Melhorar de vida em meio à ruínas: etnografias de um condomínio no leste fluminense e os legados do Comperj
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i3.a66850Palabras clave:
Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro, Condomínios fechados, Itaboraí, Estratégias femininas, Casas.Resumen
Este artigo apresenta contribuições de uma pesquisa etnográfica realizada entre 2019 e 2025 na cidade de Itaboraí, região Leste Fluminense, marcada pelas promessas de desenvolvimento associadas ao Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro. A partir do acompanhamento prolongado de uma rede familiar, com enfoque na experiência de três mulheres, Quitéria e suas filhas, Fabiana e Débora, o estudo explora como suas práticas domésticas e redes de apoio possibilitaram projetos de ascensão social em meio à instabilidade econômica que se seguiu à interrupção do empreendimento. O trabalho analisa os deslocamentos gerados pela crise, com ênfase nos efeitos paradoxais da paralisação do Complexo: em vez de inviabilizar os modos de vida de moradores locais, o arrefecimento das expectativas de desenvolvimento desvalorizou o mercado imobiliário e possibilitou o acesso a moradias sofisticadas em condomínios fechados por famílias de renda média, antes excluídas desse padrão habitacional. A pesquisa sugere que, diante do colapso de um futuro prometido, essas mulheres reorganizaram criativamente seus projetos de vida, revelando uma sofisticação nos saberes cotidianos e nas estratégias de gestão doméstica. A casa, entendida como espaço teórico e núcleo das decisões familiares, permitiu compreender os ciclos de transformação urbana por meio das práticas femininas que sustentam, negociam e reconfiguram o que se entende como “melhoria de vida”.
Descargas
Referencias
AGUEDA, Rodrigo Cerqueira. Construindo Infraestrutura para as Elites: Os Grandes Condomínios da Barra e um Novo Modelo de se Morar na Cidade. Revista AntHropológicas, Recife, ano 24, v. 34, n. 2, p. 153-179, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.51359/2525-5223.2020.246930. Acesso em: 17 out. 2025.
ARAUJO, Marcella. Obras, casas e contas: uma etnografia de problemas domésticos de trabalhadores urbanos, no Rio de Janeiro. 2017. Tese (Doutorado em Sociologia) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.
ARAÚJO, Marcella; CORTADO, Thomas. Zona Oeste do Rio de Janeiro, fronteira dos estudos urbanos?. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p. 7-30, 2020. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/dilemas/article/view/29498. Acesso em: 17 out. 2025.
BARBOSA, Marcelo Ferrari. Uma breve história do projeto do COMPERJ e da construção de seu consenso. 2018. Dissertação (Mestrado em Ciências Jurídicas e Sociais) – Programa de Pós-graduação em Sociologia e Direito, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2018.
BINSZTOK, Jacob; BARBOSA, Jorge Luiz. Modernização Fracassada: Dossiê Comperj. Rio de Janeiro: Consequência, 2018.
BORGES, Antonádia. Explorando a noção de etnografia popular: comparações e transformações a partir dos casos das cidades satélites brasileiras e das townships sul-africanas. Cuadernos de Antropología Social, Buenos Aires, n. 29, p. 23–42, 2009.
BORGES, Antonádia. Mulheres e suas casas: reflexões etnográficas a partir do Brasil e da África do Sul. Cadernos Pagu, Campinas, n. 40, p. 197-227, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-83332013000100006. Acesso em: 25 set. 2025.
CALDEIRA, Tereza Pires do Rio. A cidade dos muros: Crime, segregação e cidadania em São Paulo: EDUSP, 2000.
CAVALCANTI, Mariana. Do barraco à casa. Tempo, espaço e valores em uma favela consolidada. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 24, n. 69, p. 69-80, 2009.
CAVALCANTI, Mariana. Ainda construção e já ruína: Para uma antropologia dos urbanismos globais. Dilemas - Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, e61355, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.4322/dilemas.v16.n3.61355. Acesso em: 25 set. 2025.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Artes de Fazer. Editora Vozes. Petrópolis. 2003.
COMPERJ tem protesto contra salários atrasados e demissões. Exame, Rio de Janeiro, 10 fev. 2015. Disponível em: https://exame.com/brasil/comperj-tem-protesto-contra-salarios-atrasados-e-demissoes/. Acesso em: 08 mar. 2025.
CONCEIÇÃO, Wellington da Silva. Minha casa, suas regras, meus projetos: gestão, disciplina e resistências nos condomínios populares do PAC e MCMV no Rio de Janeiro. UERJ, Rio de Janeiro, 2016.
CORTADO, Thomas. Casas feitas de olhares: uma etnografia dos muros em um loteamento periférico do Rio de Janeiro. Etnográfica, Lisboa, v. 24, n. 3, p. 665-682, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.4000/etnografica.9357. Acesso em: 25 set. 2025.
COSTA, Gilciano Menezes. A escravidão em Itaboraí: uma vivência às margens do Rio Macacu (1833-1875). 2013. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2013.
COSTA, Lourdes Pinto Machado; PIMENTEL, Deborah. Inflexões Na História E Nas Configurações Urbanas De Itaboraí, Na Região Metropolitana Do Rio De Janeiro. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 23., Londrina, 2005. Anais [...]. Londrina: ANPUH, 2005.
DAINESE, Graziele. Desentendimento entre parentes: variações da intimidade. Revista de Antropologia, Rio de Janeiro, v. 58, n. 2, p. 371-389, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.11606/2179-0892.ra.2015.108578. Acesso em: 25 set. 2025.
DUARTE. Ana Clara Chequetti da Rocha. Ruínas Olímpicas e a destruição infraestrutural como modo de produção da cidade: uma etnografia da vida social do Teleférico da Providência. 2024. Tese (Doutorado em Sociologia) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2024.
FERNANDES, Camila. Casas de “tomar conta” e creches públicas: relações de cuidados e interdependência entre periferias e Estado. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 64 n. 3, e189648, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2020.189648. Acesso em: 25 set. 2025.
FREIRE, Jussara. Violência Urbana e Cidadania na cidade do Rio de Janeiro: tensões e disputas em torno das justas atribuições do ‘Estado’. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 73-94, 2014. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/dilemas/article/view/7254. Acesso em: 25 set. 2025.
GODOI, Rafael. Fluxos em cadeia: as prisões em São Paulo na virada dos tempos. São Paulo: Boitempo, 2015.
GUEDES, André Dumans. Dessubstancializando a casa via configurações e formas provisórias de existência. In: COMERFORD, John; CARNEIRO, Ana; AYOUB, Dibe; DAINESE, Graziele (org.). Casa, corpo, terra, violência: abordagens etnográficas. Rio de Janeiro: Editora 7Letras, 2021. p. 71-95.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio, 2006.
KOWARICK, Lúcio. A espoliação urbana. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1979.
L’ESTOILE, Benoît de. “Dinheiro é bom, mas um amigo é melhor”. Incerteza, orientação para o futuro e a “economia”. RURIS - Revista do Centro de Estudos Rurais, [s. l.], 2020. Disponível em: https://shs.hal.science/halshs-02943187v1. Acesso em: 17 out. 2025.
MARCELIN, Louis Herns. A linguagem da casa entre os negros do recôncavo baiano. Mana, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 31-60, 1999.
MARICATO, Ermínia. A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil Industrial. São Paulo: Editora AlfaOmega, 1982.
MARICATO, Ermínia. Habitação e Cidade. Cidade: Atual Editora, 1996.
MARQUES, Hugo. Má gestão, corrupção e prejuízo de 47 bilhões de reais. Veja, Brasil, 7 jun. 2022. Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/comperj-ma-gestao-corrupcao-e-prejuizo-de-47-bilhoes-de-reais/. Acesso em: 9 mar. 2025.
MOREIRA, Allan Barbosa. O município “ornitorrinco”: Itaboraí a cidade sem asfalto. 2022. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas) – Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2022.
MOURA, Cristina Patriota de. A fortificação preventiva e a urbanidade como perigo. Série antropologia, Brasília, DF, v. 407, 2006.
MUNIZ FILHO, Guilherme de Almeida. O declínio do Comperj: repercussões sobre a dinâmica imobiliária urbana da cidade de Itaboraí. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA URBANA, 16., 2019, Vitória. Anais do XVI SIMPURB. Vitória: UFES, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/simpurb2019/article/view/26686. Acesso em: 25 set. 2025.
NAROTZKY, Susana; BESNIER, Niko. Crisis, Value and Hope: Rethinking the Economy. Current Anthropology, [s. l.], v. 55, n. 9, p. S4-S16, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1086/676327. Acesso em: 25 set. 2025.
NICOLA, Patrícia. A Zona Oeste do Rio de Janeiro como eixo de expansão urbana para habitação de interesse social: Considerações a partir do Programa Minha Casa Minha Vida em Senador Camará. Dilemas: Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, Rio de Janeiro, v. 14, n. 3, p. 843-858, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.4322/dilemas.v14n3.35682. Acesso em: 17 out. 2025.
O QUE é o COMPERJ? Mais GUAPIMIRIM, Guapimirim, [201-?]. Disponível em: https://maisguapimirim.blogspot.com/p/o-que-e-comperj.html. Acesso em: 8 mar. 2025.
OLIVEIRA, Valter Lúcio de; AMORIM, Carlos Alberto do Valle; SOUZA JR, Jorge Carlos Dias de. Grandes empreendimentos, planejamento municipal e violência: os efeitos das expectativas do fracasso do Comperj. In: MIRANDA, Napoleão; MADEIRAS FILHO, Wilson (org). Desenvolvimento Sustentável: conflitos socioambientais e capitalismo no Brasil contemporâneo. Rio de Janeiro: Autografia, 2020. p. 219-252.
PINHEIRO-MACHADO, Rosana. Da esperança ao ódio: Juventude, política e pobreza do lulismo ao bolsonarismo. Cadernos IHU, [s. l.], 17 dez. 2018, edição 531 Disponível em: https://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/7486-da-esperanca-ao-odio-juventude-politica-e-pobreza-do-lulismo-ao-bolsonarismo. Acesso em: 25 set. 2025.
ROLNIK, Raquel. A Guerra dos Lugares. A colonização da terra e da moradia na era das finanças. São Paulo: Boitempo, 2015.
SILVA, Atailon da Silva Matos. Infraestrutura em dissenso: a ferrovia e o monotrilho na produção/expropriação da vida no subúrbio ferroviário de Salvador/BA. 2023. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2023.
SILVA NETO, Romeu e; OLIVEIRA, Floriano Godinho; QUINTO JUNIOR, Luiz de Pinedo; GOMES FILHO, Hélio. Impactos socioeconômicos das atividades do petróleo e de suas rendas nos municípios do circuito espacial do petróleo do estado do rio de janeiro. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, Taubaté, v. 14, n. 3, p. 293-316, mai-ago 2018. Disponível em: https://www.rbgdr.net/revista/index.php/rbgdr/article/view/3815. Acesso em: 25 set. 2025.
SIQUEIRA, Alexandre San Pedro. Determinantes socioeconômicos da produção da tuberculose: um estudo no município de Itaboraí, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, no período de 2000 a 2011. 2014. Tese (Doutorado em Saúde Pública) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2014.
VALLADARES, Lícia do Prado. Passa-se uma Casa: análise do programa de remoção de favelas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
Descargas
Publicado
Número
Sección
Licencia
Derechos de autor 2025 Stefany Ciolfi de Souza

Esta obra está bajo una licencia internacional Creative Commons Atribución 4.0.
O conteúdo da revista Antropolítica, em sua totalidade, está licenciado sob uma Licença Creative Commons de atribuição CC-BY (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt).
De acordo com a licença os seguintes direitos são concedidos:
- Compartilhar – copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato;
- Adaptar – remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial;
- O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
De acordo com os termos seguintes:
- Atribuição – Você deve informar o crédito adequado, fornecer um link para a licença e indicar se alterações foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer maneira razoável, mas de modo algo que sugira que o licenciante o apoia ou aprova seu uso;
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.