Vida além do plano: um condomínio de quitinetes no Plano Piloto de Brasília

Resumen

Este artigo discute os sentidos de condomínio e de cidade a partir de angulação inédita nas ciências sociais: os condomínios de quitinetes no Plano Piloto da Capital Federal, Brasília. A investigação está ancorada em observação participante, entrevistas, fotografias dos apartamentos e engajamento em grupos de vizinhos no WhatsApp. A abordagem etnográfica revela um jeito de morar nesses espaços coletivos que contrasta com o das superquadras, unidades estruturadoras da região e lugar da classe média. O arquiteto e urbanista Lucio Costa concebeu as superquadras para favorecer a convivialidade entre as classes e, por isso, baniu cercas e muros dos prédios residenciais. O objeto desta pesquisa, por sua vez, tem perímetro cercado, sugerindo outra fórmula de moradia e de uso do espaço público. A etnografia revela o tensionamento entre o projeto urbanístico modernista, tombado e patrimonializado, e as demandas das camadas médias por transporte, moradia acessível e qualidade de vida. Nesse contexto, o condomínio emerge como um dispositivo de acesso à cidade e às suas oportunidades, ao passo que reforça as diferenças simbólicas e materiais dos modos de vida na região. Ele lança luz sobre os processos de urbanização e especulação imobiliária que organizaram novas condições de habitação e produção de sentido da vida cotidiana no Plano Piloto. O condomínio consiste em uma contraproposta de morar na cidade que tensiona e atualiza o projeto-piloto de Lucio Costa.