Chamada para o Dossiê "Festas na Pandemia"
A pandemia da Covid-19, iniciada no ano de 2020, trouxe o afastamento físico e o isolamento social como forma de minorar as graves consequências do assustador potencial de contágio do vírus SARS-CoV.2. O calendário das grandes festas públicas brasileiras foi suspenso e a experiência festiva fortemente impactada. Antropólogos e pesquisadores das festas e rituais populares mobilizaram discussões acerca dos efeitos da pandemia e seus desdobramentos na vida social, a partir de múltiplos ângulos e questões conceituais. Esses pesquisadores e pesquisadoras atentaram para a maneira como organizadores/as, grupos e pessoas envolvidos com a realização de diferentes festas do calendário tradicional estariam lidando com a interrupção da dinâmica rotineira de seus respectivos processos rituais ao longo do período pandêmico que veio impedir a ocupação dos espaços característicos de sua preparação e celebração. Como as festas do calendário popular tradicional se adaptaram a esse período excepcional?
A preparação e realização das festas em sua data crítica implica congraçamento e encontros que inter-relacionam dezenas a milhares de pessoas. Requerem trânsito constante por inúmeros espaços e territórios qualificados com renovados sentidos e valores. Movimentam uma extensa cadeia produtiva que fomenta o turismo e a economia de muitas cidades, envolvendo trabalho, empregos e sustento de muitas pessoas, famílias e grupos. Têm seu calendário próprio, cíclico e repetitivo, que lhes acrescenta sentidos cosmológicos amplos e a concretude de processos rituais particulares, e ainda constroem redes de afeto e sociabilidades. Tudo isso se vê profundamente afetado pela pandemia.
Como as festas tradicionais da cultura popular contemporânea – carnaval, semana santa, festejos juninos, celebrações do Divino, festas de santo, romarias, procissões, cantorias entre outras – têm enfrentado a suspensão da dimensão de presença física tão determinante no calendário ritual que confere graça e ritmo à vida social como um todo?
A moldura conceitual mais ampla da proposta é a clássica ideia antropológica de que os rituais são portas de entrada privilegiadas para a compreensão da vida social como um todo, lugares em que a experiência social é perspectivada sob múltiplos ângulos. Como está sendo reinventada a vida social vista pelo ângulo das festas, impedidas de seguirem seu curso habitual de preparo e realização anual?
Inúmeras outras perguntas desdobraram-se. Quais as formas encontradas para suprir a impossibilidade dos encontros físicos em suas diferentes escalas de amplitude? Sabemos da criativa explosão de encontros virtuais divulgados pelas redes sociais, como as lives e congêneres; nessas experiências, o que é possível manter e o que é inevitavelmente excluído? O que é considerado essencial e definidor em cada festa e de que modo essa simbolização se mantém? Como os compromissos e as obrigações festivas e religiosas são cumpridas? Quais aspectos da memória são acionados no empenho de enfrentamento do atual contexto? Como os sujeitos nelas engajados falam de sua experiência atual, quais iniciativas solidárias e esforços de manutenção de circulação econômica e turística têm sido desenvolvidos? Como a dor e o sofrimento trazidos pela pandemia se expressam no atual contexto festivo? Como retomarão, quando for possível fazê-lo, sua realização espacial e presencial plena?
A importância do calendário festivo para a vida social brasileira justifica a demanda por análises antropológicas sobre uma nova realidade que se impôs, tanto quanto acerca dos agenciamentos acionados pelos sujeitos fazedores e partícipes para produzir novas formas de organizar, executar e viver as festas.
Os artigos devem ter autoria de, ao menos, um doutor, e serão submetidos à avaliação às cegas de pareceristas externos, atendendo à política da revista. Para dar conta da diversidade de abordagens teóricas e metodológicas dos diferentes campos empíricos e problemáticas a serem debatidos, serão aceitos, preferencialmente, artigos das áreas de Antropologia e Ciências Sociais, observados os parâmetros de exogenia em relação à UFF.
Organizadores: Renata de Sá Gonçalves (UFF) e Hugo Menezes Neto (UFPE).
Prazo estendido: 19/06/2022.
OBS: indicar nos comentários aos editores que a submissão é para o Dossiê “Festas na Pandemia”.
As contribuições podem ser enviadas até 19 de junho de 2022 pelo sistema eletrônico da revista: https://periodicos.uff.br/antropolitica/about/submissions#onlineSubmissions
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