam-se capazes de fazer erodir um poder constituído que se julgava inamovível (“barragens” ou “falésias”). E é exatamente isso que iremos encontrar em Paisagem com mulher e mar ao fundo, romance de Teolinda Gersão, uma das mais consagradas escritoras portuguesas contemporâneas, reeditado em 2019: a presença de uma revolta popular, em uma aldeia à beira-mar plantada, sitiada por Instituições e imagens-ícone do fascismo, na época do governo de António de Oliveira Salazar. O romance em questão, ao tematizar, metaforicamente, a Revolução de Abril de 1974, problematiza os conceitos de distopia e utopia, põe em cena “o circuito dos afetos, os corpos políticos e o desamparo”, o que, na ótica de Vladimir Safatle, promove “o fim do indivíduo”, circunscrevendo-o como um agente de transformação social.
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