“Uma belíssima flor que nasceu do brejo”: tradição e reconhecimento no congo da Barra do Jucu, Vila Velha (ES)
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i1.a62045Palavras-chave:
Cultura popular, Bandas de Congo, Reconhecimento, Barra do Jucu.Resumo
Analisa os processos e relações socioambientais das Bandas de Congo do bairro da Barra do Jucu em Vila Velha, no Espírito Santo, a partir da concepção do reconhecimento como realização. No decorrer das mudanças resultantes do processo de modernização econômica do município de Vila Velha, o Congo, uma das referências da cultura popular do Espírito Santo, se manteve presente como reafirmação da identidade local no bairro da Barra do Jucu. A partir da perspectiva da Ecologia Política, esta pesquisa realiza um estudo pautado pela correlação entre cultura e a questão do reconhecimento. Para tanto, se apoia nos preceitos da Teoria do Reconhecimento para compreender os processos de “institucionalização” da tradição e seus reflexos na autorrealização dos integrantes das Bandas de Congo. Em sua abordagem metodológica qualitativa, em um campo com observação participante, descreve a produção simbólica bem como os sentidos culturais atribuídos pelos grupos que mantêm viva essa tradição, utilizando-se para isto de entrevistas discursivas. Assim, elenca os elementos que demonstram o bairro Barra do Jucu tem como principal elemento de identidade das Bandas de Congo, tidas como prática cultural de forma a compreender em que medida tal manifestação se caracteriza como estratégia para o reconhecimento social dos seus praticantes perante a comunidade local.
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