Um estudo sobre as conexões do Movimento dos Atingidos por Barragens nas enchentes do Rio Grande do Sul: novas bases sociais e heterogeneidade estatal

Résumé

O Movimento dos Atingidos por Barragens atuou intensamente nas enchentes do Rio Grande do Sul, em 2023 e 2024, tornando-se um agente de proteção e defesa civil. Para isso, construiu uma cozinha solidária em Canoas (Rio Grande do Sul), que se tornou uma tática de recrutamento de militantes entre os atingidos. Este artigo analisa como um movimento social reagiu a um desastre, mobilizando-se e se inserindo em novos territórios, ao mesmo tempo em que estabeleceu vínculos com a população afetada. Além disso, tematiza as interações entre formas de ativismos e a noção de heterogeneidade estatal, entendida como coletivos instáveis definidos de maneira relacional. A metodologia é qualitativa, formulada a partir de uma visita de campo em novembro de 2024 com militantes da organização em Canoas e Porto Alegre, quando os pesquisadores observaram uma cozinha solidária, um centro de distribuição e realizaram rodas de conversa com famílias atingidas e recrutadas. As técnicas de pesquisa foram a observação direta, entrevistas abertas e semiestruturadas e a análise de documentos. A discussão de dados se refere à atuação da organização nas enchentes para compreender como suas práticas de proteção e defesa civil favoreceram o desenvolvimento de estratégias de enraizamento e os agenciamentos construídos em relação aos atores estatais. Conclui-se que o Movimento dos Atingidos por Barragens construiu inovações organizacionais de recrutamento durante as enchentes, assim como utilizou repertórios cooperativos e conflitivos perante o Estado.