Entre amor, vergonha e culpa: uma análise política das emoções no contexto familiar de homens trans
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i3.a62276Palavras-chave:
Transgeneridade, Política das emoções, Parentesco, Agência., Poder.Resumo
Este artigo analisa os discursos emocionais e emocionados ligados às experiências de familiares de homens trans durante o processo de transição de gênero. A discussão trata dos resultados de uma pesquisa etnográfica que utilizou diferentes estratégias metodológicas em três cidades do nordeste brasileiro, sendo duas capitais e uma cidade do interior, entre 2020 e 2023. Inicialmente o artigo aborda os sentimentos, relatados pelos parentes dos homens trans, de vergonha e culpa associados a transgeneridade, frente às hierarquias de gênero e ao papel hegemônico que se espera que uma “boa mãe” performe. Em seguida, a análise explora como esses sentimentos “negativos” dão lugar ao amor, nas falas das nossas interlocutoras. A descrição sobre o amor emerge nos discursos familiares como justificativa para aceitar e apoiar a transição de gênero, tornando-se parte constitutiva das relações de parentesco. Além disso, o amor é utilizado como estratégia de mobilização política em um grupo ativista composto majoritariamente por mães de filhos e filhas LGBTQIAPN+. A análise dessas retóricas políticas da emoção demonstra que as concepções hegemônicas sobre a maternidade, ligadas ao amor e ao cuidado, abrem a possibilidade para que essas pessoas possam agir frente às normas de gênero e sexualidade. O artigo contribui, portanto, para compreender a maneira como as emoções são acionadas como elementos constitutivos dos meios e dos limites da agência individual e coletiva, conforme colocado por Saba Mahmood (2019), demonstrando a complexidade do potencial político das emoções frente às relações normativas de subordinação e poder.
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