Da evidência ao absurdo: os efeitos da memória nos sentidos do enunciado intervenção federal
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v30i66.65383.ptPalavras-chave:
Intervenção Federal, Memória discursiva, Extrema-direita, Absurdo, EvidênciaResumo
Inscritos teoricamente na Análise do Discurso materialista, nossa proposta, neste artigo, é analisar os efeitos de sentido do enunciado Intervenção Federal na cena política brasileira atual. Partimos do modo como tal enunciado está registrado na Constituição Federal, observamos sua materialização em discursividades presentes em manifestações de apoiadores de Bolsonaro, e concluímos com o Decreto de Intervenção Federal, publicado em 8 de janeiro de 2023, devido aos atos golpistas. Recortando materialidades discursivas desses três acontecimentos históricos, centramos nossas análises na noção da memória discursiva. Observando o funcionamento dos processos discursivos, concluímos que, num jogo entre evidência e absurdo, os efeitos de sentido que se produzem nesse corpus apontam duas direções: por um lado, militar é substituído por federal; e, por outro, produz-se um deslizamento de “federal”, que vai de defesa do Estado Democrático de Direito, passa pela convocação de atos golpistas, e volta, pela via do jurídico, a significar defesa da democracia.
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