O condomínio fechado como personagem em Os Outros: uma entrevista com Lucas Paraizo
DOI:
https://doi.org/10.22409/antropolitica2025.v57.i3.a67923Palavras-chave:
Dramaturgia, Audiovisual, Conflito urbano.Resumo
A entrevista com o roteirista Lucas Paraizo, celebrado por sua autoria em projetos audiovisuais que tensionam iniquidades e relações de poder estruturantes da sociedade brasileira, tem como foco a série Os Outros (Globoplay, 2023–2025). Conversamos sobre as estratégias utilizadas por Paraizo e sua equipe para construir um enredo dramático em que o espaço condominial assume protagonismo narrativo, funcionando como metáfora de contradições sociais e subjetivas. Ao mesmo tempo infraestrutura material e simbólica, na série, os condomínios assentam-se em valores, crenças e discursos que sustentam e moldam uma organização social baseada no medo da alteridade. Ele nos conta sobre os processos reflexivos que levaram a desenhar, ao longo de 24 episódios, um enredo no qual os conflitos entre vizinhos articulam diferentes formas de violência — física, simbólica, psicológica — e, ao extrapolarem o espaço doméstico, refletem disputas mais amplas sobre religião, autoridade e pertencimento. Assistindo ao desenrolar da trama, percebe-se como muros, câmeras e dispositivos de segurança privada possibilitam a esses enclaves urbanos produzirem fronteiras que, embora densas, revelam-se porosas e atravessadas por tensões internas e externas que colocam em xeque o ideal de controle e harmonia. Argumentamos que Os Outros oferece uma plataforma para se pensar criticamente sobre as formas contemporâneas de convivência urbana no enlace entre fragmentação socioespacial e intersubjetividades em conflito.
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