“Você no sabe o que es se sentir humilhada asi”: humilhação, afetos hostis e outras regularidades afetivas do governo do refúgio
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2024.v56.i3.a62588Palavras-chave:
Afetos, Emoções, Refúgio, LGBT, Humilhação.Resumo
O objetivo deste artigo é investigar a humilhação como uma regularidade afetiva do governo do refúgio e defender a centralidade dos afetos na análise desse governo. O texto baseia-se na pesquisa de doutorado da autora, que está em andamento. A pesquisa consiste na construção de uma etnografia, resultante da dupla atuação da autora como pesquisadora e gestora na LGBT+ Movimento, uma organização voltada para o público migrante e refugiado LGBTI+. A partir desse enfoque metodológico, o estudo foca na experiência de algumas mulheres trans e lésbicas acompanhadas pela organização entre 2020 e 2022. Na primeira parte deste artigo, examina-se como uma série de reconfigurações administrativas, provocadas pelo crescimento e formalização da organização, desafiam o modelo de gestão pela intimidade, gerando conflitos. Na segunda parte, destaca-se que os afetos não são elementos novos no campo dos estudos migratórios e humanitários; no entanto, argumenta-se que o espectro de afetos se amplia quando se considera as experiências dos sujeitos no encontro com os aparatos administrativos. Na última parte, apresenta-se o caso de Maritza, uma mulher trans venezuelana, e analisam-se as dimensões micropolíticas das emoções ligadas à humilhação, a fim de evidenciar como esse afeto passa a funcionar como um mecanismo de governo, participando de maneira regular da vida dos sujeitos migrantes e refugiados. Por fim, sugere-se que as regularidades afetivas vivenciadas por Maritza e outros migrantes e refugiados estão conectadas a algumas tradições administrativas historicamente presentes nos programas destinados a essa população no Brasil.
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