“Em nome da família brasileira”: sobre políticas de governo, (re)produção de elites e disputas narrativas
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2021.i53.a50111Palavras-chave:
Família, Etnografia, Damares Alves, Elites, ConservadorismoResumo
Neste artigo refletimos sobre os usos e disputas em torno da categoria família tal como tem sido apresentada no debate político brasileiro contemporâneo. Este estudo somase a outras reflexões existentes sobre esse tema, cujo ponto de inflexão incide sobre a chamada “virada conservadora”, que tem impactado diferentes setores da sociedade, notadamente as conquistas anteriores, asseguradas por meio de políticas públicas voltadas para a igualdade e promoção de direitos diferenciados durante os dois últimos governos então alicerçados em um modelo de democracia participativa. Nosso objetivo é de (1) sistematizar alguns dos debates, eventos e atores que vão conformar um modelo ideológico de família calcado em princípios de moralidade cristã, reprodução biológica e permanência e; (2) analisar como tal processo tem relação com possíveis reconfigurações no campo das elites político-financeiras do país, visto que nos parece ser produtivo pensar na articulação entre a ampliação da presença de grupos de elites evangélicas e católicas no debate público e a centralidade que as narrativas morais de “defesa da família” tem assumido no campo político brasileiro. Utilizando da abordagem etnográfica para acessar esse complexo cenário, ao final, argumentaremos pela noção de fronteiras morais como produtiva para explicar a gramaticalidade do discurso conservador de “defesa da família” em distintas camadas da sociedade brasileira face a supostos inimigos que estariam empenhados a “destruir a família”.
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