Apresentação: Por uma antropologia da vida condominial: tramas sociais do habitar contemporâneo
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i3.a69642Palabras clave:
Condomínio, Habitação, Cidades, Urbanização, Vida Cotidiana.Resumen
Este artigo discute a relevância crescente dos condomínios como forma de habitar e fenômeno urbano contemporâneo. A expansão deste formato de empreendimento habitacional, promovido tanto pelo mercado privado quanto pelas políticas habitacionais, revela dinâmicas complexas que articulam fragmentação socioespacial, disciplinarização da pobreza e rearranjo das formas de sociabilidade. O objetivo central do dossiê apresentado por este artigo é compreender como diferentes configurações condominiais — que vão da Barra da Tijuca a Itaboraí, no Rio de Janeiro, passando por Brasília, São Paulo e também em produções audiovisuais de plataformas de streaming — expressam múltiplos sentidos do habitar contemporâneo. A metodologia de trabalho é predominantemente qualitativa e etnográfica, reunindo estudos de caso, análises de políticas públicas, observações de campo e análises de produções culturais. Os artigos articulam abordagens empíricas e teóricas a fim de examinar práticas cotidianas, relações de vizinhança, disputas simbólicas e o papel das redes digitais na construção dessas experiências. Os resultados investigativos evidenciam que os condomínios operam como microcosmos urbanos onde se entrelaçam regimes de autoridade, circuitos de reciprocidade, estratégias de resistência e projetos de distinção. Mais do que enclaves segregados, configuram espaços híbridos das cidades que revelam tensões entre fechamento e convivência, controle e autonomia, exclusão e pertencimento. Conclui-se que compreender o habitar contemporâneo nos exige olhar para as tramas sociais tecidas entre muros, telas e vizinhanças, reconhecendo o condomínio como um dispositivo privilegiado de análise sobre as transformações urbanas, os modos de vida emergentes e os desafios de viver nas cidades.
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