MÉTODO FÔNICO E MEDICALIZAÇÃO: Pela Heterogeneidade dos Surdos e da Educação

Auteurs

Mots-clés:

Política Nacional de Alfabetização, Medicalização, Surdez, Método fônico.

Résumé

Neste artigo objetivamos discutir o caráter medicalizante da proposta de alfabetização para pessoas surdas, especialmente quando baseada em perspectivas fônicas, presentes na Política Nacional de Alfabetização (PNA). A análise que fizemos do documento nos possibilitou observar a recomendação velada de um método para ensinar crianças a ler e escrever, inclusive as surdas. A defesa da PNA de que a abordagem metodológica pautada na instrução fônica e na consciência fonológica é superior a qualquer outra e deve ser tomada como princípio na fase inicial da alfabetização é medicalizante porque reduz a complexidade do processo de alfabetização e desconsidera a heterogeneidade que marca as diferentes formas de aprender tanto da criança ouvinte quanto da criança surda. Afirmamos ainda que qualquer proposta política com base democrática precisa considerar a pluralidade de estudos científicos realizados sobre alfabetização até o momento, e ainda, levar em conta a diversidade cultural, social, econômica e política que determina os diferentes atores envolvidos na alfabetização (professores, alunos e escolas). Por fim, destacamos que uma política que se propõe inclusiva precisa reconhecer os diferentes modos de ser e aprender das crianças surdas, suas possibilidades linguísticas e sua diversidade cultural.

##plugins.generic.usageStats.downloads##

##plugins.generic.usageStats.noStats##

Bibliographies de l'auteur

Aline Lima da Silveira Lage, Instituto Nacional de Educação de Surdos

Professora de Psicologia do Departamento de Ensino Superior do Instituto Nacional de Educação de Surdos (DESU-INES), membro do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade. Integra o Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Surdez (GEPESS-UFRJ) e coordena, com o Professor Maurício Rocha Cruz, o Grupo de Pesquisas Formação de Professores (de) Surdos (GPFPS-INES).

Desirée De Vit Begrow, Universidade Federal da Bahia

Fonoaudióloga. Doutora em Educação. Professora Associada no Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Bahia.

Elaine Cristina de Oliveira, Universidade Federal da Bahia

Professora do Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Bahia

Références

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALFABETIZAÇÃO. Carta Aberta do IV Congresso Brasileiro de Alfabetização (IV CONBAlf), de 10 de agosto de 2019. Belo Horizonte: ABAlf, 2019. Disponível em: http://feuff.sites.uff.br/2019/08/15/carta-aberta-do-iv-congresso-brasileiro-de-albabetizacao-iv-conbalf/

ALBANESE, Bruno C. Da língua portuguesa, línguas brasileiras de sinais, línguas caseiras de sinais à língua nenhuma: qual(is) língua(s) os surdos (não) falam? In: BOLOGNINI, Carmen Z., SILVA, Ivani R. (orgs.). Sentidos no silêncio: práticas de língua(gem) com alunos surdos. Campinas, SP: Mercado de Letras, p. 91-107, 2015.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM LETRAS E LINGUÍSTICA. Manifestação fundamental: os professores e pesquisadores de Libras divulgamos uma carta de GT Libras da ANPOLL contra o método fônico para educação de surdos, de 7 de outubro de 2019. Rio de Janeiro: ANPOLL-GT Libras, 2019. Disponível em: https://poslinguistica.paginas.ufsc.br/files/2019/10/2019-Carta-ANPOLL-colaboradoresfinal.pdf

BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, p. 261-306, 2003.

BERTHIER, Ferdinand. Les sourds-muets, avant et depuis l’abbé de l’Épée. Paris: Ledoyen, 1840. Disponível em: https://www.biusante.parisdescartes.fr/histoire/medica/resultats/index.php?do=livre&cote=67658

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

BRASIL. Ministério da Educação. Relatório do Grupo de Trabalho, designado pelas Portarias nº 1.060/2013 e nº 91/2013, contendo subsídios para a Política Linguística de Educação Bilíngue – Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa. Brasília, DF: MEC/SECADI, 2014a.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. º 2.776, de 18 de dezembro de 2014. Aprova diretrizes gerais, amplia e incorpora procedimentos para a Atenção Especializada às Pessoas com Deficiência Auditiva no Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, DF: MS, 2014b.

BRASIL. Ministério da Educação. PNA Política Nacional de Alfabetização. Brasília, DF: MEC/SEALF, 2019.

BRASLAVSKY, Berta. O método: panaceia, negação ou pedagogia? Cad. Pesq., São Paulo, n. 66, p. 41-48, ago., 1988.

CAMPELLO, Ana R. Aspectos da visualidade na Educação de Surdos. 2008. 245 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.

CAPOVILLA, Alessandra G.S.; CAPOVILLA, Fernando C. Problemas de Leitura e Escrita: como identificar, prevenir e remediar, numa abordagem fonológica. São Paulo: Memnon, 2004.

CAPOVILLA, Fernando C. Sobre a falácia de tratar as crianças ouvintes como se fossem surdas, e as surdas, como se fossem ouvintes ou deficientes auditivas: pelo reconhecimento do status linguístico especial da população escolar surda. In: SÁ, Nídia de. Surdos: qual escola? Manaus: Editora Valer e Edua, 2011, p. 77-100.

FARIA, Núbia R.B. Forma e substância na linguagem: reflexões sobre o bilinguismo do surdo. Leitura Maceió, n. 47, p. 233-254, jan./jun., 2011.

FERNANDES, Sueli. É possível ser surdo em português? Língua de sinais e escrita: em busca de uma aproximação. In: Skliar, Carlos. Atualidades na educação bilíngue para surdos. Porto Alegre: Mediação, p. 59-81, 1999.

FERNANDES, Sueli. Letramentos na educação bilíngue para surdos. In: BERBERIAN, Ana P., MASSI, Giselle. MORI-DE ANGELIS, Cristiane. Letramento: referências em saúde e educação. São Paulo: Plexus, p. 117-144, 2006.

JUSTINO, Maria I. de S.V.; BARRERA, Sylvia D. Efeitos de uma intervenção na abordagem fônica em alunos com dificuldades de alfabetização. Psic.: Teor. e Pesq., Brasília, v. 28, n. 4, p. 399-407, Dec. 2012. Disponível em:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722012000400009&lng=en&nrm=iso

KELMAN, Celeste, et al. Surdez e família: facetas das relações parentais no cotidiano comunicativo bilíngue. Linhas Críticas, v. 17, p. 349-366, 2011.

KELMAN, Celeste. Alunos com implante coclear: desenvolvimento e aprendizagem. Ensino em Re-Vista, v. 22, n. 1, jan./jun., p. 13-24, 2015.

KUMADA, Kate M. O. “No começo ele não tem língua nenhuma, ele não fala, ele não tem LIBRAS, né?”: representações sobre línguas de sinais caseiras. 2012. 156 f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas, SP, 2012.

LACERDA, Cristina de. Um pouco da história das diferentes abordagens na educação dos surdos. Cad. CEDES, Campinas, v. 19, n. 46, p. 68-80, set. 1998.

LAGE, Aline. O implante coclear no processo de medicalização e produção de subjetividades surdas - ou - Do sofrimento e da resistência. In: Comissão de Psicologia e Educação do CRP-RJ (org.). Conversações em Psicologia e Educação. Rio de Janeiro: Conselho Regional de Psicologia 5ª Região, 2016, p. 23-40.

LAGE, Aline. Professores Surdos na Casa dos Surdos: “Demorou muito, mas voltaram”. 2019. 514 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019.

LAGE, Aline; KELMAN, Celeste. Medicalização e educação de surdos: o caso do INES por professores e alunos. Práxis Educacional, v. 15, n. 36, p. 19-42, dez. 2019.

LOBO, Lilia. Os infames da história: pobres, escravos e deficientes no Brasil. Rio de Janeiro: Lamparina, 2015.

LUZ, Renato. Cenas surdas parentais: em busca da aparição de surdos na contemporaneidade. 2011. 342 f. Tese (Doutorado em Psicologia) - Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.

LUZ, Renato. Em busca da aparição de surdos na contemporaneidade. Anais do I Simpósio Internacional de Estudos sobre a Deficiência – SEDPcD/Diversitas/USP Legal, São Paulo, junho/2013, p. 1-14.

MORAIS, Arthur Gomes de. Concepções e metodologias de alfabetização: Por que é preciso ir além da discussão sobre velhos métodos? In: Portal MEC Seminário Alfabetização e Letramento em Debate. Brasília, DF: MEC/SEB, p. 1-15, 2006. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/alf_moarisconcpmetodalf.pdf

MORELLO, Rosângela. A política de cooficialização de línguas no Brasil. In: MORELLO, Rosângela (org.). Leis e línguas no Brasil. O processo de cooficialização e suas potencialidades. Florianópolis: IPOL, p. 80-91, 2015.

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. História dos métodos de alfabetização no Brasil (Conferência). In: Portal MEC Seminário Alfabetização e Letramento em Debate. Brasília, DF: MEC/SEB, p.1-16, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/alf_mortattihisttextalfbbr.pdf

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. A “querela dos métodos” de alfabetização no Brasil: contribuições para metodizar o debate. Revista ACOALFAplp: Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua portuguesa, São Paulo, ano 3, n. 5, p. 91-114, 2008. Disponível em: http://www.acoalfaplp.net

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Brasil, 2019: notas sobre a “política nacional de alfabetização”. Revista Olhares, São Paulo, v. 7, n. 3, nov. p. 17-51, 2019.

OLIVEIRA, Elaine Cristina de; HARAYAMA, Rui Massato; VIÉGAS, Lygia de Souza. Drogas e medicalização na escola: reflexões sobre um debate necessário. Revista Teias, v. 17, n. 45, p. 99-118, 2016. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/view/24598

PATTO, Maria Helena de Souza. A produção do fracasso escolar. Histórias de submissão e rebeldia. 4. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2015.

PELLEGRINI FILHO, Alberto. Políticas públicas e determinantes sociais da saúde: o desafio da produção e uso de evidências científicas. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 27, supl. 2, p.135-140, 2011.

PERLIN, Gladis Teresinha. Identidades surdas. In: SKLIAR, Carlos (org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, p. 51-74, 1998.

PRESTES, Zoia; TUNES, Elizabeth; NASCIMENTO, Ruben. Lev Semionovitch Vigotski: um estudo da vida e da obra do criador da psicologia histórico-cultural. In: PUENTES, Roberto Valdés; LONGAREZI, Andréa Maturano (orgs.). Ensino Desenvolvimental: vida, pensamento e obra dos principais representantes russos. Uberlândia, MG: EdUFU, p. 47-65, 2013.

REGO MONTEIRO, Helena. A medicalização da vida escolar. 2009. 99f. Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

RODRIGUES, José R. As seções de surdos e de ouvintes no Congresso de Paris (1900): problematizações sobre o pastorado e a biopolítica na educação de surdos. 2018. 202 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Centro de Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2018.

SÁ, Nelson Pereira de; Sá, Nidia Regina Limeira de. Escolas bilíngues de surdos: por que não? Manaus: EDUA, 2015.

SACKS, Oliver. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SCLIAR–CABRAL, Leonor. A desmistificação do método global. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 48, n. 1, jan./mar., p. 6–11, 2013.

SEABRA, Alessandra G.; DIAS, Natália M. Métodos de alfabetização: delimitação de procedimentos e considerações para uma prática eficaz. Revista Psicopedagogia, v. 28, n. 87, p. 306-20, 2011.

SILVA, Daniela. Similaridades e diferenças nas pinturas rupestres pré-históricas de contorno aberto no Parque Nacional Serra da Capivara-PI. 2008. 322 f. Tese (Doutorado em Arqueologia) - Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.

SILVA, Vilmar. Educação de surdos: uma releitura da primeira escola Pública para surdos em Paris e do Congresso de Milão em 1880. In: QUADROS, Ronice (org.). Estudos surdos I. Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2006, p. 14-37.

SKLIAR, Carlos (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.

STROBEL, Karin. Surdos: Vestígios Culturais não Registrados na História. 2008. 176 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.

TUNES, Elizabeth. A Defectologia de Vigotski - uma contribuição inédita e revolucionária no campo da educação e da psicologia. In: Veresk – Cadernos Acadêmicos Internacionais Estudos sobre a perspectiva histórico-cultural de Vigotski. Brasília: UniCEUB, 2017, p. 75-84.

TUXI, Patricia. A Atuação do Intérprete educacional no Ensino Fundamental. 2009. 123 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, Brasília, 2009.

VIGOTSKI, Lev. Fundamentos de Defectologia. Madrid, España: Visor, 1997.

WANDERLEY, Débora C. A leitura e escrita de sinais de forma processual e lúdica. 1.ed. Curitiba: Editora Prismas, 2015.

Publiée

2020-12-23