Esta é uma versão desatualizada publicada em 2020-12-23. Leia a versão mais recente.

MAIS ALÉM DOS TRANSOTRNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO: Desdobramentos para a infância e a educação

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/mov.v7i15.42885

Palavras-chave:

Neurodesenvolvimento, Psiquiatria, Infância, Educação

Resumo

A publicação do DMS-5 em 2013, embora marcada por uma série de críticas, introduziu um novo capítulo, intitulado de “Transtornos do Neurodesenvolvimento”, que foi recebido como uma espécie de promessa da psiquiatria contemporânea.  A lógica mais ampla articulada a este grupo diagnóstico, ao abarcar uma série de quadros iniciados na infância sob a égide de uma etiopatogênese ligada ao desenvolvimento neuronal, aponta para novos direcionamentos no campo da psiquiatria, tal como o projeto Rdoc. O objetivo deste artigo é apresentar, por meio de bibliografia selecionada, a perspectiva neurodesenvolvimentista articulada à ascensão dos “Transtornos do Neurodesenvolvimento”, procurando traçar correlações com os fenômenos da neurocultura, neuroidentidades e neurodiversidade, bem como identificar as noções de normalidade e patologia implícitas nesta lógica. Ademais, aponta-se algumas consequências desse paradigma no âmbito da infância e da educação. Pode-se perceber que os ideais sociais ligados às noções de competência e agência têm reconfigurado a percepção da infância contemporânea, associando-a a valores como autonomia e adaptabilidade, tornando a distinção entre crianças e adultos menos marcada. Estes valores estão em sintonia com a noção de neurodesenvolvimento, na medida em que ambos implicam uma trajetória de constante mudança, reconfiguração e aprendizagem ao longo da vida. O campo da educação é afetado por essa discussão, sendo invadido por metáforas cerebrais em torno da neuroplasticidade que, associadas à ênfase no empreendedorismo e do manejo de riscos, levam a deslocamentos na identidade da criança e do adolescente contemporâneos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Thais Klein, Centro Universitário Augusto Motta

Doutora em Teoria Psicanalítica (PPGTP-UFRJ), doutora em Saúde Coletiva (Instituto de Medicina Social -UERJ). Professora da Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) e da Pós-graduação em Psicanálise e clínica da contemporaneidade (UNISUAM).

Rossano Cabral Lima, Universidade Estadual do Rio de Janeiro

Psiquiatra. Doutor em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com doutorado sanduíche no Instituto Max Planck de História da Ciência (Berlim, Alemanha).Vice-diretor e professor Associado do Instituto de Medicina Social da UERJ.

Referências

ALMEIDA FILHO, Naomar; JUCÁ, Vládia. Saúde como ausência de doença: crítica à teoria funcionalista de Christopher Boorse. Ciência & Saúde Coletiva, vol 7, pp. 879-889, 2002.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder DSM-III. Draft, 1980.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorder DSM-5. Draft, 2013.

ANGELL, M. A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Record, 2007.

BARON-COHEN, Simon. Is Asperger syndrome/high functioning autism necessarily a disability? Development and Psychopathology, vol. 12, pp. 489-500, 2000

BECK, Ulrich. Risk Society: Towards a New Modernity, Londres: Sage, 1992.

BEZERRA Jr., Benilton. A psiquiatria contemporânea e seus desafios. In: ZORZANELLI, Rafaela; BEZERRA Jr., Benilton; COSTA, Jurandir Freire. (orgs.) A criação de diagnósticos na psiquiatria contemporânea. Rio de Janeiro: Gramond, p.9-34. 2014.

BISHOP, Dorothy.; RUTTER, Michael. Neurodevelopmental disorders: conceptual issues. In: RUTTER Michael et a (ed.). Rutter’s child and adolescent psychiatry. Oxford: Blackwell. p. 32–41, 2008

CANGUILHEM, Georges. O Normal e o Patológico, Rio de Janeiro, Forense Universitária, 5ª edição, 2000 (originalmente publicado em 1966).

CASEY, B.J.; OLIVERI, Mary Ellen; INSEL, Thomas. A neurodevelopmental perspective on the research domain criteria (RDoC) framework. Biol Psychiatry, v. 5, n. 76, pp.350‐353, jan. 2014

CASTRO, Lucia. O futuro da infância e outros escritos. Rio de Janeiro: Sete letras, 2013.

CHEVITARESE, Leandro; PEDRO, Rosa Maria Leite Ribeiro. Da sociedade disciplinar a sociedade de controle: a questão da liberdade por uma alegoria de Franz Kafka, em O Processo, e de Phillip Dick, em Minority Report. Estudos de Sociologia, v.8, n. 12, pp. 129-162, 2005.

COSTA, Jurandir Freire. As fronteiras disputadas entre normalidade, diferença, patologia In: ZORZANELLI, R.; BEZERRA J.R.B.; COSTA, J. (Org) A criação de diagnósticos na psiquiatria contemporânea. Rio de Janeiro: Gramond, 2014. p.171-190

DAVIS, Lennard J. Enforcing normalcy. Disability, deafness and the body. London, New York: Verso, 1995.

DINIZ, Debora. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007.

EHRENBERG, Alain. Le sujet cérébral. Revue Esprit, n.309, pp.130-155, 2004.

EHRENBERG, Alain. O sujeito cerebral. Psicologia Clínica. Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, p. 187-213, 2009.

EHRENBERG, Alain. O culto da performance. Da aventura empreendedora à depressão nervosa. Aparecida: Ideias & Letras, 2010.

EME, Robert. Developmental psychopathology: A primer for clinical pediatrics. World journal of psychiatry, v.7, n.3, p. 159–162, 2017.

FERREIRA, Arthur; ARAUJO, S. F. Da invenção da infância à psicologia do desenvolvimento. Psicologia em Pesquisa, v. 3, n. 2, p. 3-12, 2009.

FERREIRA, Arthur. Infância, desenvolvimento e escola: a ordem dofatores altera o produto subjetivo. In: LEONARDO A. (Org) A psicologia contra a natureza, reflexões sobre os múltiplos da atualidade. Niteroi: Editora da UFF, 2013.

FOUCAULT, Michel. Aula de 19 de março de 1975. In: Os anormais: curso no Collège de France (1974-1975). São Paulo: Martins Fontes, 2001.

FULFORD, Bill. What is (mental) disease? An open letter to Christopher Boorse. Journal of Medical Ethics, vol. 27, pp. 80-85, 2001.

GAUDENZI, Paula. A tensão naturalismo/normativismo no campo da deinição da doença. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, São Paulo, v. 17, n. 20, pp.911-924, dez. 2014.

GIROUX, Élodie. Canguilhem, Boorse y Nordenfelt: entre naturalismos y normativismos. In: Ion Arrieta Valero (org) Después de Canguilhem: definir la salud y la enfermedad. Bogota: Universidad El Bosque, 2011.

HAPPÉ, F. Autism: cognitive deficit or cognitive style? Trends in Cognitive Sciences, v. 6, n. 3, p. 216-222, 1999.

HALES, Craig; KIT, Brian; GU, Qiuping; OGDEN et. al. Trends in Prescription Medication Use Among Children and Adolescents. JAMA, United States, v. 19, n. 319, 2018.

INSEL, Thomas; QUIRION, Remi. Psychiatry as a Clinical Neuroscience Discipline. JAMA, n. 294, v.1, p. 2221–2224, 2005.

INSEL, Thomas. (Director's Blog). NIMH. Transforming Diagnosis. 29 abr 2013. Disponível em:

http://www.nimh.nih.gov/about/director/2013/transforming-diagnosis.shtml

Acesso em 15 mar 2020.

LE BOTERF, Guy. Desenvolvendo a competência dos profissionais. Porto Alegre: Artmed Editora, 2003.

LIMA, Rossano Cabral. Somos todos desatentos? O TDA/H e a construção de bioidentidades. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2005.

LIMA, Rossano Cabral. Infância e adolescência em tempos de DSM-5 e CID 11: trajetórias da classificação e perspectivas de investigação crítica. In: Catão, Inês (org.). Mal-estar na infância e medicalização do sofrimento: quando a brincadeira fica sem graça. Salvador: Ágalma, 2020a.

LIMA, Rossano Cabral. Normalidade e patologia nas classificações psiquiátricas: dos transtornos mentais infanto juvenis à síndrome da criança normal. No prelo. 2020b.

LISBOA, Felipe. O cérebro vai à escola. Aproximações entre neurociências e educação no Brasil. Jundiaí: Paco Editorial, 2016.

NADESAN, Majie Holmer. Governing Childhood into the 21st Century: Biopolitical Technologies of Childhood. Management and Education. Critical Cultural Studies of Childhood Series. New York: Palgrave Macmillan, 2010.

NESTLER, Eric. Epigenetic mechanisms in psychiatry. Biological Psychiatry, v. 65, n. 3, p. 189-190, 2009.

ORTEGA, Francisco. Deficiência, autismo e neurodiversidade. Ciênc. saúde coletiva; vol. 1, n.14, pp.67-77, 2009.

PARIS, James. The Ideology Behind DSM-5. In: PARIS, Joel; PHILLIPS, James. (Eds.). Making the DSM-V concepts and controversies. New York: Springer, p.39-46, 2013.

PATTO, Maria Helena de Souza. A produção do fracasso escolar. Histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

RAMOS, Marise. A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação? São Paulo: Cortez, 2001.

SHORTER, Eduard. A History of Psychiatry. From the Era of the Asylum to the Age of Prozac. Jonh Wiley & Sons, Inc, 1997.

SINGER, Judy. Why can´t you be normal for once in your life?' From a 'problem with no name' to the emergence of a new category of difference. In: Corker M, French S, editors. Disability discourse. Buckingham: Open University Press; 1999. p. 59-67.

SILVA-FREITAS, Luna; ORTEGA, Francisco. A epigenética como nova hipótese etiológica no campo psiquiátrico contemporâneo. Physis. v.24, n.3, pp. 54-67, 2014.

VIDAL, Fernando. The Cerebral Subject: a Historical and Conceptual Overview, Psychiatrie, sciences humaines, neurosciences, v. 3, n. 11, pp. 37-48, 2005.

VIDAL, Fernando; ORTEGA, Francisco. Being Brains. Making the Cerebral Subject. New York: Fordham University Press, 2017.

ZORZANELLI, Rafaela; DALGALARRONDO, Paulo; BANZATO, Claudio. O projeto Research Domain Criteria e o abandono da tradição psicopatológica. Revista latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 17, n.2., p.328-341, 2014.

WELLS, Karen. The Politics of Life: Governing Childhood. Global Studies of Childhood, v. 1 n. 1, p. 15-25, 2011.

Publicado

2020-12-23

Versões

Como Citar

Klein, T., & Lima, R. C. (2020). MAIS ALÉM DOS TRANSOTRNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO: Desdobramentos para a infância e a educação. Movimento-Revista De educação , 7(15). https://doi.org/10.22409/mov.v7i15.42885