“Apenas uma garota”: Greta Thunberg e os enquadramentos da raiva

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/rmc.v14i1.38686

Palavras-chave:

Mídia, Infância, Raiva, Medicalização, Gênero.

Resumo

Neste artigo, examinamos como distintas noções de infância são usadas para invalidar, justificar ou enaltecer a liderança política de Greta Thunberg, de 16 anos, que se notabilizou pelo seu ativismo ambiental – especialmente, após a participação na Cúpula do Clima, realizada pela Organização das Nações Unidas. Ainda que sua idade remeta a outras classificações etárias, a infância é mencionada, com frequência, tanto por seus defensores quanto por seus detratores. O corpus da investigação é composto por artigos de opinião e por reportagens, publicadas na mídia brasileira, em 2019. Na análise do material, ressaltamos três eixos do debate sobre a legitimidade da atuação pública da estudante sueca: 1) a autonomia e a relevância do discurso infantil; 2) idealizações da infância e da juventude feminina como naturalmente esperançosas e afáveis; 3) a medicalização da revolta, a partir do estabelecimento de um nexo causal entre o transtorno mental de Greta Thunberg, diagnosticada com síndrome de Asperger, e a veemência de suas críticas. Argumentamos que os embates discursivos sobre a ativista sueca revelam a fragilidade da concepção da criança como sujeito e a inserção restritiva da criança nos atuais regimes de regulação das emoções.

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Biografia do Autor

Henrique Mazetti, Departamento de Comunicação Social - UFV

Professor adjunto do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Viçosa. Doutor em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ, onde também realizou pós-doutorado júnior, com bolsa do CNPq. Integrante do Núcleo de Estudos de Mídia, Emoções e Sociabilidade (NEMES).

João Freire Filho, ECO/UFRJ

Professor associado da Escola de Comunicação da UFRJ. Doutor em Literatura Brasileira pela PUC-Rio. Realizou pós-doutorado sênior, com bolsa do CNPq, no PPGCOM da UFMG. Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq (PQ-1D). Ministrou cursos como professor convidado nos programas de pós-graduação da UFBA, UFMG, PUC-RS, UFSM e UFRN. Recebeu, em 2011 e em 2018, o Prêmio Compós como orientador da melhor tese. Autor e organizador de diversos livros, dentre eles: Reinvenções da resistência juvenil: os estudos culturais e as micropolíticas do cotidiano (Mauad, 2007); A TV em transição: tendências de programação no Brasil e no mundo (Sulina, 2009); Ser feliz hoje: reflexões sobre o imperativo da felicidade (FGV, 2010). Coordenador do Núcleo de Estudos de Mídia, Emoções e Sociabilidade (NEMES).

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Publicado

2020-02-19

Como Citar

Mazetti, H., & Freire Filho, J. (2020). “Apenas uma garota”: Greta Thunberg e os enquadramentos da raiva. Mídia E Cotidiano, 14(1), 7-31. https://doi.org/10.22409/rmc.v14i1.38686