Apresentação: Memórias ambíguas: modulações narrativas e gestão do passado
DOI :
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a68407Mots-clés :
Políticas de memória, Narrativas, Estado, Conflitos.Résumé
O campo das políticas de memória é atravessado por diversos conceitos das ciências sociais e humanas e por formas de narrar elaboradas por produções literárias e artísticas. Neste artigo introdutório ao dossiê, percorremos o giro interpretativo que compreendeu a linguagem como máquina operatória da organização de mundos, em uma abordagem voltada para as linhas de força que sustentam ou tensionam as inscrições e ações memorialistas. Colocamos no centro da análise os territórios em suas historicidades e conflitos, enfatizando situações em que o lembrar pode ser meio de tomar posição, e o narrar e o escutar, caminhos para atravessar o interdito – sejam essas ações e inscrições desenvolvidas em torno de disputas por narrativas históricas, processos de restituição de objetos, intervenções em acervos museais e arquivos, criações e demolições de infraestruturas memoriais ou da patrimonialização de símbolos do passado. Interessam-nos em particular as políticas de reconhecimento e preservação que mobilizam “memórias ambíguas” para questionar consensos sociais e autoridades enunciativas, desafiando lógicas classificatórias indexadoras de sujeitos, territórios e sentidos em categorias estáveis como cultura, nação, sociedade e identidade. Argumentamos que as narrativas portadoras de ambiguidades, contradições e fissuras, ao insistirem em transbordar, desviar e subverter, abrem caminho para a invenção e intervenção política.
Téléchargements
Références
ABU-LUGHOD, Lila. A escrita contra a cultura. Tradução de Francisco Cleiton Vieira Silva do Rego; Leandro Durazzo. Equatorial, Revista do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Natal, v. 5, n. 8, p. 193-226, 2018 [1991]. Disponível em: https://periodicos.ufrn.br/equatorial/article/view/15615. Acesso em: 17 maio 2025.
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. Tradução de Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. [1983].
ASSMAN, Aleida. Espaços da recordação: Formas e transformações da memória cultural. Tradução de Paulo Soethe. São Paulo: Editora Unicamp, 2021. [2006].
AZOULAY, Ariella Aïcha. História Potencial: Desaprender o imperialismo. Tradução de Célia Euvaldo. São Paulo: Ubu Editora, 2024. [2019].
BANCEL, Nicolas; BLANCHARD, Pascal; LEMAIRE, Sandrine (org.). La fracture coloniale: La société française au prisme de l’héritage colonial. Paris: La Découverte, 2005.
BARBOT, Janine; DODIER, Nicolas. Construir uma abordagem sociológica da reparação. Tradução de Roberta Sampaio Guimarães. Antropolítica, Revista Contemporânea de Antropologia, Niterói, v. 55, n. 3, 2023. Disponível em: https://periodicos.uff.br/antropolitica/article/view/57063/35397. Acesso em: 19 maio 2025.
BRANCHE, Raphaëlle. La torture et l’armée pendant la guerre d’Algérie: 1954–1962. Paris: Gallimard, 2001.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
BUTLER, Judith; ATHANASIOU, Athena. Dispossession: The performative in the political. Cambridge: Polity, 2013.
CACIATORI, Emanuela; FAGUNDES, Lucas. Direito e literatura latino-americana: os direitos humanos insurgentes na guerra silenciosa de Manuel Scorza. Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Américas, Brasília, v. 12, n. 2, p. 264-284, 2018. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/repam/article/view/28956/21484. Acesso em: 17 maio 2025.
CALLADO, Antônio. Quarup. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.
CARPENTIER, de Alejo. O Século das Luzes. Tradução de Sérgio Molina. São Paulo: Companhia das Letras, 2024. [1962].
CASTRO, João Paulo Macedo e. Ritos da memória: trajetórias e experiências sobre a ditadura militar. Mana, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 7-38, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mana/a/FYGRFrVvPL88JbBdDZ9pp9h/. Acesso em: 19 maio 2025.
CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Tradução de Claudio Willer. São Paulo: Veneta, 2020.
CLIFFORD, James. A experiência etnográfica. Antropologia e literatura no século XX. Tradução de Patrícia Farias. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002. [1988].
CLIFFORD, James. Colecionando arte e cultura. Tradução de Anna O. B. Barreto. Revista do Patrimônio, [s. l.], v. 23, p. 69-89, 1994.
COTTIAS, Myriam. La question noire: Histoire d’une construction coloniale. Paris: Bayard, 2007.
DARNTON, Robert. História, eventos e narrativa: incidentes e cultura do quotidiano. Tradução de René Lommez. Varia Historia, Belo Horizonte, v. 21, n. 34, p. 289–304, 2005.
DERRIDA, Jacques. A escrita e a diferença. Tradução de Maria Beatriz Marques Nizza da Silva. São Paulo: Perspectiva, 1971.
FANON, Frantz. Os condenados da terra. Tradução de Ligia Fonseca Ferreira; Regina Salgado Campos. Rio de Janeiro: Zahar, 2022.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 1: A vontade de saber. Tradução de Maria Thereza da Costa Albuquerque; J. A. Guilhon Albuquerque. Rio de Janeiro: Graal, 1977.
GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. Tradução de Galeano de Freitas. São Paulo: Paz e Terra, 1979. [1971].
GAMBONI, Dario. The Destruction of Art. Iconoclasm and Vandalism since the French Revolution. London: Reaktion Books, 1997.
GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. Cem Anos de Solidão. Tradução de Eric Nepomuceno.
Rio de Janeiro: Record, 2005. [1967].
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1989. [1973].
GONÇALVES, Ana Maria. Um defeito de cor. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.
GUIMARÃES, Antonio Sergio. Democracia racial: o ideal, o pacto e o mito. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, v. 61, p. 147-162, 2001.
GUIMARÃES, Roberta Sampaio. A utopia da Pequena África: Projetos urbanísticos, patrimônios e conflitos na Zona Portuária carioca. Rio de Janeiro: FGV, 2014.
GUIMARÃES, Roberta Sampaio. O patrimônio cultural na gestão dos espaços do Rio de Janeiro. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 29, n. 57, p. 149-168, 2016. Disponível em: https://periodicos.fgv.br/reh/article/view/58969. Acesso em 19 maio 2025.
GUIMARÃES, Roberta Sampaio; CASTRO, João Paulo Macedo e. A gestão empresarial das memórias sensíveis: poderes, sentidos e práticas em torno do Cais do Valongo no Rio de Janeiro. Tempo Social, São Paulo, v. 35, n. 2, p. 63-82, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2023.204420. Acesso em 19 maio 2025.
HANDLER, Richard. On having a culture. In: STOCKING, George (org.). Objects and others: Essays on museums and material culture. Madison: The Wisconsin University Press, 1985. p. 192-217.
HARTMAN, Saidiya. Vidas rebeldes, belos experimentos: Histórias íntimas de meninas negras desordeiras, mulheres encrenqueiras e queers radicais. Tradução de Floresta. São Paulo: Fósforo, 2022. [2019].
HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: Arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2000.
LEDOUX, Sébastien. Le devoir de mémoire: Une formule et son histoire. Paris: CNRS, 2016.
MARCUS, George. Identidades passadas, presentes e emergentes: requisitos para etnografias sobre a modernidade no final do século XX ao nível mundial. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 34, p. 197-221, 1991.
MARQUES, Roberto. Problemas de patrimônio como problemas de gênero: disjunções entre feminismo e cultura popular na Festa de Santo Antônio em Barbalha (CE). Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares, Rio de Janeiro, v. 22, n. 3, p. 463-491, 2020. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/intersecoes/article/view/56792. Acesso em: 19 maio 2025.
MATTEI, Ugo; NADER, Laura. Pilhagem: Quando o Estado de Direito é ilegal. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2013.
MEYER, Esther da Costa. The place of place in memory. In: TREIB, Marc (ed.). Spatial recall: Memory in architecture and landscape. New York; London: Routledge, 2009. p. 177-193.
MITCHELL, Timothy. Society, economy, and the state effect. In: STEINMETZ, George (ed.). State/culture: State-formation after the cultural turn. Ithaca: Cornell University Press, 1999. p. 76–97.
NDIAYE, Pap. La condition noire: Essai sur une minorité française. Paris: Calmann-Lévy, 2008.
OLIVEIRA, João Pacheco de. O nascimento do Brasil e outros ensaios. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
PAXTON, Robert. Vichy France. Old Guard and New Order, 1940–1944. New York: Alfred A. Knopf, 1972.
PEIXOTO, Paulo. A linguagem consensual do patrimônio. In: PAES, Maria Tereza Duarte; SOTRATI, Marcelo Antonio (org.). Geografia, turismo e patrimônio cultural: Identidades, usos e ideologias. São Paulo: Annablume, 2018. p. 137-149.
POLLAK, Michael. Memória, esquecimento e silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.
POMIAN, Krzysztof. Colecção. Enciclopédia Einaudi 1: Memória-História. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1984. p. 51-86.
PROENÇA, Rogério. A Exaustão das cidades. Antienobrecimento e intervenções urbanas em cidades brasileiras e portuguesas. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 25, n. 72, p. 73-88, 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-69092010000100006. Acesso em: 19 maio 2025.
RASSOOL, Ciraj. Remaking the Museum after colonialism. In: EMMERLING, Leonhard; GUPTA, Latika; PROENÇA; Luiza; BIWA, Memory (ed.). Museums | Futures. Wien - Berlin: Goethe Institute & Turia + Kant, 2021. p. 339-356.
RIOS, Flávia. O protesto negro no Brasil contemporâneo (1978-2010). Lua Nova: Revista de Cultura e Política, São Paulo, v. 85, p. 41-79, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-64452012000100003. Acesso em: 23 maio 2025.
ROSALDO, Renato. Culture & Truth. The remaking of social analysis. Boston: Beacon Press, 1989.
ROUSSO, Henry. Le syndrome de Vichy (1944-1987). Paris: Le Seuil, 1987.
SAID, Edward. Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
SCORZA, Manuel. Garabombo, o invisível. São Paulo: Círculos, 1975.
SCORZA, Manuel. O Cavaleiro Insone. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
SCORZA, Manuel. Cantar de Agapito Robles. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
SCORZA, Manuel. A tumba do relâmpago. São Paulo: Nova Fronteira, 1979.
SCORZA, Manuel. Bom dia para os defuntos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.
SEYFERTH, Giralda. Colonização, imigração e identidade nacional. Petrópolis: Vozes, 1990.
SHARPE, Christina. No vestígio: Negridade e existência. Tradução de Jess Oliveira. São Paulo: Ubu Editora, 2023. [2016].
SMITH, Laurajane. The discourse of heritage. In: SMITH, Laurajane. Uses of Heritage. Londres: Routledge, 2006. p. 11-43.
SOUZA LIMA, Antonio Carlos de. Um grande cerco de paz: Poder tutelar, indianidade e formação do Estado no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.
SOUZA LIMA, Antonio Carlos de; CASTRO, João Paulo Macedo e. Para uma abordagem antropológica da(s) política(s) pública(s). In: SOUZA LIMA, Antonio Carlos de; DIAS, Caio Gonçalves (org.). Maquinaria da unidade; bordas da dispersão: Estudos de antropologia do Estado. Rio de Janeiro: 7Letras, 2021. p. 92-122.
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Tradução de Sandra Regina Goulart Almeida; Marcos Pereira Feitosa; André Pereira. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
STORA, Benjamin. La gangrène et l’oubli: La mémoire de la guerre d’Algérie. Paris: La Découverte, 1991.
TAUSSIG, Michael. Xamanismo, colonialismo e homem selvagem: Um estudo sobre o terror e a cura. Tradução de Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Paz e Terra, 1993. [1987].
TAUSSIG, Michael. The Magic of the State. New York: Routledge, 1997.
TRAJANO, Wilson. Patrimonialização dos artefatos culturais e a redução dos sentidos. In: SANSONE, Livio (org.). Memórias da África: Patrimônios, museus e políticas das identidades. Salvador: EDUFBA: ABA, 2012. p. 11-40.
TURNER, Victor. Dramas, campos e metáforas: Ação simbólica na sociedade humana. Tradução de Fabiano Moraes. Niterói: EdUFF, 2008. [1974].
VARGAS LLOSA, Mario. Conversa na Catedral. Tradução de Ari Roitman; Paulina Wacht. São Paulo: Alfaguara, 2016. [1969].
VERGÈS, Françoise. Programa da desordem absoluta: Decolonizar o Museu. Tradução de Marina Echalar. São Paulo: Ubu Editora, 2023.
VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Tradução de Jamille Pinheiro Dias; Raquel Camargo. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
WIENER, Gabriela. Exploração. Tradução de Sérgio Molina. São Paulo: Todavia, 2023.
WIEVIORKA, Annette. L’Ère du témoin. Paris: Plon, 1998.
Téléchargements
Publiée
Numéro
Rubrique
Licence
(c) Copyright Roberta Sampaio Guimarães, João Paulo Macedo e Castro, Roberto Marques 2025

Ce travail est disponible sous la licence Creative Commons Attribution 4.0 International .
O conteúdo da revista Antropolítica, em sua totalidade, está licenciado sob uma Licença Creative Commons de atribuição CC-BY (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/deed.pt).
De acordo com a licença os seguintes direitos são concedidos:
- Compartilhar – copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato;
- Adaptar – remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial;
- O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
De acordo com os termos seguintes:
- Atribuição – Você deve informar o crédito adequado, fornecer um link para a licença e indicar se alterações foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer maneira razoável, mas de modo algo que sugira que o licenciante o apoia ou aprova seu uso;
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.