Implicaturas escalares na aquisição de português brasileiro: uma análise da Teoria da Otimidade para o conectivo “ou”
an optimality-theoretic analysis for the connective “or”
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v29i64.60581Palavras-chave:
aquisição de linguagem, implicaturas escalares, teoria da otimidade, teoria da otimidade bidirecional, pragmáticaResumo
Quando “ou” é proferido em uma sentença, em princípio, as leituras “A ou B, mas não ambos” (exclusiva) e “A ou B e possivelmente ambos” (inclusiva) são possíveis. A literatura em aquisição tem detectado uma assimetria no comportamento infantil. Por um lado, crianças em idade pré-escolar, diferentemente dos adultos, aceitam o equivalente de “ou”, nas línguas testadas, em contextos onde “e” seria mais adequado (TIEU et al., 2017; SKORDOS et al., 2020). Por outro lado, crianças adquirindo inglês produzem “ou-exclusivo” antes dos quatro anos (MORRIS, 2008; EITELJÖRGE; POUSCOULOUS; LIEVEN, 2018). Este trabalho argumenta que a Teoria da Otimidade (OT) pode explicar essa assimetra na linguagem infantil, onde a produção ocorre antes da compreensão. Focando no Português Brasileiro (PB), foi investigado o comportamento linguístico infantil na produção de “ou”. Foram analisados dois corpora de fala infantil: um com 119 horas de gravações espontâneas envolvendo quatro crianças entre 2;0 e 5;6 anos, e outro com 51 horas de gravações que contou com sete crianças entre 4;3 e 9;0 anos. Os resultados corroboram os achados para o inglês, observando a primeira produção de “ou-exclusivo” aos 2;4 anos. Para dar conta dos resultados, é proposta uma extensão da análise, partindo da OT, de Mognon et al. (2021), para o “some” ao “ou”. A otimização unidirecional é incapaz de selecionar um output vencedor e, para o cálculo de implicatura, é necessário que a otimização bidirecional entre em cena. A partir dessa análise, será argumentado que a otimização bidirecional é adquirida tardiamente no desenvolvimento infantil, podendo explicar os achados da literatura que apontam para a assimetria entre produção e compreensão.
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