Inventar é preciso

as interfaces entre arte e saúde mental no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) de Campos dos Goytacazes / RJ

Autores

  • Thalita Amaral Mattiuzzi Universidade Federal Fluminense (UFF) – Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil
  • Luana da Silveira Universidade Federal Fluminense (UFF) – Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil

Palavras-chave:

Arte, Saúde mental, Oficinas, CAPSi

Resumo

A arte tem sido dispositivo de cuidado em oficinas que promovem saúde de forma humanizada, em que não se separa os aspectos psíquicos, orgânicos e sociais do sujeito, uma vez que há a articulação de diversos saberes técnicos e populares, a fim de ampliar a concepção do processo de saúde-doença.  Nessa perspectiva, por meio de novas formas de fazer clínica, a utilização de recursos artísticos no CAPSi (Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil) para crianças e adolescentes com demandas em saúde mental, torna-se ferramenta ou estratégia de cuidado ampliado, uma vez que as oficinas oferecem um espaço para que o sujeito, em sua singularidade e historicidade, possa entrelaçar suas dimensões psíquicas com suas dimensões políticas, na intersecção do campo da subjetividade e da cidadania. A intervenção proposta no presente trabalho, através das oficinas terapêuticas, que envolvem pinturas, desenhos, contação de histórias, esculturas, entre outros, visa articular saberes e práticas do Grupo de Pesquisa-Intervenção em Saúde Mental e Justiça (GPISMJ) da Universidade Federal Fluminense- Campos dos Goytacazes, na perspectiva de integralizar o cuidado, a fim de propor um tratamento em Saúde Mental que busque a subjetivação e autonomia para as crianças e adolescentes da rede. As oficinas são realizadas semanalmente, e a cada encontro nota-se o quanto através das atividades lúdicas as crianças e adolescentes conseguem compreender o Capsi enquanto um espaço de pertencimento, troca e principalmente cuidado. Dessa forma, é a partir dos momentos de criação que os usuários conseguem elaborar e compartilhar sobre suas questões, sinalizando como o lúdico é terapêutico e demonstrando que a promoção de saúde não é meramente técnica, mas sim de forma integral, ampla e afetiva. Assim, esse projeto é uma proposta de cuidado que busca superar a racionalidade médica como prática hegemônica e a falta de estímulo à participação social dos usuários dentro do possível.

Biografia do Autor

Thalita Amaral Mattiuzzi, Universidade Federal Fluminense (UFF) – Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil

Graduanda em Psicologia pela UFF.

Luana da Silveira, Universidade Federal Fluminense (UFF) – Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil

Doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) – Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

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Publicado

2024-12-30

Como Citar

MATTIUZZI, T. A.; SILVEIRA, L. DA. Inventar é preciso: as interfaces entre arte e saúde mental no Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) de Campos dos Goytacazes / RJ. UFF & Sociedade, v. 4, n. 5, p. 1-15 e040517, 30 dez. 2024.