O LEGADO FILOSÓFICO DE ENRIQUE DUSSEL (1934 – 2024)
Abstract
Dussel, 1997, Oito ensaios sobre cultura latino-americana e Libertação, p. 112/115: "O artista é muito mais que um imitador e sua missão é muito mais elevada e humana que a mera expressão da beleza, sobretudo quando esta é entendida como mera vivência subjetiva. O artista situa-se diante dos entes, diante do cosmos, reutilizando a atitude fundamental que faz do homem um homem. E o homem é tal, é porque da noite escura do ente pode instaurar um mundo. [...] O artista tem a missão, primeiramente, de compreender o ser de tudo aquilo que habita o mundo. Esse mundo é necessariamente um mundo cultural e histórico. O homem, de tanto habitar o seu mundo, torna-o sem brilho, opaco, habitualiza-o pelo uso; o mundo cotidiano perde o sentido e tudo se trivializa no impessoal, na inautenticidade, nas coisas instrumentais cujo ser jaz no esquecimento. Se os homens não tivessem quem lhes mostrasse o ser esquecido dos entes do mundo, tudo voltaria à escuridão original. O homem deve, porém, transcender-se, isto é, deve recuperar-se com sentido através de uma contínua interpelação a partir do topo do ser dos entes. O artista, como dissemos, começa sua tarefa por uma compreensão do ser, por sua intuição. [...] Por isso, o artista deve ser antes de tudo um ser humano, que junto ao metafísico cumpre a missão suprema dentro de uma cultura: recuperar o sentido do ser de uma época. Sua função não é intuir a beleza, mas primeiramente o ser"