Apresentação: Maternidades ameaçadas: atuação acadêmica, formação de redes e a luta por direitos
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a66977Palavras-chave:
Maternidades, Violências, Justiça Reprodutiva, Burocracias, Estado.Resumo
O presente artigos apresenta a constituição do dossiê Maternidades ameaçadas: desigualdades, violências e direitos e analisa as formas de regulação e exclusão que afetam a experiência materna, com foco no Brasil e na Argentina. O texto situa o dossiê no contexto das pesquisas da Rede Transnacional de Pesquisas sobre Maternidades Destituídas, Violadas e Violentadas, da Rede Anthera e da equipe de Burocracias, Parentesco, Direitos e Infância, vinculada ao Programa de Antropología Política y Jurídica da Universidade de Buenos Aires. Essas iniciativas articulam investigação acadêmica e colaboração com atores sociais para ampliar o debate sobre justiça reprodutiva e parentalidades contemporâneas. A análise destaca como discursos jurídicos, políticas públicas e práticas institucionais produzem desigualdades reprodutivas, impactando o direito de maternar e mostra que essas formas de violência e destituição não se limitam a práticas estatais e institucionais. Elas operam em uma complexa rede de moralidades sociais, discursos midiáticos, saberes técnicos e crenças religiosas, conformando uma microfísica da violência reprodutiva que atravessa o cotidiano das mulheres e suas famílias. Além disso, evidencia formas de resistência e mobilização de mães e coletivos feministas diante dessas dinâmicas. O dossiê reúne pesquisas que contribuem para esse debate, buscando aprofundar a compreensão das relações entre maternidade, violência e desigualdade.
Downloads
Referências
ALEIXO, Mariah. Noções de violência obstétrica entre ativistas: a conformação de uma gramática moral do parto (e da maternidade)? SYN)THESIS, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 40-51, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.12957/synthesis.2021.64352. Acesso em: 7 mar. 2025.
ALLEBRANDT, Débora. Planejando rotas de fuga: uma autoetnografia dos desafios da humanização do parto no ambiente hospitalar em Maceió – AL. Interseções: Revista De Estudos Interdisciplinares, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, p. 420-445, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.12957/irei.2022.73134. Acesso em: 7 mar. 2025.
ARIZA, Marília Bueno de Araújo. Mães libertas, filhos escravos: desafios femininos nas últimas décadas da escravidão em São Paulo. Revista Brasileira de História, Marília, v. 38, n. 79, p. 151-171, 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/FjqqKdS8HgVLbQbfqNNWr8C/abstract/?lang=pt#. Acesso em: 7 mar. 2025.
BRIGGS, Laura; MARRE, Diana. Introduction: The circulation of children. In: MARRE, Diana; Briggs, Laura (ed.). International adoption: global inequalities and the circulation of children. New York: New York University Press, 2009. p. 1-27.
CARDARELLO, Andréa. The Movement of the Mothers of the Courthouse Square: “Legal Child Trafficking”, Adoption and Poverty in Brazil. The Journal of Latin American and Caribbean Anthropology, [s. l.], v. 14, n. 1, p. 140-161, 2009.
DAVIS, Angela. Racismo, controle de natalidade e direitos reprodutivos. In: DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016. p. 205-223.
DAVIS, Daná-Ain. Racismo obstétrico: a política racial da gravidez, do parto e do nascimento. Amazônica: Revista de Antropologia, Belém, v. 12, n. 2, 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.18542/amazonica.v12i2.9194. Acesso em: 7 mar. 2025.
EILBAUM, Lucía; MEDEIROS, Flavia. Onde está Juan? Moralidades e sensos de justiça na administração judicial de conflitos no Rio de Janeiro. Anuário Antropológico, Brasília, v. 41, n. 1, p. 9-33, 2018. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/anuarioantropologico/article/view/6479. Acesso em: 7 mar. 2025.
EFREM, Roberto; MELLO, Breno Marques de. A renúncia da mãe: sobre gênero, violência e práticas de Estado. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 27, n. 61, p. 291-322, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-71832021000300011. Acesso em: 7 mar. 2025.
FAYA ROBLES, Alfonsina. Regulações do corpo e da parentalidade durante o pré-natal em mulheres jovens de camadas populares. Civitas, Porto Alegre, v. 15, n. 2, p. 190-213, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.15448/1984-7289.2015.2.17985. Acesso em: 7 mar. 2025.
FAZZIONI, Natália. Nem bom, nem mau: reflexões sobre ‘arranjos de cuidado’ materno em dois contextos de pesquisa. SYN)THESIS, Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, p. 18-27, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.12957/synthesis.2021.64350. Acesso em: 7 mar. 2025.
FAZZIONI, Natália; LERNER, Kátia. Agenciamentos de mulheres que amamentam: refletindo sobre amamentação, maternidade e internet no Brasil. Interface, Botucatu, v. 28, e220698, 2024a. Disponível em: https://doi.org/10.1590/interface.220698. Acesso em: 7 mar. 2025.
FAZZIONI, Nátalia; LERNER, Kátia. Mudando a conversa e ‘ficando com o problema’: advogando por perspectivas feministas e interseccionais sobre amamentação. Interface, Botucatu, v. 28, e240208, 2024b. Disponível em: https://doi.org/10.1590/interface.240208. Acesso em: 7 mar. 2025.
FERNANDES, Camila. As mães abandonantes: o amor nas fraturas da desigualdade. In: FERNANDES, Camila. Figuras da causação: as novinhas, as mães nervosas e mães que abandonam os filhos. Rio de Janeiro: Telha, 2021. p. 233-287.
FONSECA, Claudia. Ser mulher, mãe e pobre. In: DEL PRIORE, Mary (org.). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 1997. p. 510-553.
FONSECA, Claudia. Mães ‘abandonantes’: fragmentos de uma história silenciada. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 20, n. 1, p. 13-32, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-026X2012000100002. Acesso em: 7 mar. 2025.
FONSECA, Claudia. The de-kinning of birthmothers: reflections on maternity and being human. Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology, Florianópolis, v. 8, n. 2 , p. 307-339, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1809-43412011000200014. Acesso em: 7 mar. 2025.
FONSECA, Claudia, MARRE, Diana; RIFIOTIS, Fernanda. Governança reprodutiva: um assunto de suma relevância política. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 27, n. 61, p. 7-46, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-71832021000300001. Acesso em: 14 mar. 2025.
GINSBURG, Faye; RAPP, Rayna (ed.). Conceiving the New World Order: the global politics of reproduction. Berkeley: University of California Press, 1995.
GOMES, Janaína Dantas Germano (coord.). Primeira infância e maternidade nas ruas da cidade de São Paulo. São Paulo: Lampião, Conteúdo e Conhecimento, 2017.
GOMES, Janaína Dantas Germano. O cuidado em julgamento: um olhar sobre os processos de Destituição do Poder Familiar no estado de São Paulo. 2022. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.11606/T.2.2022.tde-19012023-190700. Acesso em: 7 mar. 2025.
GOMES, Janaína Dantas Germano. Desafios da pesquisa empírica com processos judiciais: observações a partir da experiência com autos de destituição do poder familiar. Revista da Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte, v. 84, p. 217-242, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.12818/P.0304-2340.2024v84p217. Acesso em: 7 mar. 2025.
GOMES, Janaína Dantas Germano. Famílias (im)possíveis segundo o poder judiciário: um olhar desde os processos de destituição do poder familiar. Revista de Estudos Empíricos em Direito, São Paulo, v. 11, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.19092/reed.v11.924. Acesso em: 7 mar. 2025.
GONZALEZ, Lélia . Racismo e sexismo na cultura brasileira. In: SILVA, Luiz Antonio Machado da et al. Movimentos sociais urbanos, minorias e outros estudos. Brasília: ANPOCS, 1983. p. 223-244. (Ciências Sociais Hoje, v. 2).
HILL COLLINS, Patricia. As mulheres negras e a maternidade. In: HILL COLLINS, Patricia. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo: Boitempo, 2019. p. 291-328.
hooks, bell. Constituir um lar. Espaço de resistência. In: hooks, bell. Anseios: Raça, gênero e políticas culturais. São Paulo: Elefante, 2019. p. 102-118.
LOWENKRON, Laura; VIANNA, Adriana. O duplo fazer do gênero e do Estado: interconexões, materialidades e linguagens. Cadernos Pagu, Campinas, v. 51, e175101, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1590/18094449201700510001. Acesso em: 14 mar. 2025.
LEINAWEAVER, Jessaca; FONSECA, Claudia. The state and children’s fate: reproduction in traumatic times. Childhood, [s. l.], v. 14, n. 3, p. 291-299, 2007.
MATTAR, Laura Davis; DINIZ, Carmen Simone Grilo. Hierarquias reprodutivas: maternidade e desigualdades no exercício de direitos humanos pelas mulheres. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, Botucatu, v. 16, n. 40 , p. 107-120, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1414-32832012005000001. Acesso em: 7 mar. 2025.
NUCCI, Marina; FAZZIONI, Natalia. Amor ou risco? Refletindo sobre sentidos, regulações e orientações a respeito do leite materno a partir de casos de “amamentação cruzada”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 27, n. 61, p. 291-322, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-71832021000300010. Acesso em: 7 mar. 2025.
PITA, Maria. La construcción de la maternidad como lugar político en las demandas de justicia. Familiares de víctimas del terrorismo de estado y de la violencia institucional en Argentina. Arenal: Revista de historia de las mujeres, Granada, v. 8, n. 1, p. 127-154, 2001.
POSOCCO, Silvia. Expedientes: fissured legality and affective states in the transnational adoption archives in Guatemala. Law, Culture and the Humanities, [s. l.], v. 7, n. 3, p. 434-456, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.1177/1743872110381303. Acesso em: 7 mar. 2025.
URRUZOLA, Patricia. Ex-proprietários nos dias seguintes à abolição: práticas e discursos de “escravização” de ingênuos (Rio de Janeiro, 1888). História, Histórias, Brasília, v. 4, n. 8, p. 155–172, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.26512/hh.v4i8.10950. Acesso em: 14 mar. 2025.
VIANNA, Adriana; FARIAS, Juliana. A guerra das mães: dor e políticas em situações de violência institucional. Cadernos Pagu, Campinas, v. 37, p. 79-116, 2011. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0104-83332011000200004. Acesso em: 14 mar. 2025.
VILLALTA, Carla. Antropología de las intervenciones estatales sobre la infancia, la adolescencia y la familia. Etnografiando prácticas cotidianas, construyendo perspectivas analíticas. Cuadernos de Antropología Social, Buenos Aires, v. 53, p. 21-37, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.34096/cas.i53.10169. Acesso em: 14 mar. 2025.
VILLALTA, Carla. De los derechos de los adoptantes al derecho a la identidad: los procedimientos de adopción y la apropiación criminal de niños en Argentina. The Journal of Latin American & Caribbean Anthropology, [s. l.], v. 15, n. 2, p. 338-362, 2010. Disponível em: https://ri.conicet.gov.ar/handle/11336/190318. Acesso em: 14 mar. 2025.
VILLALTA, Carla. Entregas y secuestros. El rol del Estado en la apropiación de niños. Buenos Aires: Editorial Del Puerto, 2012.
VILLALTA, Carla. Recréer les images de danger et de salut. Les sens donnés à l’enfance “appropriée” par le terrorisme d’état en Argentine. Revue Problèmes d’Amérique latine, n; 108, p. 37-55, 2018. Disponível em: https://shs.cairn.info/revue-problemes-d-amerique-latine-2018-1-page-37?lang=fr&tab=sujets-proches. Acesso em: 14 mar. 2025.
VILLALTA, Carla; GESTEIRA, Soledad. Violencias, demandas de justicia e identidad: problematizando la apropiación de niños y niñas desde América Latina. Revista del Museo de Antropología, Córdoba, v. 16, n. 2, p. 303-316, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.31048/1852.4826.v16.n2.42372. Acesso em: 14 mar. 2025.
Downloads
Publicado
Edição
Secção
Licença
Direitos de Autor (c) 2025 Natália Helou Fazzioni, Carla Villalta, Janaína Dantas Germano Gomes

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
O conteúdo da revista Antropolítica, em sua totalidade, está licenciado sob uma Licença Creative Commons de atribuição CC-BY (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt).
De acordo com a licença os seguintes direitos são concedidos:
- Compartilhar – copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato;
- Adaptar – remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial;
- O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
De acordo com os termos seguintes:
- Atribuição – Você deve informar o crédito adequado, fornecer um link para a licença e indicar se alterações foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer maneira razoável, mas de modo algo que sugira que o licenciante o apoia ou aprova seu uso;
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.