Alternância estativo-locativa no PB: verbos com sentido de continência
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v29i64.60366Palavras-chave:
Inversão Locativa, Semântica Lexical, Interface Sintaxe-Semântica, Alternância Verbal, Processo Semântico de CoercionResumo
Neste artigo, analisamos, de acordo com os pressuspostos teóricos-metodológicos adotados pelos estudos na área da Interface Sintaxe-Semântica Lexical, um tipo de inversão locativa do português brasileiro. Ele ocorre com verbos do tipo armazenar, que são bitransitivos e denotam o sentido de mudança de estado em relação a uma locação: o fazendeiro armazenou 25 mil toneladas de milho no depósito/ o depósito armazenou 25 mil toneladas de milho. Em uma classificação mais ampla, esses verbos pertencem à classe dos verbos de mudança de estado locativo, juntamente a outros verbos que não realizam a inversão locativa, como colocar: a menina colocou o livro na caixa/ *a caixa colocou o livro. Ao analisarmos o sentido mais específico do verbo armazenar, percebemos que este denota uma relação de continência entre seus argumentos, de modo que as 25 mil toneladas de milho passam a ficar contidas no depósito. É essa relação que licencia a ocorrência da inversão locativa em questão, a qual se caracteriza por uma reinterpretação da estrutura temática dos verbos e por uma mudança aspectual na forma alternada. Mostramos que essa reinterpretação temática ocorre através de um processo semântico conhecido como coercion, e que a mudança aspectual da sentença alternada é um epifenômeno da ocorrência desse processo. Também mostramos que a relação semântica de continência é relevante gramaticalmente.
Downloads
Referências
AMARAL, Luana; CANÇADO, Márcia. Metonymy triggers syntactic argument alternation: vehicle for conductor metonymy as a constraint on lexical-constructional integration. Cognitive Linguistics, v. 31, n. 1, p. 113-148, 2020. DOI: https://doi.org/10.1515/cog-2018-0098
ASHER, Nicholas. Lexical meaning in context: a web of words. Cambridge University Press, 2011.
ASHER, Nicholas. PUSTEJOVSKY, James. A type composition logic for generative lexicon. Journal of Cognitive Science, v. 7, n. 1, p. 1-38, 2006.
BEAVERS, John. The structure of lexical meaning: why semantics really matters. Language, v. 86, n. 4, p. 821-864, 2010. DOI: 10.1353/lan.2010.0040
BEAVERS, John.; KOONTZ-GARBODEN, Andrew. Manner and result in the roots of verbal meaning. Linguistic Inquiry, v. 43, n. 3, p. 331-369, 2012. DOI: 10.1162/LING_a_00093
¬ BEAVERS, John.; KOONTZ-GARBODEN, Andrew. The roots of verbal meaning. Oxford: Oxford University Press, 2020.
BRESNAN, Joan. Nonarguments for Raising. Linguistic Inquiry, v. 7, n. 3, p. 485-502, 1976.
BÜCKING, Sebastian; BUSCHER, Frauke. Stative locative alternations as type coercion. In: STEINDL, Ulrike (ed.). Proceedings of the 32nd West Coast Conference on Formal Linguistics. Somerville: Cascadilla Proceedings Project, 2015. p. 92-102.
CANÇADO, Márcia. Verbal alternations in Brazilian Portuguese: a lexical semantic approach. Studies in Hispanic and Lusophone Linguistics, v. 3, n. 1, p. 1-23, 2010. DOI: 10.1515/shll-2010-1066
CANÇADO, Márcia; AMARAL, Luana. Introdução à Semântica Lexical: papéis Temáticos, aspecto lexical e decomposição de predicados. Petrópolis: Editora Vozes, 2016.
CANÇADO, Márcia; AMARAL, Luana; MEIRELLES, Letícia Lucinda. VerboWeb: uma proposta de classificação verbal. Revista da Anpoll, n. 46, v. 1, 2018.
CANÇADO, Márcia; AMARAL, Luana; MEIRELLES, Letícia Lucinda. Verboweb: classificação sintático-semântica dos verbos do português brasileiro. 2022. Disponível em: http://verboweb.letras.ufmg.br/. Acesso em: xx/xx/xx
CANÇADO, Márcia; GODOY, Luísa; AMARAL, Luana. Catálogo de verbos do português brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados. Vol I. Verbos de mudança, 2 ed, 2017. Edição Revisada Amazon.
CANÇADO, Márcia; GONÇALVES, Anabela. Lexical Semantics: verb classes and alternations. In: WETZELS, Leo; MENUZZI, Sérgio; COSTA, João (ed.). The Handbook of Portuguese Linguistics. Nova Jersey: Wiley-Blackwell, 2016, p. 374-391.
CANN, Ronnie. Formal Semantics: An introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.
COMRIE, Bernard. Aspect: An introduction to the study of verbal aspect and related problems. Cambridge: Cambridge University Press, 1976.
CROFT, William; CRUSE, Alan. Cognitive Linguistics. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.
DAVIES, Mark. Corpus do Português: one billion words, 4 countries, 2016. Disponível em: http://www.corpusdoportugues.org/web-dial/. Acesso em: xx/xx/xx
DUARTE, Maria Eugênia. A perda do princípio ‘evite pronome’ no português do Brasil. 1995. 151f. Tese (Doutorado em Ciências – Linguística) – Universidade de Campinas, Campinas, São Paulo, Brasil, 1995.
EGG, Markus. Beginning novels and finishing hamburgers: remarks on the semantics of to begin. Journal of Semantics, v. 20, n. 2, p. 163-191, 2003. DOI: 10.1093/jos/20.2.163
FILLMORE, Charles. The grammar of hitting and breaking. In: FILLMORE, Charles (ed.). Form and meaning in language: papers on semantics roles. Stanford: CSLI Publications, 2003 [1970]. p. 123-139.
FOLEY, William; VAN VALIN, Robert. Functional Syntax and Universal Grammar. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.
GODOY, Luísa. A reflexivização no português brasileiro e a decomposição semântica de predicados. 2012. 154f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras, Belo Horizonte, Brasil, 2012.
GRAVINA, Aline. Peixoto. A Natureza do Sujeito Nulo na Diacronia do PB: estudo de um corpus mineiro (1845 a 1950). 2008. 132f. Dissertação (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, Brasil, 2008.
GUÉRON, Jacqueline. Inalienable possession, PRO-inclusion and lexical chains. In: GUÉRON, Jacqueline; OBENAUER, Hans-Georg; POLLOCK, Jean-Yves (ed.). Grammatical representation. Dordrecht, 1985. p.43-86.
GUÉRON, Jacqueline. Inalienable possession. In: EVERAERT, Martin; RIEMSDIJK, Henk van (ed.). The Blackwell companion to syntax. Malden, Mass: Blackwell, 2006. p. 589-638.
HANDL, Sandra. The conventionality of figurative language: a usage-based study. Tubingen: Narr Verlag, 2011.
HOOPER, Joan; THOMPSON, Sandra. On the applicability of root transformations. Linguistic Inquiry, v. 4, n. 4, p. 465-498, 1973.
JACKENDOFF, Ray. Semantics and Cognition. Cambridge: Cambridge University Press, 1983.
JACKENDOFF, Ray. Semantic structures. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
JOHNSON, Mark. The body in the mind: the bodily basis of meaning, imagination, and reason. Chicago: Chicago University Press, 1987.
LAKOFF, George. Women, fire, and dangerous things: what categories reveal about the mind. Chicago: Chicago University Press, 1987.
LEVIN, Beth. English verb classes and alternations: a preliminary investigation. Chicago: Chicago University Press, 1993.
LEVIN, Beth. What is the best grain‐ size for defining verb classes? In: CONFERENCE ON WORD CLASSES: NATURE, TYPOLOGY, COMPUTATIONAL REPRESENTATIONS, 2, Rome: Università Roma Tre, March, 2010. p. 24-26.
LEVIN, Beth; RAPPAPORT HOVAV, Malka. The lexical semantics of verbs of motion: the perspective from unaccusativity. In: ROCA, Iggy (ed.). Thematic structure: its role in grammar. Berlin: Foris, 1992. p. 247-269.
LEVIN, Beth; RAPPAPORT HOVAV, Malka. Unaccusativity: at the syntax lexical semantics interface. Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
LEVIN, Beth; RAPPAPORT HOVAV, Malka. Argument realization. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.
MIOTO, Carlos; FIGUEIREDO SILVA, Maria; LOPES, Ruth. Novo manual de Sintaxe. Florianópolis: Insular, 3 ed, 2007.
MUNHOZ, Ana; NAVES, Rozana. Construções de tópico sujeito: uma proposta em termos de estrutura argumental e de transferência de traços de C. Signum: Estudos da Linguagem, v. 15, n. 1, p. 245-265, 2012. DOI: 10.5433/2237-4876.2012v15n1p245
NAGASE, Erika. A inversão locativa no português brasileiro. 2007. 89f. Dissertação. (Mestrado em Estudos Linguísticos) – Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, São Paulo, Brasil, 2007.
PILATI, Eloísa. Sobre a ordem verbo-sujeito no português do Brasil. Revista Linguística, v. 12, n. 2, p. 183-205, 2016.
PINKER, Steven. Learnability and cognition: the acquisition of argument structure. Cambridge: Cambridge University Press, 1989.
PUSTEJOVSKY, James. The Generative Lexicon, Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
RAPPAPORT HOVAV, Malka; LEVIN, Beth. Building verb meanings. In: BUTT, Miriam Jessica; GEUDER, Wilhelm (ed.). The projection of arguments: lexical and syntactic constraints. Stanford: CSLI Publications; Stanford University Press, p. 97-134. 1998.
RAPOSO, Eduardo. Teoria da Gramática: a faculdade da linguagem. Lisboa: Caminho, 1992.
SMITH, Carlota. The Parameter of Aspect. Dordrecht: Kluwer, 1997.
VAN VALIN, Robert. Exploring the Syntax-Semantics Interface. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.
VENDLER, Zeno. Linguistics in Philosophy. Ithaca: Cornell, 1967.
VERGNAUD, Jacqueline; ZUBIZARRETA, Maria Luisa. The definite determiner and the inalienable constructions in French and in English. Linguistic Inquiry, v. 23, n. 4, p. 595-65, 1992.
WUNDERLICH, Dieter. Lexical Decomposition in Grammar. In: WERNING, Markus; HINZEN, Wolfram; MACHERY, Edouard (ed.). The Oxford Handbook of Compositionality. Oxford: Oxford University Press, 2012. p. 307-327.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Gragoatá
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
AUTORIZAÇÃO
Autores que publicam em Gragoatá concordam com os seguintes termos:
Os autores mantêm os direitos e cedem à revista o direito à primeira publicação, simultaneamente submetido a uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), que permite o compartilhamento por terceiros com a devida menção ao autor e à primeira publicação pela Gragoatá.
Os autores podem entrar em acordos contratuais adicionais e separados para a distribuição não exclusiva da versão publicada da obra (por exemplo, postá-la em um repositório institucional ou publicá-la em um livro), com o reconhecimento de sua publicação inicial na Gragoatá.
A Gragoatá utiliza uma Licença Creative Commons - Atribuição CC BY 4.0 Internacional.