Translúcidos e escancarados: corpos de barro e de sonhos em Ondjaki e Chiziane
DOI:
https://doi.org/10.22409/gragoata.v25i53.42887Palabras clave:
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Perspectivas decoloniais, Modernidade.Resumen
Partindo de discussões sobre as marcas da diferença colonial, determinantes para a consolidação de uma epistemologia etnocêntrica, para a configuração de subjetividades modernas enviesadas pela difusão de monoculturas hierarquizantes, e para o silenciamento de diversas cosmologias definidoras da poética das relações dos seres humanos entre si e com a natureza, a ancestralidade e o imaginário, este artigo propõe a leitura de Os transparentes (2012), do escritor angolano Ondjaki, e O alegre canto da perdiz (2008), da moçambicana Paulina Chiziane. As narrativas trazem à tona o que vem sendo obliterado pelo projeto civilizatório e lançam luz sobre a cara oculta da modernidade. O diálogo entre as obras é sugerido a partir da contribuição das perspectivas decoloniais que, muito embora tenham sido gestadas no contexto latino-americano em que a colonialidade delineia-se a partir de traços históricos e culturais específicos, oferecem ponderações que colaboram para a análise dos temas abordados e permitem trazê-los à proximidade de nosso ambiente de reflexão. A leitura ora proposta inspira-se no desafio e na urgência da necessidade de descolonizar o imaginário, e aposta na riqueza dos pensamentos e narrativas que tanto lá, em África, quanto cá, na América Latina, acolhem perspectivas diversas, reúnem sementes de saberes outros, capazes de abrir saídas, encontrar fissuras e evidenciar brechas na estrutura naturalizada do sistema-mundo antropocêntrico, etnocêntrico, patriarcal, moderno e colonial que experienciamos.
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