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Historia de la salud en América Latina (siglos XVI-XXI): instituciones, sujetos, debates y prácticas
Núm. 37 (2022)Nos últimos anos, as pesquisas na área de História da Saúde experimentaram importantes renovações epistemológicas, como a inclusão de novos objetos de estudo. Assim como, os contornos da noção de ciência se ampliaram permitindo considerar certas práticas, saberes e instituições relacionadas à saúde, que antes foram recusadas como próprias da disciplina. Em relação ao continente latino-americano, observamos que suas especificidades locais/regionais, assim como suas conexões com debates globais vêm sendo exploradas pelos historiadores. Dentre os temas mais contemplados, podemos destacar o reconhecimento dos saberes indígenas para tratamento de padecimentos do corpo e alma, atuação de práticas médicas não licenciadas em período colonial, instituições assistenciais da época moderna, produção de conhecimentos científicos na região e suas conexões com a comunidade científica global, e políticas sanitárias de cooperação internacional.
Nesse dossiê, os autores foram convidados a submeter propostas de artigos referentes às questões da saúde na América Latina em perspectiva histórica. Considerando a amplitude do tema, o objetivo foi reunir pesquisas de discentes que explorassem as relações entre a saúde e suas dimensões sociais, econômicas e políticas da região em quaisquer contextos. A seleção de textos aqui publicados nos permite afirmar o crescente interesse dos estudantes de graduação e pós-graduação por temas da área. Atribuímos essa tendência à consolidação experimentada nas últimas décadas pela área de estudo e ao episódio pandêmico que vem sendo experimentado desde 2020 pela comunidade global, que reforçou a ideia de doença como evento histórico de escala individual e coletiva.
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Cantareira 20 anos: edição especial
Vol. 1 Núm. 36 (2022)A Cantareira, após o seu germinar, sempre se desenvolveu a partir de muitas mãos. Dada as condições de cada época, poucos são os registros que detemos para melhor contextualizar o que veio a seguir. A Revista passou sua infância e debute firmes, mas também um pouco turbilhoada. Cresceu, ganhou notoriedade e se profissionalizou. Seus membros, colegas e apoiadores também viram expandir o bolo da produção acadêmica, da valorização das humanidades e da História e das transformações que trouxeram novos ventos para a sociedade brasileira – e a Universidade, em especial.
Em seus vinte anos, o fascículo foi palco dessas transformações, consolidadas nas temáticas e pesquisas que compuseram cada uma de suas edições. Entre temáticas que vêm e voltam, algumas outras parecem constituir um fio-condutor que marca instituições e seus investigadores. Durante duas décadas se discutiram temas como os conflitos agrários e a sociedade colonial; os espaços da cidade e do campo; literatura, campo científico e teoria da História; gênero, fronteiras, trabalhadores etc.
Se a conjuntura permitiu que esses alunos mobilizassem uma estrutura para coordenação e financiamento de uma revista, mobilizados pelo interesse de seguir o processo de renovação das pesquisas realizadas na Universidade, ela também foi palco de uma reestruturação que os absorveu na qualidade de docentes. A “década de ouro” do fomento à investigação no país permitiu não apenas a reprodução de iniciativas discentes, mas garantia, a largo prazo, a perspectiva de ingresso nas carreiras dos magistérios de nível básico, técnico e superior.
Com a saída de muitos e a entrada de outros, a Cantareira chegou em meados da década de dez com uma nova roupagem, já cindida pelos critérios de avaliação consolidados na área. Com a articulação de distintos segmentos da pós-graduação, se retomava a filiação umbilical de uma Área de História que defendia a permanência entre aquele último e a graduação. Neste sentido, os últimos anos, a despeito das particularidades que carrega, buscou sempre dar luz aos princípios balisares do periódico.
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Construindo impérios na Idade Moderna: Negócios, política, família e relações globais
Núm. 35 (2021)Nos últimos anos, com as abordagens trazidas pela História Global, os estudos das redes foram tendo sua importância renovada, sobretudo como método para o entendimento das relações complexas entre indivíduos, grupos e estados, tal como o colocou Fernand Braudel.
No campo da História, esta análise serviu como metodologia para compreender os sujeitos dentro das redes que se estabeleciam a partir de laços familiares, religiosos, clientelares, políticos ou econômicos, mas também dos mecanismos de controle, formais ou informais, que permitiram o desenvolvimento dessas relações na longa distância, em diferentes universos políticos, econômicos, sociaise culturais.
Quando nos referimos a agentes, não nos referimos apenas a comerciantes ou funcionários régios (governadores, magistrados, militares, bispos etc.),mas todos aqueles que, de uma forma ou de outra, fizessem ou pudessem fazer parte de uma rede, seja ela política, econômica, religiosa ou familiar.
No âmbito desse dossiê, os historiadores foram chamados a pensar a construção dos impérios na época moderna a partir de temas como política, família, redes e relações globais. Os doze textos que agorase apresentam são fruto dessa proposta, com o acréscimo de análises distintas, que elevam o debate historiográfico a questões coloniais com muita maestria.
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Mundos do Trabalho
Núm. 34 (2021)A tradição da temática do trabalho na historiografia não impediu que apenas após 18 anos da sua primeira edição, a Revista Cantareira trouxesse entre suas publicações o seu primeiro dossiê inteiramente dedicado ao tema da História do Trabalho. Esta ausência se torna ainda mais surpreendente quando nos deparamos com a grande procura de pesquisadoras e pesquisadores não só de todo o Brasil, como também de outras partes do globo. De fato, as pesquisas de História do Trabalho e dos Trabalhadores e Trabalhadoras nas últimas décadas vem cada vez mais ampliando seu escopo e seus debates, mostrando que a experiência do homem branco, adulto e operário, que por muito tempo figurou na historiografia como o trabalhador ideal, não é a experiência universal dos mundos do trabalho.
Com um número recorde de artigos submetidos e aprovados, os trabalhos deste Dossiê mostram uma História do Trabalho dinâmica, plural, e que extrapola os grandes centros urbanos e as fronteiras nacionais. Ao mesmo tempo que os temas clássicos da História do Trabalho são revistos com novos olhares, abordagem e fontes, demonstrando a riqueza das pesquisas produzidas e a sua diversidade.
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Fascismos e novas direitas
Núm. 33 (2020)Em um contexto de crescimento de movimentos de extrema-direita pelo globo, as temáticas dos fascismos e das novas direitas vêm ganhando cada vez mais destaque e relevância nos debates acadêmicos. Seria o fascismo uma atitude desviante? Uma doença? Uma anomalia do sistema? Um retorno nostálgico a um passado "glorioso"? Além disso, seriam todas as direitas mais radicais, fascistas? Esta discussão foi objeto de grandes nomes dentro da historiografia e das ciências humanas e sociais, como Leandro Konder, Daniel Guerin, Ian Kershaw, William Reich, Antônio Gramsci, Umberto Eco, Hannah Arendt, Robert Paxtone e até mesmo, José Carlos Mariátegui. Cada um, a partir de diferentes abordagens –aproximadas ou discordantes –, elaboraram as suas perspectivas muitas vezes ancorados nas questões anteriormente apontadas.
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O dossiê Fascismos e Novas direitas, nesta edição da Revista Cantareira, nasceu em meio à pandemia do coronavírus (COVID-19), uma crise sanitária internacional que, no contexto brasileiro, ganha o reforço de um Estado suicidário, para fazer menção às palavras de Vladimir Safatle. Como em outros governos – que vêm demonstrando uma preocupação desproporcional com a Economia –, o Brasil pretere a vida humana em nome de uma pretensa preocupação com os números. O intuito, portanto, é contribuir com a análise de acontecimentos recentes, discussões teóricas pertinentes e recuperação histórica das ciências humanas em geral, essenciais para a compreensão crítica do mundo em que vivemos. Através das ilações dos nossos autores, percebemos que não somente há um avanço fascista na política mundial, mas um intento de consolidar uma narrativa conservadora sobre a sociedade civil e a política, bem como das organizações alternativas mais conservadoras. Estes aspectos não são uma novidade do século XXI; tampouco, algo exclusivo ao século passado.
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Ideias e práticas econômicas no mundo atlântico: liberdade, circulação e contradições entre os séculos XVII e XIX
Núm. 32 (2020)Ao cruzarem o Atlântico, as ideias econômicas formuladas no continente europeu encontraram diferentes formas de recepção nos séculos que constituem a transição da modernidade para a contemporaneidade, ou no que alguns teóricos chamam “longo século XVIII” (Maxwell, 1999; Arrighi, 1994). Essas ideias difusas, que posteriormente seriam aglutinadas em conceitos homogeneizantes, como “liberalismo” e “mercantilismo” (Pincus, 2012), fundamentaram as práticas econômicas e políticas do cenário colonial e da posterior formação dos estados independentes no continente americano.
Especialmente no que diz respeito às ideias de liberdade humana e comercial, emergiu um pronunciado contraste com o contexto social americano, obrigando a reflexões e práticas próprias, diferentes das europeias (Losurdo, 2006). Nesse sentido, vemos no norte homens como Thomas Jefferson, grandes porta-vozes da liberdade que possuíam escravos, trocando cartas sobre como resolver as contradições que se tornavam cada vez mais difíceis de ignorar (Morgan, 2000).
No mundo ibero-americano, um olhar mais atento demonstra a ineficácia do termo “mercantilismo” como descrição única da realidade. Nesse contexto, vemos o influente dom Luís da Cunha escrever ao marquês de Abrantes: “Beijo infinitamente as mãos de Vossa Excelência [...] a saber que eu suponho ser-nos conveniente e útil o livre comércio com os holandeses na costa da África…”. A carta, escrita em 1728, demonstra a interessante e tensa coexistência de práticas típicas do Antigo Regime com ideias de liberdade e problematiza a visão de um mundo ibero-americano atrasado, que seria alcançado por essas ideias somente a partir da Revolução Francesa (Furtado, 2014).
Como se sabe, aparentes contradições históricas são, na verdade, evidências de um conhecimento insuficiente, convidando, portanto, o olhar mais atento do historiador. No caso da circulação e da aplicação das ideias econômicas no mundo atlântico, o tema pode ser melhor explorado a partir de diversos aportes teórico-metodológicos. Sendo um tema por natureza desprovido de recorte geográfico, visto que se concentra na circulação de ideias e práticas, é fácil concluir que pode ser tratado a partir do campo da História Global, seja a partir da perspectiva das connected histories (Subrahmanyam, 1997; Conrad, 2016) ou da dos Sistemas-Mundo (Wallerstein, 1974), embora esta última seja menos útil para apreender a circulação de ideias do que a de práticas.
Para o estudo da circulação de ideias, nenhuma abordagem parece ser mais promissora que a da Escola de Cambridge, definida como “ideias em contexto” por seu maior representante, Quentin Skinner. Através da comparação e da exploração das contradições e das discussões de época, essa escola captou as diferentes acepções relacionadas a termos excessivamente repetidos nas discussões políticas, como “estado”. Como resultado, identificaram a completa ausência de modelos prontos a serem aplicados nos centros de tomada de decisão e que, portanto, pudessem ser repetidos pelos historiadores como descrição da realidade estudada (Skinner, 1969).
Assim, não há nada que faça crer que essa perspectiva não possa ser adotada para as ideias econômicas. A perspectiva, aliás, é muito parecida com a de Steven Pincus, – ainda que esse historiador não reivindique associação a essa abordagem – , ao propor uma revisão do “mercantilismo” explorando as discussões no interior dos centros de tomada de decisão.
São diversas as formas de tratamento que podem ser dadas a esse tema urgente, apontadas aqui apenas algumas poucas. Por sua relativa novidade, espera-se que o Dossiê seja marcado não pela predominância de uma delas, mas pela pluralidade de abordagens teóricas e metodológicas. O resultado certamente será o do conhecimento mais aprofundado da racionalidade econômica no mundo atlântico, escapando das definições homogeneizantes de “liberalismo”, mais aplicada para os espaços ao norte, “mercantilismo”, que descreveria melhor os espaços do sul.
Explorar os diversos caminhos da tradição liberal ao longo do tempo é um exercício de compreender o mundo em que vivemos. De forma paralela e oposta, é possível perceber ainda os diversos caminhos históricos de outra tradição, apologética do papel do Estado como mediador, igualmente importante para compreender a constituição do capitalismo tal como o conhecemos hoje. Convidamos os historiadores interessados a mergulhar nesse grande problema histórico.
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O esporte em tempos de exceção: práticas desportivas e ações políticas durante as ditaduras na América Latina no século XX
Núm. 31 (2019)Sem abrir mão da interdisciplinaridade, o presente dossiê procura analisar os estudos sobre o esporte – e, de forma mais específica, sobre o futebol – existentes em tempos de exceção, durante as ditaduras na América Latina, no século XX. A história do esporte já superou a ideia de que seu campo de estudo pertencia, primordialmente, aos profissionais ligados exclusivamente à sua prática ou ao estudo delas, como os atletas e profissionais da educação física. O presente dossiê, nesse sentido, compreende o esforço de estimular e reunir trabalhos que trazem reflexões sobre a diversidade cultural de um fenômeno que, cada vez mais, requer diferentes campos de saberes para sua a compreensão. Antropólogos, sociólogos e posteriormente historiadores vêm, pelos menos desde a década de 1970, debruçando pesquisas sobre as práticas esportivas e suas ações culturais e políticas, bem como a maneira como essas ações se relacionam com o momento político vivido.