[EG] CHAMADA ABERTA PARA O DOSSIÊ FORMAÇÃO INICIAL E CONTÍNUA DE PROFESSORES: oportunidades e desafios do cotidiano profissional

2023-11-10

FORMAÇÃO INICIAL E CONTÍNUA DE PROFESSORES: oportunidades e desafios do cotidiano profissional

 

Organizadores:

Denizart Fortuna (UFF)

Juliana Cristina Araújo do Nascimento Cock (UFES)

 

Somos muitos os professores que continuam a afirmar que nós aprendemos com o tempo. Para Cochran-Smith (2012), nada mais verdadeiro, uma vez que nós não terminamos o aprender da profissão, isto é, não chegaremos a uma suposta “etapa final” do aprender a ensinar. São novos estudantes escolares e licenciandos com anseios muito próprios, e os tempos demandarão por outras respostas. Serão questões sempre colocadas aos docentes tanto do Ensino Superior quanto da Educação Básica e, como tais, desafiam os saberes e práticas já constituídos. 

No que tange à formação docente, isso significa que tal profissionalização se constitui por um movimento contínuo do aprender a fazer e do aprender a ensinar situado em espaço e tempo precisos. Soma-se a isso a necessária reflexividade na profissionalização docente contínua ou inicial, haja vista que a reflexão crítica sobre o fazer é possibilitar uma prática futura ainda melhor (Freire, 1996). Nesse sentido, a criticidade enfatiza a importância da incorporação da historicidade e dos conflitos relativos às diferentes apreensões do significado da profissionalização docente (Nóvoa, 1999, 2017; Sarti, 2021). Aliás, conflitos esses entendidos aqui como inerentes às instituições que formam professores. Sendo assim, nada melhor que o debate sobre as controvérsias e contradições dos processos formativos.

Gonçalves (2014) identifica as principais matrizes político-pedagógicas do ofício do aprender a ensinar, bem como o lugar que o Estado ocupou nessa formação. Essa identificação importa porque a relação entre as concepções e as políticas de formação para a docência ao longo do tempo contribuem com a análise dos aspectos da cultura acadêmica e da cultura escolar nos dias de hoje, o que também acaba por favorecer a percepção das conexões existentes entre as situações vivenciadas nesses cotidianos e o corpo de conhecimentos prático-teóricos criados. 

Com isso, pergunta-se: de que modo é operada a construção de “respostas” ou, ainda melhor, as ações formativas pedagógicas que reúnem a prática e a teoria às demandas dos estudantes dos cursos formadores de professores, sejam eles iniciais ou não? Se levarmos em consideração o que foi levantado no início desta apresentação, depreende-se que o cenário da inventividade na profissionalização em tela é problematizar. Isso não quer dizer uma mera busca por resolução de problemas de âmbito utilitário, mas sim, pensar a invenção do próprio mundo em transformação. Kastrup (2015) orienta que a busca deve ser a criação de novas questões, de novas relações com as dimensões da vida humana, do tempo e do espaço, além de consigo mesmo e com os outros. A inventividade é entendida como atividade epistemológica, uma inquietação ancorada em um contexto espaço-histórico; o conjunto das ações operacionais. Logo, é no sentido do fomento a atitudes investigativas para, enfim, inventar-se, já que esse não é entendido como um conjunto de regras ou passo-a-passo que deva ser seguido ou copiado.

Cientes da variedade de concepções teóricas, dos desafios cotidianos da profissionalização docente, bem como de experiências possíveis na formação inicial e contínua de professores, o presente dossiê visa divulgar as produções que versem acerca das problematizações e as respectivas operacionalidades inventivas dos percursos individuais e coletivos, reconhecendo os distintos tempos de formação. É de valiosa importância um número especial da Ensaios divulgar à comunidade acadêmica essa reunião de registros das experiências curriculares intrinsecamente articuladas ao cotidiano pela perspectiva democrática e emancipatória dos sujeitos.

Intencionamos que este dossiê alcance trabalhos não somente vinculados à dimensão das práticas pedagógicas, a partir de contribuições teórico-metodológicas do campo da Didática, mas também aqueles relacionados a fundamentações teórico-metodológicas que enfatizem aspectos do campo do Currículo e da Política Educacional, ambos relacionados à formação de professores. Como pode ser visto a seguir, o foco deste dossiê são artigos empíricos e teóricos que abarquem essas discussões e problematizações vinculados ao campo temático do Ensino de Geografia, incluindo  trabalhos interdisciplinares em diálogo com esse campo temático.

Com isso, desdobram-se os seguintes tópicos, que não constituem uma enumeração exaustiva do escopo do dossiê, mas ilustram a amplitude das abordagens compreendidas por ele:

- Formação inicial e continuada de professores e a mercantilização do ensino.

- Políticas públicas para a formação de professores de Geografia.

- A Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica e a docência em Geografia.

- A Geografia Escolar no contexto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e do Novo Ensino Médio.

- Os desafios da profissionalização docente em Geografia na era das tecnologias digitais.

- Teoria e prática pedagógica, estágio curricular obrigatório e a formação inicial docente em Geografia.

- Didática e prática de ensino na Geografia Escolar.

- Formação de professores de Geografia e a interdisciplinaridade.

- Educação intercultural e a formação docente em Geografia.

 

PRAZO PARA O ENVIO DOS TRABALHOS: 31/01/2024

 

Referências bibliográficas

COCHRAN-SMITH, M. A tale of two teachers: learning to teach over time. Londres: Kappa Delta Pi Record, v. 48, nº 3, p. 108-122, 2012.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 1996.

GONÇALVES, A. R. Matrizes formativas históricas e marcas recentes na formação inicial de professores no Brasil. In: BARBOSA, M. V.; DANTAS, F. B. A. (Orgs.) Reflexões sobre a formação inicial de professores no Pibid. Campinas: Mercado de Letras, 2014.

KASTRUP, V. A cognição contemporânea e a aprendizagem inventiva. In: KASTRUP, V.; TEDESCO, S.; PASSOS, E. Políticas da cognição. Porto Alegre: Sulina, 2015.

NÓVOA, A. Prefácio à segunda edição. In: _____. (Org.). Profissão professor. 2. ed. Porto, Portugal: Porto Editora, 1999, p. 7-10.

NÓVOA, A. Firmar a posição como professor, afirmar a profissão docente. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 47, n. 166, p. 1106-1133, out./dez. 2017.

SARTI, F. M. Relações intergeracionais no mercado brasileiro de formação docente: antigos e novos desafios a considerar. Pro-Posições, Campinas, v. 32, e20180082, p. 1-21, 2021.