Alternância estativo-locativa no PB: verbos com sentido de continência
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v29i64.60366.ptPalavras-chave:
Inversão Locativa, Semântica Lexical, Interface Sintaxe-Semântica, Alternância Verbal, Processo Semântico de CoercionResumo
Neste artigo, analisamos, de acordo com os pressuspostos teóricos-metodológicos adotados pelos estudos na área da Interface Sintaxe-Semântica Lexical, um tipo de inversão locativa do português brasileiro. Ele ocorre com verbos do tipo armazenar, que são bitransitivos e denotam o sentido de mudança de estado em relação a uma locação: o fazendeiro armazenou 25 mil toneladas de milho no depósito/ o depósito armazenou 25 mil toneladas de milho. Em uma classificação mais ampla, esses verbos pertencem à classe dos verbos de mudança de estado locativo, juntamente a outros verbos que não realizam a inversão locativa, como colocar: a menina colocou o livro na caixa/ *a caixa colocou o livro. Ao analisarmos o sentido mais específico do verbo armazenar, percebemos que este denota uma relação de continência entre seus argumentos, de modo que as 25 mil toneladas de milho passam a ficar contidas no depósito. É essa relação que licencia a ocorrência da inversão locativa em questão, a qual se caracteriza por uma reinterpretação da estrutura temática dos verbos e por uma mudança aspectual na forma alternada. Mostramos que essa reinterpretação temática ocorre através de um processo semântico conhecido como coercion, e que a mudança aspectual da sentença alternada é um epifenômeno da ocorrência desse processo. Também mostramos que a relação semântica de continência é relevante gramaticalmente.
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