Da agressão colonial ao Estado Islâmico: as origens das rivalidades carismáticas no Iraque pós-baathista (1991-2019)

Resumo

Este artigo examina a formação do discurso religioso nas lutas pelo carisma político-religioso após o colapso do Estado iraquiano após a invasão da Guerra do Golfo em 1991. Ele traça como esses discursos evoluíram como resultado de transformações sociais em guerras consecutivas desencadeadas por intervenções dos EUA. A hipótese central argumenta que, ao contrário da estabilização nacionalista obtida por meio do monopólio do carisma sob o Baathismo, que possibilitou a criação do moderno Estado-nação iraquiano, a rivalidade pelo carisma religioso, moldada pelo sectarismo, não conseguiu restaurar a unidade nacional após a invasão. Esse fracasso se deve principalmente à extrema polarização dos discursos religiosos xiitas e sunitas durante a guerra, exacerbada pela destruição dos mecanismos seculares que antes mantinham a ordem inter-religiosa. Esses mecanismos, incorporados pela administração iraquiana, foram enfraquecidos por décadas de guerra colonial e embargo desde 1991. O artigo também explora como o conflito em si, e não as diferenças religiosas, tornou-se uma força motriz por trás de novos carismas religiosos. Ao revisitar as transformações dentro do Partido Baath e o discurso político de Saddam Hussein, o estudo destaca o papel da agressão colonial na formação do sectarismo iraquiano. Em última análise, essa análise desafia a narrativa dominante da divisão religiosa, ligando-a, em vez disso, à história mais ampla da intervenção externa e seu impacto duradouro.