Fascismo atmosférico: o bolsonarismo como cronopolítica
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i2.a59314Palavras-chave:
Tempo, Soberania, Atmosferas, Extrema-Direita.Resumo
Este artigo mobiliza o conceito de atmosferas para analisar o bolsonarismo enquanto cronopolítica, um modo de fazer tempo e mobilizar públicos através do clima político. Sua capacidade de gestar e gerir atmosferas e corpos ansiosos é abordada a partir da ameaça longitudinal de golpe de estado no Brasil. Examinamos as afinidades entre esse movimento político e modulações da soberania/exceção associadas ao populismo, fascismo e messianismo. A seguir, exploramos como a sua violência descende ao ordinário através do contágio mimético entre Forças Armadas, líder e povo. Por fim, e com ênfase nos eventos de 7 de setembro de 2021, destacamos como o movimento prioriza afetos pré-objetivos como a ameaça, a prontidão, a indecisão e a preempção – cuja ausência de referentes precisos os eleva a verdadeiras forças elementais.
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