Considerações sobre a ética médica na prescrição de cannabis medicinal no Brasil

Authors

  • Marcos Yuri de Abreu Ramos Universidade Federal Fluminense
  • Isabela Coimbra Ladeira Morais Universidade Federal Fluminense
  • Rodrigo Gonçalves de Souza Universidade Federal Fluminense
  • Ismar Araujo de Moraes Universidade Federal Fluminense

DOI:

https://doi.org/10.22409/nes.v2i2.67665

Keywords:

Bioética, Cannabis medicinal, Ética médica

Abstract

Introdução: Apesar de evidências científicas apontarem a eficácia de compostos derivados da Cannabis sativa, como o canabidiol, para o tratamento de condições como epilepsia refratária, dores crônicas e distúrbios neurológicos, o debate sobre o uso medicinal da planta no Brasil é marcado por tensões históricas, legais e culturais. Assim, o país enfrenta desafios na regulamentação e estigmas morais que dificultam um debate acadêmico amplo. Em paralelo, verifica-se um crescente mercado atrelado ao uso terapêutico do insumo, que
movimentou nos últimos anos cifras milionárias. Diante desse cenário, ganham relevância discussões éticas sobre a prescrição médica dos produtos oriundos da planta. Objetivo: Este artigo se propõe a uma análise sobre os desafios éticos envolvidos na prescrição medicinal da cannabis no Brasil. Conclusão: Embora o país avance na regulamentação, com a Anvisa e o judiciário permitindo o uso controlado de alguns subprodutos, persistem obstáculos como restrições legais, prescrições off-label e resistências conservadoras. Os Princípios Bioéticos e o Código de Ética Médica exigem que os profissionais equilibrem benefícios e riscos, respeitando a autonomia do paciente e evitando conflitos de interesse. É essencial que o Conselho Federal de Medicina promova debates mais abrangentes e que o Estado estabeleça uma normatização alinhada com as evidências científicas. Superar esses obstáculos é crucial para garantir o acesso de pacientes aos potenciais terapêuticos da planta de forma segura e responsável.

Author Biographies

  • Marcos Yuri de Abreu Ramos, Universidade Federal Fluminense

    Graduação em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj, 2017). Pós-graduado em Direito Público e Privado por meio da pós-graduação lato sensu "O Ministério Público e as Novas Ferramentas do Direito Contemporâneo" da Fundação Escola Superior do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (Femperj). Curso dos créditos da pós-graduação lato sensu "Tutela Coletiva e Políticas Públicas" do Instituto de Educação Roberto Bernardes Barroso do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (IERBB/MPRJ). Experiência profissional na advocacia privada e em assessoria jurídica aos órgãos de execução do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente, graduando em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

  • Isabela Coimbra Ladeira Morais, Universidade Federal Fluminense

    Graduação em andamento em Medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF), possui Ensino Médio e Técnico em Informática pelo Instituto Federal Fluminense (IFF). Membro do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), inscrita como estudante. Monitora de Neuroanatomia, diretora de pesquisa da Liga de Radiologia da UFF (LiRA), estudante de Iniciação Científica do Departamento de Radiologia e Diagnóstico de Imagem da Faculdade de Medicina da UFF (MRD) e Bolsista de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do CNPq. Foi diretora de pesquisa e extensão da Liga Acadêmica Multiprofissional de Saúde Mental e Psiquiatria da UFF (LiPsi), vice-presidente da Liga Acadêmica de Anatomia Humana Clínica e Cirúrgica (LAAHCC) da Universidade Federal de Juiz de Fora campus Governador Valadares (UFJF GV), monitora de anatomia humana básica, anatomia topográfica da cabeça e pescoço e histologia humana básica. Participou como bolsista de extensão em projetos de divulgação científica e ensino na UFJF-GV e na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

  • Rodrigo Gonçalves de Souza, Universidade Federal Fluminense

    Experiência em Análise de instalações offshore. Engenheiro Civil, cursando Medicina 

  • Ismar Araujo de Moraes, Universidade Federal Fluminense

    Possui graduação em Medicina Veterinária 1983), mestrado em Medicina Veterinária na área de Cir. e Clínica Veterinária (1991) e doutorado em Patologia (2004), todos pela Universidade Federal Fluminense. Na UFF, atualmente é Diretor do Instituto Biomédico, e Professor Titular de Fisiologia Veterinária do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal Fluminense. Foi Coordenador de Integração Acadêmica na PROEX-UFF e subchefe do Departamento de Fisiologia e Farmacologia. Tem experiência na área de Fisiologia com ênfase em Fisiologia e Reprodução Animal atuando no ensino presencial e na geração de instrumentos aplicáveis ao ensino à distância. Atua na extensão universitária da UFF como coordenador do Portal de Videoaulas da UFF e do Programa de educação, saúde e bem-estar do Instituto Biomédico que engloba temas tais como: higiene e segurança de alimentos, ética em veterinária, biossegurança em ambientes coletivos e geração e disponibilização de recursos na internet para o ensino e reciclagem de profissionais. Tem expertise nas áreas: Fisiologia Animal, Vigilância Sanitária, Segurança de alimentos e Ética Profissional em Medicina Veterinária, Biomedicina e Medicina. Foi conselheiro titular em três gestões do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio de Janeiro (CRMV-RJ) no qual atuou como coordenador do setor de processos éticos, presidente da comissão de divulgação e publicidade e presidente e também membro da comissão de saúde pública. No Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) foi presidente da Comissão Nacional de Ética e Legislação (2018-2019) e presidente do Grupo de Trabalho Técnico Jurídico do CFMV (2018-2023).

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Published

2025-06-02

Issue

Section

Artigo Livre

How to Cite

Considerações sobre a ética médica na prescrição de cannabis medicinal no Brasil. Neurociências & Sociedade, Rio de Janeiro, Brasil, v. 2, n. 2, p. e225002, 2025. DOI: 10.22409/nes.v2i2.67665. Disponível em: https://periodicos.uff.br/neurocienciasesociedade/article/view/67665. Acesso em: 5 dec. 2025.

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