DIREITO CONSTITUCIONAL CONTEMPORÂNEO E OS DESAFIOS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS: A LIBERDADE E AUTONOMIA DA VONTADE E A ANTECIPAÇÃO TERAPÊUTICA DO PARTO NO CASO DE FETOS ANENCÉFALOS / CONTEMPORARY CONSTITUTIONAL LAW AND THE CHALLENGES OF FUNDAMENTAL RIGHTS..

Autores

  • Gilson Matilde Diana Academia Nacional de Polícia-ANP.

DOI:

https://doi.org/10.22409/rcj.v2i4.139

Palavras-chave:

Anencéfalo, Autonomia da Vontade, Direitos Fundamentais, Separação dos poderes, Kant, Anencephaly, Abortion, Autonomy of the Will, Fundamental rights, Autonomía de la voluntad, Derechos fundamentales.

Resumo

Resumo: O presente ensaio aborda a questão da interrupção terapêutica do parto no caso de fetos acometidos de anencefalia. Estes casos se apresentam como desafios aos direitos fundamentais, pois no Brasil o aborto não é permitido, e apenas existe exclusão de ilicitude quando em dois casos possíveis (art. 128 do Código Penal): o chamado aborto necessário, (I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante) ou o aborto no caso de gravidez resultante de estupro, (II - se a gravidez resulta de estupro). Com o desenvolvimento tecnológico surgiram novas formas de detectar a má formação fetal e a legislação penal não acompanhou esta evolução, uma vez que ela data dos anos 40 do século passado. Com o advento da Constituição de 1988, os direitos fundamentais passaram a proteger a dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III), os princípios da liberdade e a autonomia da vontade (art. 5º, inciso II), bem como o direito à saúde (art. 6º e 196). O Supremo Tribunal Federal (STF), órgão guardião de nossa constituição, foi acionado para avaliar a questão por meio de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Neste ínterim, buscou-se observar a continuidade de construção de nossa constituinte e seus alcances, ao mesmo tempo em que se pôde perceber as possibilidades de mudanças por meio da interpretação de nosso direito constitucional – tema que agrega a doutrina da separação dos poderes. Por fim, fez-se uma análise à luz do conceito de autonomia da vontade em Kant, e os desafios por ela colocados.

Abstract: In Brazil, abortion is not allowed. There is only exclusion of illegality in two possible cases: the so-called necessary abortion, or abortion in cases of pregnancy resulting from rape. With the advent of the Constitution of 1988, fundamental rights began to protect the dignity of the human person (art. 1, item III), the principles of freedom and autonomy (art. 5, subsection II), and the right to health (art. 6 and 196). The Supreme Federal Court (STF) was asked to assess the issue of therapeutic delivery interruption in the case of affected fetal anencephaly by an Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (Accusation of Breach of Fundamental Precept). Thus, through a descriptive study, we sought to observe the continuing construction of our constituent and its scope at the same time that the possibilities of change through interpretation of our constitutional law could be seen.

Resumen: En Brasil, el aborto no está permitido, con la única exclusión de la ilegalidad cuando en dos casos posibles: el llamado aborto necesario, o el aborto en el caso del embarazo resultante de violación. Con la llegada de la Constitución de 1988, los derechos fundamentales comenzaron a proteger la dignidad de la persona humana (artículo 1, ítem III), los principios de libertad y el autonomía de la voluntad (art. 5, ítem II), así como el derecho a la salud (art. 6 y 196). Se pidió al Tribunal Federal Supremo para evaluar el tema de la interrupción terapéutica del parto en el caso de fetos afectados por anencefalia a través de una Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Por lo tanto, a través de un estudio descriptivo, buscamos observar el continuidad de la construcción de nuestro constituyente y su alcance, al mismo tiempo que podría percibir las posibilidades de cambios a través de la interpretación de nuestro derecho constitucional.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Gilson Matilde Diana, Academia Nacional de Polícia-ANP.

Doutorando em Direito pela Universidade de Brasília – Linha de Pesquisa Constituição e Democracia, Mestre em Filosofia pela UnB, professor dos cursos de pós-graduação da Escola Superior de Polícia da Academia Nacional de Polícia-ANP.

Referências

AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: o poder soberano e a vida nua I. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
AGAMBEN, Giorgio. Por uma teoria do poder destituinte. Palestra pública em Atenas, 16.11.2013. (Convite e organização pelo instituto Nicos Poulantzas e pela juventude do SYRIZA). Disponível em: http://jornalggn.com.br/node/1323458. Acesso em: 6 jul. 2014.
BARROSO, Luís Roberto. Anencefalia, inviabilidade do feto e antecipação terapêutica do parto - Petição Inicial da Arguição de descumprimento de preceito fundamental, proposta pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde – CNTS ao Supremo Tribunal Federal – STF. In Revista Jurídica Virtual. V. 6, N. 70, Março/2005. Seção: Artigos, Pareceres, Memoriais e Petições. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_70/. Acesso em: 6 jul. 2014.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 6 jul. 2014.
BRASIL. Decreto-Lei Nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 6 jul. 2014.
BRASIL. Lei Nº 9.882, de 3 de dezembro de 1999. Dispõe sobre o processo e julgamento da arguição de descumprimento de preceito fundamental, nos termos do § 1o do art. 102 da Constituição Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9882.htm. Acesso em: 6 jul. 2014.
BRASIL. STF. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 54/DF. Relator Ministro Marco Aurélio Mello. Inteiro Teor do Acórdão – 433 p., 2012.
CASTRO, Marcus Faro de. Formas Jurídicas e mudança social: interações entre o direito, a filosofia, a política e a economia. São Paulo: Saraiva, 2012.
CASTRO, Marcus Faro de. Globalização, Democracia e Direito constitucional: Legados Recebidos e Possibilidades de Mudança. In: Clèmerson Merlin Clève; Alexandre Freire. (Org.). Direitos Fundamentais e Jurisdição Constitucional: Análise, Crítica e Contribuições. 1ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2014, v. 1, p. 697-719.
CITTADINO, Gisele. Pluralismo, Direito e Justiça Distributiva: elementos de filosofia constitucional contemporânea. 4ª. ed. 2ª Tiragem. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2013.
DELACAMPAGNE, Christian. A filosofia política hoje: idéias, debates, questões. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
FRASER, Nancy. Reenquadrando a justiça em um mundo globalizado. Lua Nova, São Paulo, 77: 11-39, 2009.
FRASER, Nancy. Repensando o reconhecimento. Revista Enfoques: revista semestral eletrônica dos alunos do Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, Rio de Janeiro, v.9, n.1, p.114-128, agosto 2010. Em: http://www.enfoques.ifcs.ufrj.br.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. 3ª ed. Rio de Janeiro: NAU Editora, 2002.
GINSBURG, Tom. The Global Spread of Constitutional Review. In CALDEIRA, Gregory A.;
KELEMAN, Daniel; WHITTINGTON, Keith (eds).Oxford Handbook of Law and Politics. Oxford: OUP, 2008, pp. 81-98.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da filosofia do direito. Tradução Orlando
Vitorino. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
HUME, David. Tratado da Natureza Humana. São Paulo: UNESP, 2000.
KANT, Immanuel [1781/1787]. Crítica da razão pura. Trad. Valerio Rodhen e Udo Baldur Moosburger. 3. ed. São Paulo: Nova Cultura, 1987.
KANT, Immanuel [1783]. Prolegômenos. Trad. Tania Maria Bern Kopf. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
KANT, Immanuel [1785]. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Trad. Paulo Quintela. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
KANT, Immanuel [1797]. Metafísica dos Costumes. Bauru/SP: EDIPRO, 2003.
KENNEDY, Duncan. ‘The Globalization of Law and Legal Thought: 1850-2000”. In TRUBEK, David M.; SANTOS, Alvaro (orgs.). The New Law and Legal Economic
Development: A critical Appraisal. Cambridge: Cambridge University Press, 2006, PP. 19-74.
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
LOPARIC, Zeljko. As duas Metafísicas de Kant. In: Kant e-Prints – Vol. 2, n. 5, 2003. Disponível em: ftp://ftp.cle.unicamp.br/pub/kant-e-prints/vol.2,n.5,2003.pdf. Acesso em: 6 jul. 2014.
MONTESQUIEU, Charles L. S. O Espírito das Leis. Brasília: EdUnB, 1995.
NIETZSCHE, F. W. Para a Genealogia da Moral. 4. Ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
QUINE, W. von O. Palavras e Objetos. Petrópolis/RJ: Vozes, 2010.
RACHELS, James. Elementos da Filosofia Moral. 4ª ed. Barueri/SP: Manole, 2006.
WOLFF, Jonathan. Introdução à Filosofia Política. Lisboa: Gradiva, 2004.

Downloads

Publicado

2016-03-24