“A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro, diversão e arte”

possibilidades de uma economia criativa alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em Florianópolis

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v15i28.65571

Palavras-chave:

Hip-hop, economia criativa, economia, alternativa economica

Resumo

Nos últimos anos, a economia criativa tem se destacado como uma alternativa para o reposicionamento econômico de países em um cenário de desindustrialização. Esse conceito valoriza a integração de elementos culturais e simbólicos na produção de bens e serviços, com foco na geração de empregos, inovação e crescimento. No entanto, a economia criativa também revela uma arena complexa e heterogênea, onde interesses diversos buscam definir quais práticas culturais fazem parte desse modelo, frequentemente excluindo manifestações que não se alinham à lógica do mercado. Especificamente no contexto da cidade de Florianópolis, tem se fortalecido um discurso em torno da economia criativa no qual a perspectiva de cultura está fortemente orientada para uma ideia de mercado, sendo valorizada a partir de seu potencial em gerar resultados econômicos e agregar valor ao desenvolvimento e crescimento da cidade, o qual tende a excluir e marginalizar setores criativos, incluindo o setor cultural, que não possuem um alinhamento à essa lógica. Neste contexto, o movimento hip-hop em Florianópolis surge como um exemplo de expressão cultural que desafia as normas estabelecidas pela economia criativa dominante. Tendo em vista essas considerações e inspirado na perspectiva real ou substantiva de economia proposta por Polanyi (1976) este artigo busca analisar as práticas artísticas e organizativas do movimento hip-hop em Florianópolis e refletir sobre como essas práticas podem contribuir para a construção de uma economia criativa alternativa na cidade. Para isso, foi conduzido um estudo qualitativo a partir da realização de um estudo de caso sobre o movimento hip-hop em Florianópolis, com a coleta de dados por meio de observação participante, 24 entrevistas semi-estruturadas e análise de documentos. A partir da análise feita acerca das práticas artísticas e organizativas do movimento hip-hop em Florianópolis foi possível identificar elementos que apontam para uma outra forma de economia, que pode ser vista como uma perspectiva alternativa de economia criativa, distinta da perspectiva dominante atualmente promovida na cidade. As práticas do hip-hop, por outro lado, oferecem uma visão distinta sobretudo por se aproximarem da noção substantiva de economia, destacando aspectos como a importância da solidariedade, da coletividade, do apoio mútuo, da confiança e da possibilidade de autossustentação.

 

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Biografia do Autor

Alice Hübner Franz, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutora em Administração pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Integrante do Observatório da Realidade Organizacional, SC (UFSC).

Eloise Livramento Dellagnelo, Universidade Federal de Santa Catarina

Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina. Docente do Programa de Pós-graduação em Administração (PPGAdm) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisadora do Observatório da Realidade Organizacional, SC (UFSC).

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Publicado

2025-07-07

Como Citar

Franz, A. H., & Dellagnelo, E. H. L. . (2025). “A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro, diversão e arte” : possibilidades de uma economia criativa alternativa a partir das experiências do movimento Hip-Hop em Florianópolis. PragMATIZES - Revista Latino-Americana De Estudos Em Cultura, 15(28), 234-259. https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v15i28.65571

Edição

Seção

Dossiê 28: Hip-Hop no Brasil: a produção de sentidos e as transformações da cult