Chamadas abertas de 2025

2019-12-06

1. Da mídia de massa à plataformização: as transformações no ecossistema midiático 

Editoras: Adriana Barsotti (UFF), Ana Paula Goulart de Andrade (UFRRJ) e Iluska Coutinho (UFJF).

Prazo para envio: 24.02.2025
Publicação: maio de 2025

Chamada:
Há praticamente 100 anos, mais exatamente 1925, o jornalismo acumulava marcos importantes, entre eles a fundação do jornal O Globo, que deu início ao conglomerado de mídia que se tornaria o maior do Brasil e o 17º do mundo (Rosa, 2015).  Do jornal impresso, o futuro império da comunicação se estendeu para a rádio, em 1944; para a televisão, em 1965, e para o digital, em 1996. Em cem anos, o grupo influenciou a esfera política e cultural do país por meio do jornalismo e entretenimento. Entre suas decisões editoriais mais criticadas estão o apoio ao golpe de 1964, o silêncio a respeito da campanha das Diretas Já e o favorecimento do então candidato a presidente Fernando Collor de Mello na edição do último debate da campanha presidencial de 1989, a primeira por voto direto depois do golpe. E, apesar de se declarar arrependido na seção “erros” do site Memória Globo, o grupo voltou a investir em novas tentativas de influenciar a vida política brasileira. Entre os mais recentes episódios, está o apoio à Operação Lava-Jato, comandada pelo ex-juiz Sérgio Moro.

Mas, se no passado o coronelismo eletrônico (Aires; dos Santos, 2023) dos grandes impérios nacionais da comunicação (Wu, 2012) era quase irrestrito, na contemporaneidade o poder desses grupos encontra-se ameaçado pelas big techs (Morozov, 2018) e pela fragmentação das audiências. No Brasil, 79% da população acessa notícias via redes sociais e apenas 43% confiam na mídia (Carro, 2024). Essa rivalidade entre as big techs e as organizações de mídia foi evidenciada pelo PL das Fake News: em editorial (Aprovação, 2023), o Grupo Globo, avesso ao tema da regulação da mídia enquanto liderava o mercado, apoiou o projeto de lei, que prevê a regulação de plataformas e a remuneração das organizações jornalísticas pelo conteúdo, além da responsabilização das big techs pela desinformação e discurso de ódio. Não é à toa, já que nas redes sociais, o regime de visibilidade das notícias depende cada vez mais dos algoritmos programados pelas big techs, limitando o poder dos editores na proposição de uma agenda em comum de debates para a sociedade.

Nesse contexto, em que o agendamento (McCombs, 2009) vem perdendo força para a agenda invertida (Saperas, 2020), para a qual concorrem tanto os meios da legacy media quanto os cidadãos, através das plataformas digitais, é necessário atrair e manter a atenção das audiências (Zelizer, Boczkowski e Anderson, 2021), demandando adaptações dos grupos de mídia tanto em relação a novos formatos quanto a modelos de negócios que possam garantir a sustentabilidade dos meios, bem como seu impacto público.

Este dossiê acolhe pesquisas sobre as questões mencionadas, sob uma perspectiva crítica, que podem girar em torno dos seguintes eixos temáticos (mas não exclusivos):

-  As transformações no jornalismo e seus suportes, na passagem do analógico ao digital: jornalismo impresso, radiojornalismo, telejornalismo e jornalismo digital
- Jornalismo e democracia
- Jornalismo e credibilidade
- Jornalismo, discursos de ódio e desinformação
- Jornalismo, plataformas e a influência na esfera pública
-  Jornalismo e impacto público
- Regulação de plataformas e de empresas de mídia
- As consequências da plataformização para o jornalismo, organizações e públicos
- Transformações nos modelos de negócio e gestão das empresas jornalísticas 

Referências:
AIRES, J.; DOS SANTOS, S. Coronelismo eletrônico não é uma metáfora: categorização da radiodifusão brasileira. E-Compós, v. 26, 2022.
APROVAÇÃO do PL das Fake News será avanço civilizatório. O Globo, 2 mai. 2023.
CARRO, R. Digital News Report 2024. Brazil. Reuters Institute for the Study of Journalism, 2024.
MC COMBS, M. A Teoria da Agenda: a mídia e a opinião pública. Petrópolis: Vozes, 2009
MOROZOV, E. Big techs: A ascensão dos dados e a morte da política. São Paulo: Ubu editora, 2018.
SAPERAS, E. Novas direções na investigação sobre o agendamento – os processos de agendamento na era digital. In: CAMPONEZ, C; FERREIRA, G.B.; RODRIGUEZ-DIAZ, R. (Orgs.) Estudos do agendamento: teoria, desenvolvimentos e desafios - 50 anos depois. Covilhã: LabCom Books, 2020, p.171-208.
WU, Tim. Impérios da comunicação: do telefone à internet, da AT&T ao Google. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
Zelizer, B.; Boczkowski, P.; Anderson, C.W. The Journalism Manifesto (The Manifesto Series). Cambridge, UK: Polity, 2021.

 

2. Comunicação e Memória: perspectivas teóricas e materialidades

Editoras: Ana Paula Goulart Ribeiro (UFRJ), Izamara Bastos Machado (Fiocruz), Rachel Bertol (UFF) 

Prazo para envio: 26.05.2025
Publicação:  setembro de 2025 

Chamada:
As formas contemporâneas de memória são moduladas, em grande parte, a partir dos usos cotidianos das mídias. Atentos a essas articulações, os estudos sobre comunicação e memória têm se constituído num campo fértil de investigação nas últimas décadas. O debate em torno do tema se desdobra em abordagens múltiplas, tanto em termos das perspectivas teóricas adotadas, quanto dos temas e problemáticas pesquisadas. Nesse sentido, este dossiê se dispõe a acolher trabalhos que explorem as diversidades de possibilidades de investigação. São bem-vindos textos que, a partir de diferentes olhares sobre a relação entre memória e comunicação, tratem de questões relativas aos tópicos a seguir (não de forma restrita a estes):

- Usos políticos do passado, trauma e testemunho
- Temporalidades e historicidades nos processos comunicacionais 
- Práticas jornalísticas, fotográficas e audiovisuais 
- Mídias digitais e redes sociais 
- Silêncios, negacionismos, esquecimentos e reparação 
- Ativismos coletivos, corpo e performances 
- Formas da nostalgia e da melancolia 
- Comunicação e saúde
- Arquivos e contra-arquivos