Descolonizar a educação de trabalhadores/trabalhadoras: corpo e território nos dispositivos da educação profissional

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/resa2024.v17.a58955

Palavras-chave:

educação profissional, trabalho, território, feminismo, decolonialidade

Resumo

O artigo problematiza o lugar do corpo e do território na formação de trabalhadores/trabalhadoras, analisando o processo de produção de dispositivos de ensino de psicologia na Educação Profissional e Tecnológica (EPT). O campo desenvolveu-se no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) Campus Niterói, em atividades pedagógicas desenvolvidas pela primeira autora no contexto de sua pesquisa de doutorado. A metodologia utilizada inspirou-se na pesquisa-intervenção e nas epistemologias feministas e teve como objetivo: desenvolver e analisar os efeitos de alterar os dispositivos educacionais no sentido da valorização do local, da interculturalidade e dos saberes de trabalhadores/trabalhadoras em formação. Alguns conceitos chave do campo teórico das Epistemologias do Sul - ecologias de saberes, artesania das práticas, linhas abissais - e do feminismo interseccional são utilizados para se repensar as práticas educacionais na EPT em um sentido decolonial. Conclui-se que os dispositivos escolares performam sujeitos e mundos e, por isso, são um campo estratégico de luta contra as diferentes opressões do colonialismo, do capitalismo e do patriarcado.

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Biografia do Autor

Etiane Araldi, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Niterói, RJ, Brasil

Psicóloga (UFRGS), Mestra em Psicologia Social e Institucional (UFRGS), Doutora em Psicologia Social (UERJ), Pós-doutorado em Psicologia (UFF). Na graduação e pós-graduação, desenvolveu períodos de estudo e investigação na Universidad Autónoma de Madrid (UAM) e na Universidad Autónoma de Barcelona (UAB). Especialista em Gestão de Redes de Atenção à Saúde (FIOCRUZ), em Epistemologías del Sur (CLACSO) e em Políticas del Cuidado con Perspectiva de Género (CLACSO). Tem experiência profissional na atenção e na gestão do Sistema Único de Saúde do Brasil, tendo ocupado o cargo de Analista de Políticas Sociais no Ministério da Saúde. Atualmente é professora de psicologia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) - Campus Niterói, onde atua como docente e orientadora em cursos técnicos, na modalidade EJA e nas pós-graduações em Gestão de Projetos Ambientais, Gestão de Serviços e Educação e Novas Tecnologias, além de desenvolver projetos de pesquisa, extensão e inovação nessas áreas. Coordena a Incubadora Tecnológica de Economia Solidária (ITES) do IFRJ Campus Niterói e participa de projetos de cooperação internacional com o Centro Peruano de Estudios Gubernamentales e com a Escola Superior Pedagógica do Bengo, em Angola. Foi Coordenadora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação do IFRJ Campus Niterói e pesquisadora visitante no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra.

Ronald João Jacques Arendt, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1973), mestrado em Instituto Superior de Pesquisas Psicossociais Isop pela Fundação Getúlio Vargas - RJ (1980) e doutorado em Instituto Superior de Pesquisas Psicossociais Isop pela Fundação Getúlio Vargas - RJ (1987). Atualmente é professor titular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Interação Social, atuando principalmente nos seguintes temas: psicologia comunitária, psicologia social, teoria do ator-rede, análise institucional e construtivismo.

Marcia Oliveira Moraes, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil

Possui graduação em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (1988), mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992), doutorado em Psicologia (Psicologia Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1998), pós-doutorado em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Lancaster University (2009/2010) e pós-doutorado em Estudos da Deficiência no Núcleo de Estudos da Deficiência da Universidade Federal de Santa Catarina. Desde 2016, é Professora Titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal Fluminense, ministrando aulas na graduação e na pós-graduação strito sensu - mestrado e doutorado. Desenvolve pesquisas ligadas aos seguintes temas: estudos da deficiência; modelo social da deficiência, perspectiva feminista do modelo social da deficiência; deficiência e questões contemporâneas; feminismos; perspectivas situadas em epistemologia; estudos de ciência, tecnologia e sociedade (Estudos CTS); teoria ator-rede. Desde de 2003 realiza pesquisas no campo da deficiência visual, fazendo uso de métodos emancipatórios de pesquisa e extensão, como o PesquisarCOM. É mãe de um filho, nascido no ano de 1995. É bolsista da Faperj / Cientista do Nosso Estado. Nas publicações científicas assina MARCIA MORAES; MARCIA OLIVEIRA MORAES; MARCIA O. MORAES. Email de contato: marciamoraes@id.uff.br. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8581-6126.Researcid:http://www.researcherid.com/rid/X-1132-2018.Publons: https://publons.com/a/1638737.Consta no google scholar como Marcia Oliveira Moraes.Consta no Academia.edu: https://uff.academia.edu/MarciaMoraes

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Publicado

2024-06-08 — Atualizado em 2024-06-24

Versões

Como Citar

Araldi, E., Arendt, R. J. J., & Moraes, M. O. (2024). Descolonizar a educação de trabalhadores/trabalhadoras: corpo e território nos dispositivos da educação profissional. Ensino, Saude E Ambiente, 17, Publicado em 8/6/2024. https://doi.org/10.22409/resa2024.v17.a58955 (Original work published 8º de junho de 2024)

Edição

Seção

Dossiê Interseccionalidades