Transmissão intergeracional e revitalização linguística
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v30i66.64442.ptPalavras-chave:
transmissão intergeracional, línguas minorizadas, revitalização linguística, educação bilíngue, valorização culturalResumo
Este artigo explora o papel da transmissão intergeracional nas políticas linguísticas, com enfoque na revitalização linguística. Para tanto, são considerados três níveis analítico-descritivos: um acadêmico, com uma breve revisão de artigos emblemáticos que abordam o papel da transmissão intergeracional nas políticas de manutenção linguística; um institucional, com foco nos documentos que abordam as políticas de revitalização linguística, como o Atlas das Línguas em Perigo (UNESCO); e um empírico, com registros oriundos de entrevista e análise de iniciativas comunitárias e institucionais mobilizadas por duas comunidades linguísticas minorizadas, uma referente à língua pomerana e outra à língua iídiche – a escolha por essas duas comunidades tão díspares entre si se justifica por se tratar de representações contrastantes no Brasil envolvendo a transmissão linguística geracional. O artigo expande o conceito de transmissão ao: (i) destacar os trabalhos emblemáticos de Joshua Fishman sobre transmissão intergeracional e reversão da substituição linguística nas políticas linguísticas; (ii) tensionar alguns sentidos institucionalizados de transmissão e revitalização a partir da experiência de sujeitos participantes; e (iii) ressaltar o papel da educação bilíngue e do turismo étnico na ressignificação dos valores simbólicos das línguas minorizadas e do processo de transmissão intergeracional. Por fim, constata-se que a quebra de transmissão intergeracional familiar tem sido substituída por iniciativas educacionais, culturais e identitárias criativas, agentivas e colaborativas, em tensão e diálogo com movimentos globalizantes e mercadológicos.
Downloads
Referências
ABREU, Ricardo Nascimento. Direito Linguístico: olhares sobre as suas fontes. Revista A Cor das Letras, v. 21, n. 1, p. 155-171, 2020.
ALTENHOFEN, Cléo Vilson et al. Hunsrückisch: inventário de uma língua do Brasil. Florianópolis: Editora Garapuvu, 2022.
CALVET, Louis-Jean. As Políticas Linguísticas. São Paulo: Parábola, 2007.
COOPER, Robert; FISHMAN, Joshua. The study of language attitudes. International Journal of the Sociology of Language, v. 3, p. 5-19, 1974.
COOPER, Robert; FISHMAN, Joshua. O estudo das atitudes linguísticas. Fórum Linguístico, v. 20, n. 4, p. 9833-42, 2023.
DELLAPERGOLA, Sérgio. Jewish Identity/assimilation/continuity: Aproaches to a changing reality. Israel: Jewish People Policy Planning Institute, 2007.
ECHEVERRIA, Begoña; SPARLING, Heather. Heritage language revitalisation and music. Journal of Multilingual and Multicultural Development, v. 45, n. 1, p. 1-8, 2024.
EMMEL, Ina. Die kann nun nich, die is beim treppenputzen: o progressivo no alemão de Pomerode, 2005. Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.
FISHMAN, Joshua. Can threatened languages be saved? Reversing language shift, revisited: A 21st century perspective. Clevedon: Multilingual Matters, 2001.
FISHMAN, Joshua. What is reversing language shift (RLS) and how can it succeed? Journal of Multilingual and Multicultural Development, v. 11, n. 1-2, p. 5-36, 1990.
FISHMAN, Joshua. Yiddish: Turning to Life. New York: John Benjamins Publishing Company, 1991.
FISHMAN, Joshua. Yiddish in America: socio-linguistic description and analysis. Indianapolis: Indiana University, 1965.
FRITZEN, Maristela Pereira. A imigração alemã em Blumenau e a situação de bilinguismo. Estudos Linguísticos, v. 34, p. 189-194, 2005.
GARCÍA, Ofelia. Obtuary Joshua A. Fishman 1926–2015. Journal of Sociolinguistics, v. 19, n. 3, p. 391-399, 2015.
GOUSSINSKY, Sonia. Era uma vez uma voz: o cantar iídiche, suas memórias e registros no Brasil. São Paulo, 2012. Tese (Doutorado em Letras Orientais) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
GRÜNEWALD, Rodrigo de Azeredo. Turismo e etnicidade. Horizontes Antropológicos, v. 9, n. 20, p. 141-159, 2003.
HELLER, Monica. The Commodification of Language. Annual Review of Anthropology, v. 39, p. 101-114, 2010.
HINGHAUS, Carolayne Loch. Políticas linguísticas para promoção das línguas alemãs em Águas Mornas: problematizações a partir da ótica da comunidade de falantes. 2024. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2024.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Brasileiro de 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
LISBOA, Aline Vilhena; FÉRES-CARNEIRO, Terezinha; JABLONSKI, Bernardo. Transmissão intergeracional da cultura: um estudo sobre uma família mineira. Psicologia em Estudo, v. 12, n. 1, p. 51-59, 2007.
LUZ, Márcio Mendes da. Yiddishkeit: a construção da identidade judaica em São Paulo. Cordis: Revista Eletrônica de História Social da Cidade, v. 2, p. 1-18, 2012.
MAKONI, Sinfree. Language and human rights discourses in Africa: Lessons from the African experience. Journal of Multicultural Discourses, v. 7, n. 1, p. 1-20, 2012.
MALTZAHN, Paulo. Língua alemã como marcador de identidade. Pandaemonium, v. 21, n. 33, p. 113-135, 2018.
MEIRELLES, Sâmela R.; RUBIM, Altaci; BOMFIM, Anari. Década internacional das línguas indígenas no Brasil: o levante e o protagonismo indígena na construção de políticas linguísticas. Fórum Linguístico, v. 23, n. 2, p. 154-177, 2022.
MOZZILLO, Isabella; PUPP SPINASSÉ, Karen. Políticas linguísticas familiares em contexto de línguas minoritárias. Revista Linguagem & Ensino, v. 23, n. 4, p. 1297-1316, 2020.
OLIVEIRA, Beatriz; SAGICA, Vanessa; SEVERO, Cristine Gorski. Dos sentidos de vitalidade: revisando o Atlas das Línguas em Perigo (UNESCO) à luz de experiências indígenas. Cadernos de Linguística, v. 5, p. e690, 2024.
PINTO, Rabino Samy. Os desafios das escolas judaicas. In: LEWIN, H., Judaísmo e modernidade: suas múltiplas inter-relações [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2009. p. 234-242.
SEVERO, Cristine Gorski; GÖRSKI, Edair. Sociologia da linguagem e sua relação com a macro e a microssociolinguística. Fórum Linguístico, v. 20, p. 9028-9042, 2023.
SEVERO, Cristine Gorski. Políticas Linguísticas e a Construção do Comum. In: DEUSDARÁ, Bruno; ARANTES, Poliana; BRENNER, Ana Karine. (org.). Direitos Linguísticos e Refúgio. Campinas: Mercado das Letras, 2024. p. 23-30.
SEVERO, Cristine Gorski. Unesco e a educação multilíngue: revisões e problematizações. Travessias Interativas, v. 10, p. 295-312, 2020.
SILVEIRA, Ana Paula Kuczmynd da. Escolas bilingues em região de imigração: o caso de Pomerode/SC. Revista da ABRALIN, v. 9, n. 1, p. 41-71, 2010.
SZUCHMAN, Esther. Língua e Identidade: o Iídiche e o Hebraico no Contexto Histórico da Educação Judaica no Brasil. Vértices, n. 13, p. 50-72, 2012.
TOMIZAKI, Kimi. Transmitir e herdar: o estudo dos fenômenos educativos em uma perspectiva intergeracional. Educação & Sociedade, v. 31, n. 111, p. 327-346, 2010.
UNESCO. The use of the vernacular languages in education. Monographs on Foundations of Education, No. 8. Paris: UNESCO, 1953.
UNESCO. Ad Hoc Expert Group on Endangered Languages. Language Vitality and Endangerment. Document adopted by the International Expert Meeting on UNESCO Programme Safeguarding of Endangered Languages Paris, 10-12 March 2003.
UNESCO. Atlas of the World’s Languages Danger. 3. ed. Paris: UNESCO, 2010.
UNESCO. UNESCO Project “Atlas of the World’s Languages in Danger”. Paris: UNESCO, 2011.
WELLER, Wivian. A atualidade do conceito de gerações de Karl Mannheim. Sociedade e Estado, v. 25, n. 2, p. 205-224, 2010.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Gragoatá

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
AUTORIZAÇÃO
Autores que publicam em Gragoatá concordam com os seguintes termos:
Os autores mantêm os direitos e cedem à revista o direito à primeira publicação, simultaneamente submetido a uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0), que permite o compartilhamento por terceiros com a devida menção ao autor e à primeira publicação pela Gragoatá.
Os autores podem entrar em acordos contratuais adicionais e separados para a distribuição não exclusiva da versão publicada da obra (por exemplo, postá-la em um repositório institucional ou publicá-la em um livro), com o reconhecimento de sua publicação inicial na Gragoatá.
A Gragoatá utiliza uma Licença Creative Commons - Atribuição CC BY 4.0 Internacional.