“Glória a quem trabalha o ano inteiro?”
notas sobre os “barracões” do carnaval carioca
DOI:
https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v11i21.49499Palavras-chave:
escolas de samba, Cidade do Samba, barracão, precariedade, Rio de JaneiroResumo
Sem a pretensão de encerrar conclusões, o trabalho lança um olhar panorâmico para a cadeia produtiva dos desfiles das escolas de samba da cidade do Rio de Janeiro, tomando a precariedade como chave interpretativa, a fim de questionar os limites da ideia de “profissionalização” atrelada ao complexo fabril da Cidade do Samba (CdS), inaugurado em 2006. Pretende-se, de um modo geral, observar até que ponto o discurso da “romantização do precário” serve para validar uma série de riscos e abusos atrelados às relações trabalhistas que alicerçam a feitura do “maior show da Terra”. De início, em diálogo com os cadernos de campo do antropólogo Ricardo José Barbieri e de outros autores que transitam pelo “mundo do samba”, são apresentadas reflexões sobre a categoria “barracão”, desvelando-se um histórico quadro de precarização espacial (e de graves acidentes, o que tem gerado sucessivas interdições) que costura diferentes espaços da geografia carioca e que desnuda relações de poder ligadas a múltiplos atores sociais, do poder público à contravenção. Depois, são enfocadas as relações trabalhistas que se entrechocam no interior desses espaços, com base em relatos de trabalhadores das “fábricas do samba” (Marina Vergara, escultora, e Rafael Vieira, pintor de arte) cotejados com os estudos etnográficos de Maria Laura Cavalcanti, anteriores à inauguração da CdS. Nesse ponto, são brevemente debatidos aspectos como a existência ou não de contratos formais, a avalanche de dívidas trabalhistas,o machismo e a insalubridade reinantes. Por fim, diante do contexto pandêmico de Covid-19 e do cancelamento do carnaval de 2021, algo inédito em quase 100 anos de evento festivo, o artigo observa ações idealizadas para dar assistência aos trabalhadores da folia, milhares de profissionais que se viram à deriva, mergulhados na instabilidade.
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