Organização: Ana Camila Esteves (King’s College London, Reino Unido), Jusciele Oliveira (Universidade do Algarve, Portugal) e Morgana Gama (Universidade Federal da Bahia, Brasil).

Data limite de envio dos textos: 15 de agosto de 2023.

O primeiro obstáculo e desafio que se apresenta para quem pesquisa cinemas africanos no Brasil é o acesso ao conteúdo bibliográfico já produzido e os filmes realizados pelos(as) cineastas africanos(as), pois a maioria das publicações e filmes de referência foi escrita e/ou legendada em francês ou inglês. Um problema complexo e multifatorial, mas que tem encontrado alternativas por meio do trabalho de algumas pesquisas de mestrado e doutorado realizadas no Brasil; de publicação de textos originais e traduções para o português de textos importantes para o debate contemporâneo; e de curadoria em mostras e festivais, cujo processo tem se expandido através de eventos especializados no Brasil, construindo outros olhares sobre essas cinematografias.

Em 2023, é celebrado o centenário de Ousmane Sembène (1923-2007), cineasta senegalês pioneiro dos cinemas africanos, referência nas disputas e negociações pela construção de uma consciência africana anti-des-pós-colonial que usou o cinema como meio e ferramenta de diálogo com a sociedade senegalesa recém independente. Vindo da literatura, Sembène migrou para o cinema para tornar suas mensagens políticas mais acessíveis à população do Senegal, e se destacou por explorar diversos gêneros cinematográficos com crítica, ironia, sarcasmo e comicidade, presentes em todos os seus filmes.

Representou o cotidiano e o dia a dia das pessoas comuns dos diversos espaços e contextos do Senegal, notadamente da sua capital Dakar (Borrom Sarret, 1963; Niaye, 1964), como também valorizou as línguas africanas como idioma oficial de seus filmes, desde o primeiro realizado em língua Wolof (Mandabi,1968) até seu último em Bambara (Moolaadé, 2004). Sua obra destacou também o protagonismo das mulheres nas sociedades senegalesas, desenvolvendo personagens femininas com diversas camadas críticas e militantes, desde seu primeiro longa-metragem de ficção, La noire de... (1966), com destaque para Faat Kiné (2000), filme cujo título é uma referência direta à sua protagonista.

O marco do centenário de Ousmane Sembène nos estimula a impulsionar as pesquisas sobre cinemas africanos no Brasil, no intuito de complexificar o modo como se ensinam e se compreendem as histórias e as teorias do cinema. Com este dossiê, espera-se contribuir para ampliar e alocar os filmes africanos nas discussões e análises teóricas, estilísticas e metodológicas em torno do cinema, considerando a ainda tímida diminuição da invisibilidade destes filmes e cineastas no Brasil e no mundo nos últimos cinco anos. Sendo o nome de Ousmane Sembène ausente das histórias do cinema disponíveis em português, encorajamos neste dossiê o envio de artigos que questionem as narrativas hegemônicas sobre o cinema no âmbito da pesquisa acadêmica, além de textos que analisem aspectos estéticos de filmes africanos clássicos e contemporâneos.

Nossa homenagem ao centenário de Sembène, comemorado em poucos espaços de consagração do cinema e da academia, vem justamente somar-se aos esforços de criar esse espaço no Brasil e em língua portuguesa, tornando-o uma referência acessível para pessoas que se dedicam à pesquisa e ensino de cinema. Achamos justo e necessário esse movimento, não simplesmente por ser um universo pouco contemplado pelos estudos acadêmicos no Brasil, mas por acreditarmos que investigações voltadas para a análise desta conjuntura (teórica, metodológica e estética), em uma perspectiva profunda e iluminada por olhares multidisciplinares, pode oferecer contribuições importantes para o campo dos estudos fílmicos sobre os cinemas africanos e o cinema de uma forma geral.

Diante deste cenário, o dossiê encoraja a submissão de textos que discutam as histórias, as teorias e as estéticas do cinema em sua articulação com os cinemas africanos. Considerando a ausência das cinematografias da África nas discussões teóricas em língua portuguesa, buscamos iniciar um gesto de preencher esta lacuna dentro do espaço acadêmico, a partir dos seguintes eixos de abordagem, ainda que não se limite a eles:

  1. Escolas, teorias e períodos do cinema em articulação com os cinemas africanos;
  2. Reflexões sobre nomenclaturas: terceiro cinema, cinema periférico, cinema com sotaque, cinema da margem, cinema do mundo, cinema pós-colonial, cinema intercultural, entre outras, associadas aos cinemas africanos;
  3. História, memória e identidades culturais nos cinemas africanos e seus desdobramentos afrodiáspóricos;
  4. Os limites e disputas entre a teoria do autor, a política dos autores e os cinemas africanos; análise de trajetórias de cineastas africanos;
  5. O cinema de gênero e o documentário no contexto dos cinemas africanos;
  6. A produção de filmes feitos por, e sobre as mulheres nos cinemas africanos;
  7. Circulação, recepção e questões de espectatorialidade nos cinemas africanos (mostras, festivais, streaming, cinema comercial);
  8. O lugar da crítica de cinema na construção de discursos sobre os cinemas africanos;
  9. Diálogos transdisciplinares e interartísticos nos/entre cinemas africanos e afrodiaspóricos.

As normas de publicação da revista A barca podem ser encontradas em Submissões

Quaisquer dúvidas, escrever para abarcarevista@gmail.com 

ESPAÑOL

Cines africanos en las historias y teorías del cine: estéticas, desafíos y nuevos escenarios

Organización: Ana Camila Esteves (King’s College London, Reino Unido), Jusciele Oliveira (Universidad de Algarve, Portugal) y Morgana Gama (Universidad Federal de Bahía, Brasil).

Fecha límite de envío de los textos: 15 de agosto de 2023.

El primer obstáculo y desafío que se presenta para quienes investigan cines africanos en Brasil es el acceso al contenido bibliográfico ya producido y a las películas realizadas por los(as) cineastas africanos(as), porque la mayoría de las publicaciones y películas de referencia fueron escritas y/o subtituladas en francés o inglés. Un problema complejo y que implica diversos factores, pero que ha encontrado algunas soluciones por medio del trabajo de algunas investigaciones de maestría y doctorado realizadas en Brasil; de publicación de textos originales y traducciones al portugués de textos importantes para el debate contemporáneo; y de curaduría en muestras y festivales, cuyo proceso se ha expandido a través de eventos especializados en Brasil, construyendo otras miradas sobre esas cinematografías.

En 2023, se celebra el centenario de Ousmane Sembène (1923-2007), cineasta senegalés pionero de los cines africanos, referencia en las disputas y negociaciones por la construcción de una conciencia africana anti-des-poscolonial que utilizó el cine como medio y herramienta de diálogo con la sociedad senegalesa recientemente independizada. Proveniente de la literatura, Sembène migró al cine para hacer sus mensajes políticos más accesibles a la población de Senegal, y se destacó por explorar diversos géneros cinematográficos con crítica, ironía, sarcasmo y comicidad, presentes en todas sus películas.

Representó el cotidiano y el día a día de las personas comunes de los diversos espacios y contextos de Senegal, especialmente de su capital Dakar (Borrom Sarret, 1963; Niaye, 1964), como también valoró las lenguas africanas como idioma oficial de sus películas, desde el primer realizado en lengua Wolof (Mandabi,1968) hasta su último en Bambara (Moolaadé, 2004). Su obra destacó también el protagonismo de las mujeres en las sociedades senegalesas, desarrollando personajes femeninas con diversas capas críticas y militantes, desde su primer largometraje de ficción, La Noire de... (1966), y especialmente en Faat Kiné (2000), película cuyo título es una referencia directa a su protagonista.

El hito del centenario de Ousmane Sembène nos estimula a impulsar las investigaciones sobre cines africanos en Brasil, con el fin de complementar el modo como se enseñan y se comprenden las historias y las teorías del cine. Con este dossier, se espera contribuir para asignar un lugar a las películas africanas en las discusiones y análisis teóricos, estilísticos y metodológicos en torno al cine, considerando la aún tímida disminución de la invisibilidad de estas películas y cineastas en Brasil y en el mundo en los últimos cinco años. El nombre de Ousmane Sembène está ausente de las historias del cine disponibles en portugués. Es por eso que alentamos en este dossier el envío de artículos que cuestionen las narrativas hegemónicas sobre el cine en el ámbito de la investigación académica, además de textos que analicen aspectos estéticos de películas africanas clásicas y contemporáneas.

Nuestro homenaje al centenario de Sembène, conmemorado en pocos espacios de consagración del cine y de la academia, viene justamente a sumarse a los esfuerzos de crear ese espacio en Brasil y en lengua portuguesa, para establecer una referencia accesible para quienes se dedican a la investigación y la enseñanza de cine. Consideramos justo y necesario este movimiento, no simplemente por ser un universo poco contemplado por los estudios académicos en Brasil, sino porque investigaciones volcadas para el análisis de esta coyuntura (teórica, metodológica y estética), en una perspectiva profunda e iluminada por miradas multidisciplinares, pueden ofrecer contribuciones importantes al campo de los estudios fílmicos sobre los cines africanos y el cine en general.

El dossier alienta la sumisión de textos que discutan las historias, las teorías y las estéticas del cine en su articulación con los cines africanos. Considerando la ausencia de las cinematografías de África en las discusiones teóricas en lengua portuguesa, buscamos comenzar a cubrir esta brecha dentro del espacio académico, a partir de los siguientes ejes, aunque sin limitarnos a ellos:

  1. Escuelas, teorías y períodos del cine en articulación con los cines africanos;
  2. Reflexiones sobre nomenclaturas: tercer cine, cine periférico, cine con acento, cine de la orilla, cine del mundo, cine poscolonial, cine intercultural, entre otras, asociadas a los cines africanos;
  3. Historia, memoria e identidades culturales en los cines africanos y sus desdoblamientos afrodiáspóricos;
  4. Los límites y disputas entre la teoría del autor, la política de los autores y los cines africanos; análisis de trayectorias de cineastas africanos;
  5. El cine de género y el documental en el contexto de los cines africanos;
  6. La producción de películas hechas por, y sobre las mujeres en los cines africanos;
  7. Circulación, recepción y cuestiones de espectatorialidad en los cines africanos (muestras, festivales, streaming, cine comercial);
  8. El lugar de la crítica de cine en la construcción de discursos sobre los cines africanos;
  9. Diálogos transdisciplinares e interartísticos en los/entre cines africanos y afrodiaspóricos.

Las normas de publicación pueden ser encontradas en la sección Submissões

Por cualquier duda, escribir a abarcarevista@gmail.com